GUARUJÁ - O clima é de tensão e medo no Guarujá em meio à operação que a Polícia Militar realiza na cidade do litoral paulista desde o fim da semana passada, após a morte de um soldado das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) na quinta-feira, 27. Moradores relataram ao Estadão tiroteios, temor de sair de casa à noite e comércios vazios.
“Todo mundo está com medo de andar na rua à noite, porque tem muitas viaturas por aí e pode ter confronto entre policial e bandido”, disse Almir Carvalho, morador do bairro Parque Estuário, onde um homem foi assassinado na sexta-feira, 28. “Quem sofre são as pessoas que não têm nada a ver com isso.”
A operação da PM no Guarujá contra o crime organizado deixou dez mortos desde sexta e continuará por pelo menos 30 dias. O suspeito de matar o agente da Rota Patrick Bastos Reis, de 30 anos, se entregou às autoridades.
O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) negou que tenha havido excessos e diz que a polícia atuou de modo “profissional”. Já a Ouvidoria das Polícias do Estado pede investigação sobre a operação e recebeu denúncias de execução e tortura por parte de parentes dos mortos. O secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite, afirmou que haverá investigação, mas disse na manhã desta segunda-feira, 31, que denúncias de tortura e excesso de força policial não passam de “narrativas”.
“‘Tá' feia a situação. Fiquei sabendo que mataram uns aí. A gente que mora no morro ouve que nem é para ficar de bobeira na rua de noite. Sou catador e vejo muitas viaturas por todo lado. Tenho medo de acontecer alguma coisa comigo, mas tenho de trabalhar para ganhar um dinheirinho pelo menos para comer”, contou Fabiano Oliveira, morador do morro da Vila Edna.
Ao menos três tiroteios foram testemunhados durante a tarde desta segunda-feira, 31, segundo relatos ouvidos pelo Estadão. Um deles, conforme relatos, foi na Paecara, a poucas quadras da Avenida Santos Dumont; outro em Conceiçãozinha, nos arredores do terminal rodoviário; e um último na Vila Baiana, próximo da Praia da Enseada.
Viaturas passam em alta velocidade pelas principais ruas da cidade a todo momento. “Está uma insegurança muito grande, todo mundo tenso”, disse um comerciante, que não quis se identificar. “Aqui do lado, por exemplo, tem uma lanchonete que fica sempre cheia. Hoje está tudo vazio.”
Para outros, o sentimento é diferente. “Fico com o comércio aberto ate às 22h e a sensação é de mais segurança, já que tem muitos carros da polícia na rua. O que nos atrapalha é a atuação do pessoal do tráfico. Mas pelo que ouvimos falar estão todos escondidos, porque tem muita viatura passando” disse Walter Simão, dono de uma oficina na entrada do túnel que separa os morros da Vila Júlia e Vila Edna.
Mensagens atribuídas a policiais comemorando as mortes no Guarujá circulam nas redes sociais. Questionada pelo Estadão, a Secretaria de Segurança Pública não esclareceu se investiga a autoria do conteúdo, no qual há, inclusive, suposta atualização sobre o número de mortos e postagens celebrando cada novo óbito.
Derrite justificou as mortes dizendo que a violência parte dos criminosos e a polícia supostamente reage de maneira proporcional a ela. Segundo ele, serão investigadas as imagens das câmeras das fardas dos PMs que participaram da operação.
Entre as oito pessoas mortas na operação deste fim de semana, quatro já foram identificadas e têm passagens pela polícia, segundo o governo.
De acordo com o secretário, o PM utilizava colete a prova de balas quando foi atingido, mas a bala penetrou em seu ombro em um ângulo em que foi possível chegar até o peito do agente. A Polícia Civil apreendeu na noite desta segunda a possível arma de fogo usada na morte do soldado da Rota.
O equipamento, de calibre 9 mm, foi localizado em um beco na região da Vila Júlia após denúncia anônima. A arma ainda irá passar por perícia para atestar se é compatível com o equipamento usado no assassinato do policial. /COLABOROU MARCO ANTÔNIO CARVALHO
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