Prefeitura de SP planeja mirante com vista para ligação Leste-Oeste na Rua Augusta

Projeto também inclui 'jardim de chuva', para filtragem, armazenamento e reúso de água na zeladoria urbana

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Foto do author Priscila Mengue

A Prefeitura de São Paulo planeja a transformação de um espaço sem uso na Rua Augusta e em frente à Praça Franklin Roosevelt, na região central, em um mirante, espaço de lazer e área de conscientização socioambiental. A intervenção também inclui uma escadaria de acesso à Rua Avanhandava. A expectativa é de que a implementação seja entregue no próximo ano.

A proposta foi batizada de “Belvedere Roosevelt”, com o objetivo de valorizar a vista da ligação Leste-Oeste, de edifícios de parte do distrito da Bela Vista e da praça. Está previsto também um “jardim de chuva” ao longo da escadaria, para filtrar e armazenar parte da água da chuva, a fim de ser reutilizada em ações de zeladoria urbana.

A proposta foi batizada de “Belvedere Roosevelt”, com o objetivo de valorizar a vista da ligação Leste-Oeste, de edifícios de parte do distrito da Bela Vista e da praça Foto: DANIEL TEIXEIRA/ ESTADAO

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“Hoje é um lugar subutilizado. Será um ponto turístico, o novo mirante da cidade, um mirante sustentável”, descreve Cesar Azevedo, presidente da SP Urbanismo, ligada à Prefeitura.  Ele aponta que o projeto conversa com outras mudanças promovidas e estudadas pela gestão municipal que visam a “requalificar” a região central, como a remodelação da “esquina histórica” (das Avenidas Ipiranga e São João) – cuja implantação está prevista para começar nesta semana –, o novo Vale do Anhangabaú, o Parque Augusta, a reforma dos calçadões do triângulo histórico e a lei do retrofit (de incentivo à recuperação de edifícios).

O custo estimado é de R$ 3,9 milhões. Azevedo argumenta que a tendência é de que este valor seja mais baixo, pois será selecionada a empresa que propor a oferta de menor valor. A licitação da execução da obra (com previsão estimada em nove meses) e elaboração do projeto executivo chegou a ser publicada em fevereiro, mas foi suspensa por tempo indeterminado pela falta do consulta ao Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat). Oaval é exigido pelo local estar na área envoltória de um antigo colégio tombado. 

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A proposta abrange um espaço remanescente da implementação da ligação Leste-Oeste e da Praça Roosevelt, nas proximidades da esquina das Ruas Augusta e Martinho Prado, hoje gradeado, além de uma escadaria utilizada principalmente para acessar a Rua Avanhandava e um sacolão. A parte do mirante (de um total de 1071,9 m²) fica em uma laje sobre o viaduto, que será isolada por guarda-corpos de vidro.

O projeto contempla a implantação de arquibancada edeque de madeira plástica, placas de energia fotovoltaica, turbina eólica, contêiner de apoio (institucional ou comercial, que poderá funcionar, por exemplo, como loja ou cafeteria), nova iluminação, bancos e outros itens de mobiliário urbano. 

A previsão é incluir uma escultura cinética (em movimento), renovar o mural já pintado em uma parte da laje e disponibilizar internet wi-fi e tomadas USB. Além disso, fala-se em realizar atividades lúdicas e tornar o espaço uma referência de sustentabilidade.

A intervenção também inclui uma escadaria de acesso à Rua Avanhandava. A expectativa é de que a implementação esteja pronta no próximo ano Foto: DANIEL TEIXEIRA/ ESTADAO

Serão mais de 3 mil novas mudas, a maioria nativas, incluindo 10 ipês-amarelos e três açaízes. Parte do paisagismo integrará o “jardim de chuva”, junto à escadaria, que é um tipo de estrutura alinhada às chamadas “soluções baseadas na natureza”, cujo objetivo é reter parte da água das precipitações para ser filtrada (com redução de poluentes, mas não o suficiente para o consumo humano), armazenada e posteriormente utilizada para a limpeza pública. Outro impacto poderá ser na redução de alagamentos.

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A água será direcionada para o jardim por uma boca de lobo, que será implementada na sarjeta da Rua Augusta. A estrutura consiste em camadas de substrato, pedras, entulho da obra reaproveitado e areia abaixo de plantas “macrófitas” (aquáticas), que metabolizam poluentes. Parte das camadas poderá ser vista por meio de um muro de vidro, chamado de “janela educativa”, assim como haverá placas de sinalização com informações.

