O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), disse nesta sexta-feira, 13, em cerimônia de formatura de novos oficiais da Polícia Militar, que os policiais devem atuar dentro da legalidade e respeitar os procedimentos da corporação. O discurso ocorre semanas após dois policiais serem presos e mais de 40 afastados por denúncias de violência em abordagens.
“Lembrar dos valores que foram ensinados aqui. E vocês têm que professar esses valores a cada dia. A hierarquia, a disciplina, que são valores inalienáveis, não se pode transigir com a disciplina. A lealdade, a constância, a honra, a coragem, o profissionalismo, foi muito batido no dia de hoje. Há procedimento pra tudo, e a gente não pode se afastar dos procedimentos. A gente não pode se afastar daquilo que é ensinado, e a responsabilidade é grande.”
Menos comedido, o secretário da segurança, Guilherme Derrite, alegou que a corporação passa pelo que classificou como “momento delicado” e acusou setores da sociedade de serem contrários ao trabalho da polícia.
“Estamos em um momento delicado. Infelizmente, uma parcela pequena da sociedade e de algumas instituições se incomodam com o êxito do bem contra o mal e se esforçam para atrapalhar o combate ao crime. Por isso, faço questão de deixar uma mensagem clara. Os senhores estão sendo formados para liderar a nossa tropa operacional. Essa liderança deve ser pautada, acima de tudo, pela legalidade. Os integrantes das forças policiais são os únicos e verdadeiros promotores de direitos humanos e cabe a nós, em posição de liderança, impedir que desvios de conduta venham macular o bom trabalho e a imagem da nossa quase bicentenária Polícia Militar”, disse.
Falhas e revisão de protocolos
Na semana passada, após a sequência de denúncias, o governador admitiu falhas e a necessidade de revisão não apenas de protocolos - mas de discurso. Na ocasião, o chefe do Executivo afirmou que errou ao questionar a eficácia das câmeras e defendeu o uso do equipamento. Apesar da mudança de tom, ele defendeu a manutenção de Derrite no cargo.
Na segunda, 9, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luís Roberto Barroso, determinou o uso obrigatório das câmeras corporais por policiais militares em operações realizadas no Estado de São Paulo.
Entre janeiro e o início de dezembro, foram registradas 784 mortes em decorrência de intervenção policial, segundo o Grupo de Atuação Especial da Segurança Pública e Controle Externo da Atividade Policial do Ministério Público. A Secretaria da Segurança Pública tem afirmado investigar os casos e não tolerar os desvios de agentes.
“A Polícia Militar não compactua com desvios de conduta de seus agentes, punindo exemplarmente aqueles que infringem a lei e desobedecem aos protocolos da instituição”, disse, em nota.
Dados da SSP apontam que de janeiro a setembro, a Polícia Militar matou 496 pessoas - o maior número desde 2020. A alta interrompeu a curva de queda de mortes pela PM que havia sido registrada a partir do uso das câmeras corporais nas fardas dos agentes. Em 2022, o total de óbitos do tipo foi o menor da série histórica, iniciada em 2001.
Veja abaixo o número de agentes afastados e presos nas ocorrências recentes:
- Agressão a uma idosa de 63 anos em Barueri: 12 policiais afastados
- PM entra em adega, bate em funcionário com cabo de enxada e promove quebra-quebra: 1 policial afastado
- Flagra de policiais atirando um homem de uma ponte: 12 policiais afastados e um preso
- Assassinato de um homem atingido nas costas após tentativa de roubo em um mercado: 1 policial preso
- Agressão a um motociclista durante abordagem na zona norte de SP: número não informado pela PM
- Morte de um estudante de Medicina baleado em um hotel da capital: 2 policiais afastados
- Morte de uma criança de 4 anos na Baixada Santista: 7 policiais afastados
Além desses casos, a corporação teve o afastamentos de oito agentes por suspeita de envolvimento na morte do delator do Primeiro Comando da Capital (PCC), o empresário Antônio Vinicius Lopes Gritzbach. Ele foi executado no dia 8 de novembro no Aeroporto Internacional de Guarulhos, na Grande São Paulo.
Outros quatro policiais foram afastados por apostar um racha e provocar um acidente no Cambuci, zona sul da capital Uma das viaturas bateu ficou destruída após bater em carros parados na via.
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