Metrô de SP muda nome de futura estação de educador Paulo Freire para bandeirante Fernão Dias

Mudança se deve à pesquisa de opinião pública feita com moradores, segundo a companhia; vereadora do PSOL entra com ação no ministério público para barrar a medida

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Por Caio Possati

A futura estação Paulo Freire, prevista para a expansão da Linha 2-Verde do Metrô de São Paulo, deverá receber o nome do bandeirante Fernão Dias, que ficou conhecido na história do Brasil como “Caçador de Esmeraldas” e praticante da escravização indígena no século 17. A mudança foi revelada pelo jornal Folha de S.Paulo nesta terça-feira, 14, e confirmada pelo Estadão.

A Companhia do Metropolitano de São Paulo (Metrô), que vinha se referindo à estação com o nome do educador Paulo Freire em comunicados oficiais, afirma que a escolha por Fernão Dias foi definida ainda em 2022, por meio de uma pesquisa de opinião feita com moradores do local onde a estação vai funcionar – na Avenida Educador Paulo Freire, na zona norte de São Paulo, e próxima da Rodovia Fernão Dias.

Paulo Freire, patrono da educação brasileira, foi e continua sendo um dos educadores mais prestigiados do mundo. Foto: Leonardo Castro/Estadão

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A enquete, segundo a companhia, terminou com 57% da preferência para Fernão Dias, 29% para Paulo Freire e 14% para o nome Parque Novo Mundo.

“O Metrô esclarece que o processo de escolha dos nomes de futuras estações é realizado a partir de critérios técnicos, relacionados à localização do futuro equipamento e características que facilitem a identificação dos usuários”, disse a companhia por meio de nota.

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“Para isso”, completou o órgão, “é realizada uma análise toponímia dos locais, além de uma pesquisa de opinião com critérios e metodologias padronizadas. Para a estação em questão, todo esse processo foi concluído em 2022 ainda sob a gestão anterior”.

A reportagem questionou o Metrô sobre a quantidade de pessoas que participaram da enquete e também quanto tempo a pesquisa ficou disponível para ser respondida. Outro questionamento feito foi sobre os motivos de a companhia ter, em diferentes oportunidades, se referido à estação com o nome do Paulo Freire antes de fazer a consulta popular. Porém, a empresa não retornou até a publicação deste texto.

Movimentação na estação Consolação, da Linha 2-Verde do Metrô Foto: Dainel Teixeira/Estadão

Ainda nesta terça-feira, a vereadora do PSOL Jussara Basso entrou com uma representação no Ministério Público de São Paulo (MP-SP) para barrar a mudança.

“Nós não aceitamos mais esse tipo de homenagem; representações que não representam a maioria da população brasileira; a maioria é originária, é indígena, é afro-brasileira, é afrodescendente”, disse a parlamentar em um vídeo publicado em suas redes sociais pouco depois de protocolar uma denúncia ao MP.

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Por ter se mostrado simpatizante e inclinado aos ideias de esquerda quando era vivo – e crítico do regime militar –, Paulo Freire costuma ser atacado por aliados e simpatizantes do ex-presidente Jair Bolsonaro.

“Nós precisamos que nossos ídolos sejam homenageados. A rua precisa se chamar Paulo Freire, Zumbi dos Palmares, entre tantos outros que temos”, afirmou Jussara. “Não queremos mais nomes de ruas, nomes de estação, linhas de ônibus homenageando bandeirantes.”

Fernão Dias foi conhecido como Caçador de Esmeraldas pela busca por pedras e minerais valiosos durante suas expedições pelo interior do Brasil. Para realizar suas atividades como bandeirante, se dedicava à exploração e escravização indígena, contrariando os desejos dos jesuítas que se aproximavam dos povos originários, na época, para catequização e ampliação da religião católica.

Quem foi Paulo Freire

Patrono da educação brasileira, o pernambucano Paulo Freire é referência mundial na área da educação por sua obra e metodologia de ensino, sobretudo na atividade de alfabetização. Foi perseguido na Ditadura Militar e se exilou no Chile, onde escreveu uma de suas mais notórias obras, a Pedagogia do Oprimido, em 1968.

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Antes de retornar ao Brasil em 1980 – após 16 anos exilado –, Paulo Freire deu aulas em Harvard, nos Estados Unidos, e foi consultor especial do Departamento de Educação do Conselho Mundial das Igrejas, em Genebra, na Suíça. Em São Paulo, foi nomeado secretário de Educação do município, em 1989, na gestão da então prefeita Luiza Erundina.

Antes de morrer, aos 76 anos, Paulo Freire recebeu inúmeros prêmios, condecorações e reconhecimento pela sua contribuição para a educação. Ele foi homenageado com o título de doutor Honoris Causa por 27 universidades diferentes no mundo.

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