O projeto foi elaborado com base em referências variadas, como o Cais de Sorenga, em Oslo, e o Urban Bloom, de Xangai, que revalorizaram áreas então subutilizadas. Outra mudança prevista é a elevação da altura da travessia de pedestres da Rua Augusta para a Praça Roosevelt, para o mesmo nível da calçada. A medida é uma forma de “traffic calming”, de priorização da circulação de pessoas a pé e ampliação da segurança viária.

Presidente da Associação dos Moradores da Praça Roosevelt (AmoPraca), o engenheiro Fernando Mazzarolo, de 62 anos, considera bem-vindos projetos que ajudem a embelezar e tornar o centro ainda mais agradável. “O lugar (que receberá o belvedere) hoje é um vácuo (sem uso). É um projeto que parece bacana, interessante.”

Ele destaca, contudo, que não basta apenas criar, mas também é preciso haver investimento na manutenção. Como exemplo, cita dificuldades de manutenção no mobiliário e paisagismo da Roosevelt. “Não adianta só fazer, tem de manter”, diz.  

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A proposta abrange um espaço remanescente da implementação da ligação Leste-Oeste e da Praça Roosevelt, nas proximidades da esquina das Ruas Augusta e Martinho Prado, hoje gradeado por medidas de segurança Foto: DANIEL TEIXEIRA/ ESTADAO

Projeto precisa estar conectado com o entorno, dizem urbanistas

Urbanistas ouvidos pelo Estadão destacam que o projeto precisa estar conectado ao entorno, especialmente à praça, potencializando as vocações locais. Professora da pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da PUC-Campinas, Maria Cristina Schicchi comenta que as obras da ligação Leste-Oeste acabaram deixando “espaços residuais” como o do possível belvedere.

“Vejo como positivo o tratamento dessas áreas residuais. É importante um tratamento de integração com a praça e com a própria Rua Augusta”, comenta, embora avalie que talvez sejam necessários ajustes.“É uma possibilidade de humanizar a via pública naquele trecho".

O também urbanista Marlon Paiva, professor na mesma universidade e pesquisador da trajetória da Praça Roosevelt no doutorado em andamento, considera que o projeto é bem-vindo, mas avalia que talvez não fosse necessário incluir tantos elementos, tanto pelas dimensões do território quanto pelo o que há na região. Ele cita o exemplo da possibilidade do contâiner funcionar como café, embora existam diversos na região, enquanto o espaço poderia ser aproveitado de outras formas.

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Celso Aparecido Sampaio, professor de Urbanismo na Mackenzie, diz que é importante dar uso para espaços residuais, mas considera que os investimentos em melhorias urbanas seguem concentrados na região central, embora a maior demanda esteja na periferia. 

"Há uma hipervalorização do espaço público sempre no mesmo lugar. São R$ 100 milhões no Anhangabaú, agora mais de R$ 3 milhões na Roosevelt", argumenta. "A balança deveria pesar onde tem menos infraestrutura."

Ele também comenta sobre a valorização da vista para a ligação Leste-Oeste com a chegada do mirante, o que considera um contrassenso ao se considerar, por exemplo, que o lado oposto da praça convive há anos com a discussão de demolição do Elevado Presidente João Goulart, o Minhocão, por exemplo. "Revela essa condição rodoviarista imposta pra cidade desse meados do século 20 (de priorizar e valorizar o carro)."

Quatro anos depois, bulevard entre Parque Augusta e Roosevelt não foi criado

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O bulevard da Rua Gravataí anunciado há quatro anos como futura ligação entre a Praça Roosevelt e o Parque Augusta ainda não foi implementado. O projeto integra o acordo firmado entre a Prefeitura e as construtoras que detinham os terrenos em que o parque foi criado. A demora tem motivado insatisfação entre parte dos ativistas da criação do parque. 

Em nota, a Secretaria do Verde e do Meio Ambiente alegou que “foram iniciadas as tratativas intersecretariais necessárias para dar início à confecção” do projeto. O texto não explicou o porquê de a obra não ter sido executada ainda, mas destaca que o valor necessário, de R$ 250 mil, foi depositado pelas empresas.

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