Era para ter sido 2013, ficou para 2014, um legado da Copa do Mundo, não deu. Foi para 2016, depois para o final de 2017, 2018, 2019, dezembro de 2020, 2022, este ano. Após tantas idas e vindas, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), disse na semana passada que vai romper o contrato com o consórcio responsável pela construção da Linha 17-Ouro do Monotrilho. Assim, a previsão do Estado agora é a obra acabar em 2024 ou, no máximo, em 2025.
“Vamos rescindir o contrato , vamos punir a empresa e buscar alternativas”, disse Tarcísio, no último dia 2. As opções que estão na mesa do governo são: convocar a terceira colocada na licitação, o Consórcio Paulitec-Sacyr, para continuar a construção ou fazer novo certame – o que atrasaria ainda mais o prosseguimento das obras. O projeto prevê a ligação entre o Aeroporto de Congonhas à estação Morumbi, da linha 9 da CPTM, na zona sul da capital, e inicialmente fazia parte da Matriz de Responsabilidade da Copa, o que lhe dava direito a financiamento especial da Caixa.
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As construtoras Coesa e KPE foram contratadas em 2021 durante a gestão do ex-governador João Doria (então no PSDB). O contrato previa remuneração de cerca de R$ 500 milhões para a construção da via e das estações, mas desde então não avançou muito. Nos últimos tempos, até mesmo os funcionários não eram vistos nos canteiros de obra.
Desde o fim de 2010, mais de R$ 2,4 bilhões foram gastos na obra, que deveria ter sido entregue em 2014. Problemas na execução do projeto não são novidade para essa obra. Após a assinatura original, a Scomi, uma fabricante de trens da Malásia, decretou falência. No fim de 2015, as construtoras Andrade Gutierrez e CR Almeida, que tocavam a obra, tentaram romper o contrato na Justiça, fazendo críticas à gestão por parte do Metrô. No mês seguinte, o Metrô rompeu unilateralmente o contrato.
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Esses atrasos fizeram com que o monotrilho, apresentado como modal “moderno” e com implementação mais rápida que o metrô, ficasse longe da operação.
Para o professor de Engenharia da Universidade Mackenzie Oswaldo Sansone, o atraso não se dá por qualquer tipo de dificuldade técnica, mas por problemas administrativos. “Não é pela parte técnica. As obras enterradas ou aéreas têm suas dificuldades, mas isso é previsto”, afirma.
“É uma frustração muito grande ver esse projeto parar, fomos até ajudando a montar melhorias nas adjacências”, diz Marcos Smetana Lopes, presidente da Associação de Moradores da Vila Cordeiro. “Reformamos três praças na região.”
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Enquanto isso, algumas estações podem até parecer quase prontas, como na Avenida Jornalista Roberto Marinho, na zona sul, mas o tamanho das árvores atingindo o trilho, a falta de acabamento e estruturas envoltas em plástico azul, como as escadas rolantes, mostram que ainda falta muito para um trem correr por ali.
Lopes diz não temer que o monotrilho pronto impacte no volume e no fluxo de pessoas no bairro. Pelo contrário, o presidente da associação de moradores vê prejuízos à região com as obras paradas. “O importante é o bairro estar preparado para um fluxo maior de pessoas”, afirma.
Procurado, o Estado afirma que trabalha para que as obras não fiquem paradas e estuda saídas para o problema. “A atual gestão do governo do Estado empenha esforços para não ter obras paradas e revisa os contratos para a implantação da Linha 17-Ouro. Diferentes alternativas são estudadas para a retomada do ritmo de trabalho ideal das obras civis, desde a aquisição de materiais diretamente pelo Estado à contratação de uma nova construtora”, diz, em nota.
“A conclusão do trecho prioritário da Linha 17 tem o orçamento de R$ 5,1 bilhões para obras civis, compra de trens e instalação de sistemas, dos quais R$ 2,4 bilhões já foram executados nos contratos de obras já feitas, projetos, desapropriações e compra de sistemas como escadas rolantes e elevadores”, completa o Estado.
Procuradas pelo Estadão, as construtoras Coesa e KPE não responderam.