As mudanças climáticas, o crescimento demográfico acelerado e a poluição colocam pressão sobre os recursos hídricos em todo o mundo. Para Loïc Fauchon, presidente do Conselho Mundial da Água (WWC), é urgente que as políticas públicas enviem formas de garantir água limpa e saneamento básico para todos. Em visita a São Paulo, o executivo conversou com a repórter Camila Silveira.
Quais medidas práticas o Conselho Mundial da Água tem implementado visando melhorar a eficiência do uso da água e os serviços de saneamento em áreas densamente povoadas?
Loïc Fauchon - O Conselho Mundial da Água não tem poder legislativo, mas trabalhamos para influenciar políticas e conscientizar os líderes sobre a importância de colocar a água no topo da agenda. O problema não é apenas o clima. Há também o crescimento demográfico, que exige mais água, e a poluição, incluindo o plástico e outras substâncias prejudiciais.
Alertamos governos e instituições para que direcionem mais recursos e atenção à água, propondo soluções como o uso sustentável de aquíferos, a transferência hídrica entre regiões e a dessalinização, sempre com precaução.
Como as políticas locais podem ser fortalecidas para garantir o acesso equitativo à água potável e ao saneamento?
O saneamento sempre foi o “primo pobre” da água, frequentemente tratado como prioridade secundária pelos governos. Isso precisa mudar.
Na França, adotamos um modelo em que os recursos pagos pelo serviço de água são reinvestidos automaticamente no saneamento. Esse modelo pode servir como referência para outros países.
Como a cooperação entre organismos internacionais, governos locais e entidades do setor privado pode acelerar soluções efetivas para água e saneamento?
A água é política, mas não pode ser politizada. Ela deve estar no centro das decisões de alto nível. Precisamos convencer os líderes políticos de que a água deve vir antes das armas. Nosso papel no Conselho Mundial da Água é pressionar para que a água seja tratada como prioridade real.
Quais exemplos internacionais podem ser uma inspiração?
Cingapura é um exemplo, com dessalinização e sistemas de água reciclada. A Espanha utiliza um mix inteligente de água subterrânea, dessalinizada e reutilizada. A China também tem sido referência com megaprojetos de transferência hídrica realizados rapidamente. Mas cada país deve adaptar as soluções à sua realidade. O Brasil tem muito a ensinar e a aprender com essas experiências.
Qual mensagem você deixa para as futuras gerações?
A água está sob ataque. Mudanças climáticas, crescimento demográfico e poluição ameaçam sua disponibilidade.
Precisamos garantir que as futuras gerações tenham acesso a esse recurso essencial.
Isso exige inovação, investimento e, sobretudo, vontade política. A juventude tem um papel fundamental. Como disse no Fórum Mundial da Água em Bali: sejam guerreiros da água!
Atual presidente do Conselho Mundial da Água (World Water Council - WWC) – organização internacional dedicada a promover a conscientização, construir compromisso político e desencadear ações sobre questões críticas relacionadas à água em todo o mundo –, Loïc Fauchon ocupou vários cargos em serviços públicos, incluindo o de chefe de gabinete do prefeito de Marselha. Em 1991, Fauchon tornou-se diretor-geral da Companhia de Abastecimento de Água de Marselha.
Especial Dia Mundial da Água: para celebrar esta importante data, o Estadão Blue Studio, em parceria com a Sabesp, preparou um especial sobre o tema, que traz informações sobre como aderir e manter o Cadastro Único atualizado para garantir a tarifa social e obter descontos na conta de água; mostra onde estão as obras de saneamento; além de mais informações e curiosidades sobre tecnologias, rede de esgoto e outros temas. Acesse e confira.