Os bairros do Morumbi e do Itaim Bibi, na zona sul de São Paulo, foram as localidades da cidade onde os roubos mais cresceram em 2023 na comparação com 2022, de acordo com dados divulgados pela Secretaria da Segurança Pública do Estado. No total, esse tipo de crime teve redução na capital no período, mas em algumas regiões os registros aumentaram.
Foram 133 mil roubos no ano passado ante 142 mil em 2022 em toda a cidade, uma queda de 6,7%. Olhando bairro a bairro, é possível notar que, enquanto alguns tiveram quedas significativas, outros tiveram aumento de ocorrências desse tipo. No geral, 58 dos 93 distritos apresentaram redução de roubos, enquanto o crime subiu em outros 21; em 14, houve estabilidade (com 2% ou menos de variação).
As maiores altas de roubos foram no Portal do Morumbi (37%) e Itaim Bibi (28%), na zona sul, assim como na Aclimação (28%), no centro expandido. O Estadão já havia mostrado que os roubos de celulares no Itaim Bibi, em especial na Faria Lima, estavam frequentes. No Glicério, na região da Aclimação, as gangues de “quebra-vidros” operam.
A maior queda de roubos aconteceu no Butantã (29%), zona oeste da capital, seguido de Parque Bristol (28%), na zona sul, e Teotônio Vilela (26%), na zona leste.
“O resultado obtido na observação dos roubos gerais está muito relacionado ao peso que roubos a transeuntes têm sobre o total de roubos”, afirma o coordenador do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (USP), Marcelo Batista Nery. “Esses roubos tendem a acontecer em locais com grande fluxo de pessoas, tanto ligado ao sistema de transporte, quanto à oferta de serviços e comércio em um dado lugar ou (áreas de locomoção entre bairros residenciais e bairros onde estão os) empregos.”
Por estes motivos, o centro de São Paulo, historicamente, tem um alto índice de roubos – os Campos Elíseos tem o maior número absoluto de roubos (6.199), e, em terceiro lugar, atrás do Capão Redondo, está a Sé (4.334). No fim de semana, um saque a um comércio na região da Cracolândia assustou a vizinhança. O proprietário disse que o negócio vai fechar as portas.
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No Itaim Bibi, o aumento dos roubos pode estar relacionado à volta do trabalho presencial na região da Faria Lima, que concentra o grande centro financeiro da cidade. E no Morumbi, a grande quantidade de condomínios, com entrada e saída de veículos, pode atrair assaltantes, conforme a explicação de Nery.
O especialista diz que o principal fator que leva a um aumento ou diminuição de roubos é a condição socioeconômica da população – quanto mais pobre e desigual é a cidade ou o País, maiores são os roubos, em tese.
Monitoramento
Jorge Rubies, empresário e presidente da Associação Faria Lima, é um dos que percebe o aumento, nos últimos anos, da sensação de insegurança entre aqueles que moram e frequentam a principal via do Itaim Bibi. Um levantamento feito pela própria associação, e repassados ao Estadão, contabilizou ao todo 166 roubos ao longo de 2022, somente na avenida.
Embora ressalte que o local não é tão perigoso como outros pontos de São Paulo, Rubies conta que a principal prioridade da associação que preside é melhorar a segurança da região.
“Nós encomendamos um projeto de uma central de monitoração 24 horas por dia, sete dias por semana”, afirma. “A gente acredita que com essa central, quando for implantada, os índices criminais vão cair e as pessoas vão se sentir bem mais seguras.”
A proposta é instalar câmeras por toda a região da Faria Lima e posicionar agentes para monitorar, de forma ininterrupta, as imagens captadas. O modelo é o mesmo já adotado em outras cidades do interior do Estado, onde, segundo Rubies, apresentou eficácia.
O plano, porém, está apenas no papel e ainda não há uma previsão de quando será adotado. “A gente depende de patrocínio e uma série de outros fatores. Não existe ainda uma data de quando esta central vai estar pronta”, afirma o empresário.
Medidas
Questionada pelo Estadão sobre os dados, a Secretaria de Segurança Pública informou que as policias monitoram os índices de criminalidade em todas regiões da capital e do Estado e “quando identificado uma região com maiores registros de crimes patrimoniais ou contra a vida, são adotadas medidas como o aumento de efetivo policial ou o remanejamento de recursos, de acordo com a estratégia operacional mais adequada para lidar com o problema em questão.”
De acordo com a pasta, ao longo de 2023, 39.140 infratores foram presos ou apreendidos, e 2.438 armas de fogo foram retiradas das ruas, “enfraquecendo as atividades ilícitas em São Paulo”. “A pasta reafirma seu compromisso com a segurança da população, concentrando seus esforços no enfrentamento de diversas formas de criminalidade que afetam diretamente o bem-estar dos cidadãos paulistas.” /COLABOROU CAIO POSSATI
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