O apartamento do engenheiro elétrico Renato Onofre, de 54 anos, ficou quase 20 horas sem luz entre a tarde de segunda-feira, 8, e a manhã de terça, 9, por conta das fortes chuvas que caíram em São Paulo no começo da semana. Passado o sufoco com o restabelecimento da energia, uma nova decepção: um novo temporal causou mais um apagão, às 17h30, que se estendeu pela madrugada e manhã desta quarta-feira, 10.
Nas últimas 45 horas contadas a partir das 15h30 de segunda (horário do primeiro apagão) até 12h30 dia desta desta quarta, momento em que Renato conversou com a reportagem, o engenheiro elétrico, morador do Brooklin, bairro nobre da zona sul da capital, ficou 38,5 horas sem energia elétrica e apenas 6,5 horas com luz disponível no seu apartamento - intervalo entre os dois apagões.
“Nossa alegria durou pouco”, lamentou o engenheiro. “À tarde (na terça-feira) voltou a chover e aconteceu a mesma situação de segunda-feira: um estrondo bem forte e, na sequência, a energia ficou oscilando. É uma situação que não dá para aguentar. Os equipamentos não funcionam, a luz fica piscando. E, com essa variação, o melhor a se fazer é desconectar os aparelhos e desligar disjuntor porque, senão, ai que as coisas queimam”, disse.
A falta de energia no apartamento de Renato começou na tarde de segunda-feira, 8, por volta das 15h30. Ele diz que, minutos antes do apagão, ouviu um estrondo vindo da rua, no que ele acredita que pode ter sido a explosão de um transformador.
Aberto o chamado na Enel, concessionária responsável pela distribuição da energia elétrica em São Paulo, a informação que ele e outros moradores, também afetados pela falta de luz, receberam foi a de que a situação se normalizaria às 23h daquela segunda-feira.
“A energia não foi restabelecida, e não teve visitas da Enel nesse tempo”, diz Renato. “Foram abertos outros chamados durante a madrugada e, na manhã de terça, às 6h, eu tive a informação de que a equipe técnica estaria aqui no bairro para restabelecer o serviço de energia”.
De acordo com Onofre, a distribuição foi restabelecida por volta das 10h30, 15 a 20 minutos depois dos funcionários da distribuidora começarem a fazer os reparos.
No entanto, a nova chuva da tarde de terça-feira provocou mais estragos e Renato Onofre voltou a ficar sem energia elétrica por volta das 17h30, poucas horas depois do primeiro apagão. À reportagem, ele falou que o retorno que tiveram da Enel era de que a energia seria restabelecida até as 23h, mas até as 12h30 desta quarta, a situação ainda continuava sem ser resolvida.
Por trabalhar em home office, a alternativa que o engenheiro elétrico encontrou para driblar a falta de internet em casa foi levar o computador para coworkings, espaços de trabalho compartilhados. “Ontem (terça) tive que gastar para poder trabalhar, e hoje (quarta) consegui um espaço da área comum do prédio, que funciona com gerador, para carregar o notebook e celular para trabalhar, pelo menos, umas duas horas.”
O engenheiro relatou também à reportagem que, nesse tempo, algumas comidas já tiveram que ir para o lixo por começarem a estragar na geladeira, os banhos têm sido gelados e o condomínio está precisando comprar diesel para o funcionamento do elevador.
“É uma coisa impressionante. Às vezes é difícil acreditar que a gente está no Brooklin, em São Paulo, e a energia falhando de maneira recorrente, com uma região com um monte de comércio, prédios residenciais, muitas famílias. É uma coisa que não para entender”, desabafa o engenheiro.
Questionada sobre o caso, a Enel respondeu por volta das 12h45 que “uma equipe está a caminho do local” para fazer os reparos.
Em nota divulgada na manhã desta quarta, a distribuidora afirma que normalizou o fornecimento de energia “para praticamente a totalidade dos clientes” que foram afetados pelas chuvas de segunda-feira, e que a empresa restabeleceu “o serviço para mais de 60% dos clientes afetados” pelos temporais de terça.
Ainda segundo o comunicado, as quedas de árvores destruíram trechos inteiros da rede e que o trabalho de reconstrução nesses pontos é considerado complexo “e muitas vezes demorado, pois envolve a substituição de cabos e postes, entre outros equipamentos”.
“Mais de 800 equipes seguem trabalhando ininterruptamente, inclusive durante a madrugada, para restabelecer integralmente o fornecimento para todos”, afirmou a distribuidora.
Previsão para mais chuva na tarde desta quarta
São Paulo sofreu com fortes chuvas nas tardes de segunda e terça-feira. De acordo com a Defesa Civil, o volume acumulado nos dois dias foi de 62mm e 60mm, respectivamente. O Corpo de Bombeiros precisou atender a centenas de ocorrências para quedas de árvores, e diversos pontos de alagamentos também foram registrados na cidade.
Na terça, uma pessoa morreu eletrocutada em Moema, zona sul da capital paulista, por um fio energizado que se rompeu com a queda de uma árvore. Na segunda, a chuva também provocou a queda de uma estrutura metálica usada para a manutenção da marquise do parque Ibirapuera, estrutura que está interditada há anos. O acidente deixou quatro pessoas feridas e o parque precisou ser fechado temporariamente.
De acordo com o Centro de Gerenciamento de Emergências Climáticas, da Prefeitura de São Paulo, a previsão é de instabilidade para a tarde desta quarta-feira também, com potencial para rajadas de vento, descargas elétricas e formação de alagamentos.
Essa série de dias com pancadas de chuva entre o final da tarde e começo da noite, segundo o órgão, acontece pela combinação das altas temperaturas típicas do verão com a chegada e presença de uma brisa marítima na capital paulista. Os dados do CGE mostram que, durante janeiro, foi registrado um acúmulo de 42,8 mm de chuva, cerca de 16,7% dos 256,5 mm esperados para todo o mês.
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