Moradores do centro de SP usam megafones, placas e apitos contra roubos

Casos na capital assustam pela violência empregada e por ações em grupo, como o da chamada ‘gangue da bicicleta’; ataques em condomínios também são relatados

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Foto do author Gonçalo Junior
Atualização:

Moradores e comerciantes buscam alternativas para alertar a população sobre áreas com maior incidência de assaltos na região central paulistana. Megafones avisam quem passeia no Minhocão sobre o risco de assaltos com bicicletas nos fins de semana; condôminos do Largo do Arouche vão usar apitos para espantar os criminosos. Na Santa Cecília, comerciantes colocaram placas em uma praça com a frase “zona de risco – fique atento ao seu celular”. São iniciativas da própria população para combater a criminalidade.

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A placa que avisa os pedestres sobre risco de assalto foi instalada por iniciativa dos comerciantes da Santa Cecília no mês passado na esquina das Ruas Jaguaribe e Amaral Gurgel. À noite, ela ganha luzes e chama ainda mais a atenção. O objetivo é prevenir duas situações. A primeira é o roubo de celulares dos motoristas que param no semáforo – em geral, os ladrões passam de moto e abordam motoristas e passageiros.

Outro local de risco é a calçada. Imagens captadas pelas câmeras de segurança mostram a ação da chamada “gangue das bicicletas”, que rouba e furta as vítimas usando bikes. Em geral, são três criminosos: o primeiro pega o celular da vítima; o segundo inibe a reação da vítima; o terceiro ameaça e coage eventuais testemunhas na calçada. Os alvos são pedestres distraídos, homens, mulheres e idosos.

Placa foi instalada por iniciativa dos comerciantes da Santa Cecília, no mês passado, na esquina das Ruas Jaguaribe e Amaral Gurgel Foto: WERTHER SANTANA / ESTADÃO

“Essa esquina é um ponto crítico para roubo de celulares”, diz Marco Antonio De Marco, presidente do Conselho Comunitário de Segurança (Conseg) da Santa Cecília. Inconformado com os assaltos que acompanhava da janela onde mora, no terceiro andar de um dos prédios do Minhocão, o designer Antonio Souza (nome fictício) decidiu agir. Nos fins de semana, quando o viaduto é aberto ao público, ele costumava ligar um megafone com a seguinte mensagem gravada: “Cuidado com o celular. Trombadinhas na área”. A iniciativa durou dois meses: ele acabou identificado pelos assaltantes e ameaçado.

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O eletricista Valdir Venâncio da Silva, de 48 anos, conhecido como Cafu, vive no bairro há mais de 23 anos. Como administrador da página Grupo Portal Santa Cecília & Barra Funda, Cafu virou uma espécie de porta-voz da região ao produzir e divulgar vídeos sobre os locais que registram maior incidência de roubos."A página fala de tudo o que acontece no bairro, mas as questões de segurança despertam bastante interesse", conta o paraibano de João Pessoa. 

A influenciadora digital Dória de Miranda, de 48 anos, também quer fazer barulho no Largo do Arouche. Os vizinhos do condomínio onde vive, na Rua do Arouche, concordaram com sua proposta de uma compra coletiva de apitos. A ideia é apitar quando os ladrões estiverem agindo nas ruas – é possível ver os assaltos das janelas – e também promover “apitaços” em horários definidos, como 20h ou 22h, para chamar a atenção das autoridades.

“Não posso pensar que não é comigo. Pode ser com um amigo, um parente. A gente precisa fazer algo”, diz a dona de uma marca de roupas plus size. Vídeos gravados pelos moradores, a partir das suas janelas, mostram assaltos principalmente na esquina das Ruas Arouche e Aurora.

De acordo com dados da Secretaria de Segurança Pública, o 78.º DP, nos Jardins, e o 4.º DP, da Consolação, tiveram aumento de casos. Nesta última delegacia, os roubos dobraram, passando de 109 em fevereiro do ano passado para 218 no mesmo mês deste ano. Na capital como um todo, os roubos caíram de 10.916 para 10.617. Mas, para Rafael Alcadipani, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, os números apontam concentração das ações em áreas nobres.

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Moradores relatam que as abordagens estão mais violentas. Rodrigo Salles, presidente do Conseg Jardins e Paulista, conta que os ladrões costumam empurrar e até derrubar idosos para roubar celulares e joias na Avenida Paulista.

A percepção de crimes cada vez mais violentos é a mesma em Higienópolis, Pacaembu e Consolação. “Agora, eles estão armados, com revólveres e facas”, opina Marta Porta, presidente do Conseg da região.

Práticas que já eram comuns agora ganham impulso em algumas regiões, como os roubos em prédios e condomínios. Investigadores do 15.º DP identificam aumento dos casos nos últimos meses. Adolescentes bem vestidos se identificam como moradores, vizinhos, amigos ou parentes dos condôminos. Eles não usam violência para entrar e, em geral, fingem que estão no celular e costumam pegar “carona” com outros moradores na entrada do prédio.

Marta diz que o aumento da criminalidade na região dos bairros de Higienópolis, Pacaembu e Consolação é proporcional à queda do policiamento. “Os policiais estão fazendo o que podem. Aumentou a criminalidade, mas diminuiu a quantidade de policiamento.”

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Dória de Miranda quer apito para alertar autoridades sobre ação de ladrões na região do Largo do Arouche Foto: ALEX SILVA / ESTADÃO

Coronel vê ‘migração’ de criminosos após ações de policiamento

O aumento do número de roubos em algumas regiões da cidade é resultado da atuação da polícia, ou seja, da “dinâmica criminal”. A avaliação é do coronel Álvaro Batista Camilo, secretário executivo da Polícia Militar de São Paulo. “Fizemos operações muito fortes no Morumbi, em Moema e no centro. Com isso, os criminosos procuram outros locais. E o policiamento acompanha”, afirma o secretário ao Estadão.

Nesta semana, a Secretaria de Segurança Pública iniciou a campanha “Capital mais segura”. O objetivo é atuar de maneira mais intensa, com equipes das áreas administrativas , além de tropas especiais. O foco são os crimes praticados de moto.

Sobre as iniciativas de moradores e comerciantes, o coronel Camilo afirma que as informações precisam chegar à polícia. “A gente gostaria que as ações chegassem aos Consegs. Aonde tiver isso (placa), a população pode contar com a polícia para uma ação maior, a fim de que essa insegurança diminua ou seja eliminada”, diz. “As pessoas têm direito de se manifestar. A Polícia entende isso. A gente vê essas ações. É importante a informação chegar para a polícia para que ela possa atuar para mudar a situação”, avalia.

O especialista nega a redução do policiamento em algumas regiões. “Em alguns casos, as pessoas que presenciam ou são vítimas de algum ato de violência ficam impactadas de tal forma que isso traz uma percepção de insegurança e de menos policiamento”, analisa. 

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