O que dizem testemunhas sobre momento em que homem foi jogado da ponte por policial em SP

Moradores da região ouvidos pelo ‘Estadão’ dizem que PMs impediram que ele recebesse socorro logo após a queda; secretaria destaca pedido prisão de autor da agressão e afastamento de outros 12 agentes

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Foto do author Gonçalo Junior
Atualização:

O rapaz atirado da ponte por um policial militar na região de Cidade Ademar, zona sul de São Paulo, não pôde receber socorro logo após a queda, disseram ao Estadão dois homens que afirmam ser testemunhas do episódio. O caso ocorreu na segunda-feira, 2, e foi flagrado por câmeras.

A gravação circulou nas redes sociais e aumentou a pressão sobre Guilherme Derrite, secretário da Segurança Pública (SSP). Em nota, a pasta disse que os 13 PMs envolvidos na ação foram “afastados de suas funções” e respondem a inquérito policial militar conduzido pela Corregedoria, que pediu a prisão do autor da agressão. O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) disse, porém, que manterá Derrite no cargo.

Homem foi atirado de ponte na região de Cidade Ademar, zona sul de São Paulo Foto: Gonçalo Junior/Estadão

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“Os policiais falaram que era para todo mundo sair de perto”, contou um morador da região sob condição de anonimato. “Eles não deixaram ninguém ajudar.”

Outro morador do bairro Vila Clara, onde se localiza a ponte, afirmou que, após a queda, a vítima estava desorientada, com dificuldades para responder perguntas simples, como de onde ele era. A identidade do homem atirado da ponte não foi revelada pelas autoridades.

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Conforme informações reunidas pelas polícias Civil e Militar, um grupo de 13 PMs do 24.º Batalhão de Polícia Militar (BPM), de Diadema, tentou abordar uma moto com dois homens durante baile funk na cidade vizinha, mas a dupla que estava no veículo não teria atendido à voz de parada.

Os agentes, então, os perseguiram por cerca de dois quilômetros e só conseguiram alcançá-los justamente onde o vídeo foi gravado, na Rua Padre Antônio de Gouveia. Segundo relatos das testemunhas, a moto bateu na mureta ao ser perseguida pela PM e o rapaz começou a xingar o policial. Foi então que um dos policiais jogou o rapaz da ponte.

O registro feito pelos agentes envolvidos indica que não foi encontrado nada de irregular com a dupla. “Eles só qualificaram o colega dele (do homem agredido) e liberaram (a dupla)”, disse o coronel Emerson Massera, porta-voz da PM.

Antes de os dois irem embora, porém, um dos agentes comete a ação flagrada pelo vídeo. No registro feito no sistema da polícia, é relatada a perseguição, mas não o arremesso do homem de cima do viaduto.

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As testemunhas também dizem que o homem estava bastante sujo e ensanguentado, com ferimento na cabeça, depois de ter sido arremessado no Córrego Cordeiro de uma altura de aproximadamente três metros. “Ele só falava que tinha batido a cabeça.”

Entre as pessoas que tentaram socorrer a vítima estavam pessoas em situação de rua – um deles mora exatamente embaixo da ponte onde ocorreu o crime -, além de frequentadores do baile funk que ocorre semanalmente na região. O “pancadão” estava perto de terminar, com pequena aglomeração na rua.

Apesar do ferimento, ele escalou a encosta do córrego. Os agentes tentaram ir atrás, mas não conseguiram alcançá-lo.

O Estadão esteve no local nesta quarta-feira, 4, e constatou que a encosta é de difícil acesso. A ponte fica perto da divisa da capital com Diadema. Nas proximidades estão vias importantes, como as avenidas Cupecê e a Rodovia dos Imigrantes. Os moradores estão assustados e só falam, quase sempre poucas palavras, sob anonimato.

Em entrevista à TV Globo, Antonio Donizete do Amaral, pai da vítima, afirmou que o filho está bem, não tem passagem pela polícia e trabalha como entregador. Vizinhos afirmam que ele e o filho deixaram o bairro com receio da repercussão do caso. O Estadão não conseguiu localizá-lo.

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