Moradores da Vila Madalena, na zona oeste, pedem o tombamento do bairro. A campanha Movimento Pela Vila - Antes que a Casa Caia, lançada há dez dias em um blog próprio, teve a adesão de 763 pessoas em uma semana, média de 109 por dia. A ideia agora é conseguir 6 mil assinaturas e enviá-las ao prefeito Gilberto Kassab (PSD). O objetivo é impedir que a especulação imobiliária ameace o tradicional comércio da Vila e acabe com a identidade da região, conhecida pela boemia e vida cultural.O autor da iniciativa é o fotógrafo Fernando Costa Netto, de 51 anos, morador e sócio dos bares Posto 6 e Patriarca. "Quem vive na Vila Madalena está vendo o bairro ser devorado pelas empreiteiras. Não temos vocação para ser a Vila Olímpia."Organizador da Mostra SP de Fotografia - que em sua 3.ª edição terá trabalhos de 178 fotógrafos em 37 pontos do bairro -, Netto vai aproveitar o evento, que abre no dia 25, para colher assinaturas. O projeto de tombamento, segundo ele, foca arredores das Ruas Wisard e Aspicuelta.Morador do bairro há dez anos, o guitarrista Edgard Scandurra é um dos que assinaram o manifesto: "A Vila Madalena preserva características de bairro tradicional, com muitas casas, que consegue dividir espaço com balada. Acho que a especulação imobiliária vai piorar o tráfego e a qualidade de vida. Vão derrubar casas de mais de 50 anos."A casa da aposentada Maria Inês dos Santos, de 61 anos, também está na mira das construtoras. Mas, ao contrário de Scandurra, ela tem poucas esperanças no tombamento da região e prefere enxergar a questão pelo lado financeiro. "A verticalização não tem volta, estamos sendo esmagados. Só estou esperando um bom preço para vender minha casa", diz ela, que não aceitou proposta de R$ 1 milhão para vender a uma construtora a casa erguida em terreno de 280 m².Viabilidade. Segundo uma ex-conselheira do Condephaat, órgão de patrimônio do Estado, é mínima a chance de se tombar a Vila Madalena. "Tombamento serve para proteger valor histórico e artístico de um bem. Nunca vi ser concedido para impedir construção de prédios", diz a arquiteta, que preferiu não se identificar. "Acho a causa legítima, mas esse não é o instrumento mais adequado. Estão perdendo tempo." Para ela, procurar a Subprefeitura de Pinheiros e vereadores para discutir mudanças na legislação urbanística seria um método mais eficiente.A opinião do urbanista Nabil Bonduki, relator do atual Plano Diretor, vai na mesma linha. Para ele, tombar a Vila Madalena não é a saída adequada para impedir proliferação de prédios. "Não acredito que seja a melhor solução do ponto de vista urbanístico." O principal argumento contra o tombamento, na sua visão, são as falhas na infraestrutura da área. "O bairro tem muitas deficiências. É diferente de um com qualidade urbanística excepcional, no qual você não quer mexer." Persistem ali, por exemplo, irregularidades de calçadas, excesso de fiação, falta de arborização e trânsito desorganizado.Os órgãos de defesa do patrimônio da capital e do Estado, Conpresp e Condephaat, respectivamente, também dizem que tombar o bairro não garantiria restrição aos prédios. Segundo o Condephaat, isso dependeria de estudos e avaliações de conselheiros. Já o pedido de tombamento de um bem, seja qual for, é aberto a qualquer cidadão.
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