Moradores do entorno do Parque Chácara do Jockey, na Vila Sônia, zona oeste de São Paulo, reivindicam que uma das entradas da futura estação do metrô da Linha 4-Amarela seja transferida para outro local, fora do parque.
O motivo é a retirada de cobertura verde para a construção do acesso à rede de transporte, segundo representantes do Movimento Parque Chácara do Jockey e do Fórum Verde Permanente. Eles defendem que a entrada seja em outro local.
Está prevista a desapropriação de quase 500 m² do parque para a construção da entrada - 0,35% da área total do parque. O governo estadual e a ViaQuatro, concessionária responsável pela Linha Amarela, dizem que o projeto ainda está em fase de estudos (leia mais abaixo).
As estações Chácara do Jockey e Taboão da Serra, na região metropolitana, estão nos planos de expansão da Linha 4, com previsão de início das obras até o fim do ano e operação a partir de 2028. O governo assinou o aditivo do contrato para os estudos de expansão em junho.
O pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP) Ivan Maglio, engenheiro especialista em impacto ambiental, elogia a expansão da Linha Amarela do metrô na região, mas critica a intenção do projeto de interferir na fauna e flora da área, bem como de aumentar a circulação de pessoas na entrada do parque.
“É bom ter metrô perto do parque, facilita o acesso de mais gente. Mas para que fazer uma intervenção dentro do parque só para economizar um pedacinho de terreno e prejudicá-lo? Se quer uma área verde preservada, não pode ficar pondo coisas nela”, diz ele, membro do Fórum Verde Permanente.
Francisco Bodião, conselheiro gestor do Parque Chácara do Jockey, também destaca a preocupação ambiental. “Entendemos que a primeira alternativa nunca deve ser a supressão de uma área verde ou de ativo ambiental para a construção do que quer que seja”, diz ele, que lembra ainda da emergência climática e dos riscos do aumento da área impermeabilizada do solo.
“É assustadora a naturalização em se degradar uma área verde consolidada, que recebeu investimento público e que representa importante espaço de encontro e convívio dos munícipes e usuários do parque”, diz o abaixo-assinado criado contra o projeto, que já tem mais de 2,4 mil assinaturas.
Retirada de árvores preocupa
Relatório ambiental preliminar encomendado pela ViaQuatro para analisar os impactos da instalação da estação concluiu pela viabilidade ambiental do projeto. Aponta, porém, que a obra implicaria na retirada de árvores.
“A necessidade de supressão de até 129 indivíduos arbóreos não apresentará elevada relevância do ponto de vista de conservação da biodiversidade, uma vez que representa espécies corriqueiras a áreas antropizadas, em sua maioria, exóticas, e pouco expressivas em termos tanto quantitativos quanto qualitativos. Dentre as espécies nativas, nenhuma se encontra ameaçada de extinção no Brasil”, diz o documento.
Bodião questiona ainda o impacto na pista de skate do parque, ambiente conhecido por sediar eventos e atrair os praticantes do esporte na cidade. Com mais de 1,3 mil m², é a maior pista de skate da capital paulista e a terceira maior do Brasil.
Como está localizada próxima da entrada principal do parque, onde ficaria a saída secundária do metrô, há receio de que a pista seja afetada. O relatório ambiental preliminar diz que o projeto foi pensado para não interferir no funcionamento da estrutura.
O documento também fala em ganhos à acessibilidade ao parque, “contribuindo para que mais pessoas possam utilizá-lo como instrumento de lazer, práticas esportivas e descanso aos finais de semana”.
Bodião, por outro lado, afirma que o acesso do metrô ao lado do parque - em vez de dentro dele - não diminuiria o acesso ao mesmo. Uma estação fora do parque também seria mais útil para a população que usa o transporte para o trabalho, mais frequente do que para lazer, argumenta.
Já Maglio levanta a preocupação com a profundidade do túnel que será escavado para a passagem do metrô. O engenheiro explica que construções subterrâneas mais profundas, que atinjam a parte rochosa do subsolo, são mais seguras e evitam o impacto ao lençol freático.
Tal impacto poderia prejudicar a vegetação local e causar o rebaixamento do solo, segundo o especialista. Um túnel de maior profundidade também é mais seguro e evita impacto nas casas ao redor da obra, afirma o especialista.
Governo e concessionária dizem fazer estudos
A Secretaria de Parcerias em Investimentos (SPI) do Governo do Estado de São Paulo não informou a profundidade do túnel planejada para a estação, pois afirma que o projeto ainda está sendo estudado e a cota do túnel de via a ser executada ainda não foi definida. “Detalhes do projeto, como local exato da estação e outros pontos, só poderão ser confirmados após os estudos de viabilidade ficarem prontos”.
Já a ViaQuatro diz que “as definições do projeto, serão determinadas após a realização de estudos, que abrangem a elaboração de projeto executivo, de licenciamento ambiental, de demanda e de utilização de áreas públicas e privadas, fundamentais para viabilizar a extensão da Linha 4-Amarela”.
A Prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente, informou que foi convidada para participar de uma Reunião Pública pelo Grupo CCR (responsável pela ViaQuatro) para assistir a apresentação preliminar de projeto de construção da saída da futura estação Chácara do Jockey.
“Se posteriormente for formalizada proposta que envolva o parque”, informa a gestão municipal, a secretaria irá analisar.
O governo do Estado, por meio da SPI, e a ViaQuatro agendaram, para quinta-feira, 18, uma reunião pública sobre a extensão da Linha Amarela de metrô, quando será apresentado o projeto e esclarecidas eventuais dúvidas da população sobre o empreendimento.
Área do Jockey Club também pode virar parque
As atividades do Jockey Club ganharam os holofotes no último mês por causa da aprovação de uma nova lei que proibiu a corrida de cavalos na cidade, suspensa depois pela Justiça. Pelo entendimento do desembargador que suspendeu a norma, a lei municipal não pode revogar uma regra federal.
A área do Jockey foi incluída no quadro de parques com implementação preferencial conforme a revisão do Plano Diretor, válida desde o ano passado. Nessa lei, o futuro parque está com o nome de João Carlos Di Genio, empresário fundador do grupo educacional Unip/Objetivo, que morreu em 2022.
Na semana passada, o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), afirmou que tem a intenção de criar um serviço gratuito de equoterapia na área do Jockey Club caso o espaço se torne parque.
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