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Paraquedista morto em Boituva estava no terceiro salto do dia e era atleta experiente, diz amigo

Segundo Paulo Pires, também paraquedista, acidente ocorreu no terceiro salto de Humberto Siqueira Nogueira no dia; vítima foi levada a um hospital da cidade, mas não resistiu aos ferimentos

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Foto do author Leon Ferrari
Atualização:

O paraquedista Paulo Pires, 45 anos, descreve o amigo, o empresário Humberto Siqueira Nogueira, que morreu na quinta-feira, 12, após um acidente em um salto de paraquedas em Boituva, interior de São Paulo, como um “atleta extremamente preparado”. “Viveu a mais alta performance dentro do esporte junto comigo.”

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“O Beto era um cara extremamente atlético, multiesportivo, pedalava em alta performance, fazia escalada, tinha um porte físico extremamente preparado para qualquer tipo de atleta. Era casado, pai, um empresário, um cara incrível”, contou o amigo ao Estadão. Pires diz que a fatalidade comoveu a comunidade mundial do esporte. “Extremamente querido pela nossa comunidade.”

De Goiânia, Nogueira, de 49 anos, veio para São Paulo junto à esposa, também paraquedista, para um show, segundo Pires. Ele se programou para, na quarta, 11, passar uma parte do dia para saltar com os amigos em Boituva. Pires entre eles.

“No último salto do dia, que foi o terceiro salto do dia para ser mais exato, ele estava fazendo um pouso padrão como diversas outras vezes, e algo aconteceu”, relata. “Ele acabou colidindo com o chão de uma maneira que gerou uma lesão dentro do tórax dele, e infelizmente, ele parou de respirar.”

Pires conta que não há ainda uma conclusão para o que aconteceu. Eles aguardam uma imagem do momento e a perícia do equipamento, afirma.

Segundo ele, o dia estava favorável para a prática do esporte na cidade. “Meteorologia boa, clima agradável, não tinha nenhum vento que pudesse interferir nas ações do atleta.”

O empresário e paraquedista Humberto Siqueira Nogueira, durante um dos saltos de paraquedas Foto: Heder Luis/Redclicks Fotografias

Reconhecimento mundial

Pires é paraquedista há mais de 16 anos, praticando a modalidade de freefly, e conhece Humberto há mais de dez. “Ele demonstrou um entendimento e um interesse muito precoce pelas coisas que eu estava fazendo e acabei trazendo ele pro meu lado”, conta. Segundo o amigo, saltaram juntos “milhares de vezes” e em vários lugares do mundo.

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Para se tornar atleta do paraquedismo é preciso fazer um curso inicial, diz Pires, mas Nogueira já estava em um “nível avançado”. “Para você chegar no nível em que o Humberto estava leva anos e um investimento gigantesco financeiro e de tempo.”

Juntos, criaram um grupo que reúne atletas da América do Sul para quebrar recordes da modalidade. Nogueira, diz Pires, participou de todos os recordes brasileiros e sul-americanos.

Os dois amigos batalhavam pelo reconhecimento do Brasil no esporte. Pela primeira vez, no mês passado, eles foram convidados para ser os capitães do setor sul-americano dentro de uma tentativa de recorde na Europa, mais especificamente na Alemanha. “Nosso maior orgulho.”

Paulo e Humberto (quarto e quinto, da esquerda para direita) praticavam paraquedismo juntos há anos Foto: Binho Benvenuti

Acidente

Segundo informações da Polícia Militar, o acidente aconteceu na Avenida Mario Pedro Vercellino, no final da tarde de quarta, 11. A vítima foi socorrida e levada para um hospital da cidade, mas não resistiu aos ferimentos.

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Ele teria saltado de um centro de paraquedismo de Boituva, que tem um histórico de tradição no esporte, e onde funciona o Centro Nacional de Paraquedismo (CNP), de acordo com a Secretaria de Segurança Pública do Estado (SSP-SP).

A Confederação Brasileira de Paraquedismo prestou uma homenagem ao empresário nas redes sociais. “Fly free (voe livre), Humberto Nogueira. Força à família e à nação paraquedista”, disse a entidade.

O Estadão entrou em contato com a SSP para saber se havia alguma atualização sobre o inquérito, mas o órgão não apresentou nada novo à reportagem. Também entramos em contato com a Confederação Nacional de Paraquedismo, que mantém o Centro Nacional de Paraquedismo (CNP), e com a prefeitura de Boituva, por telefone e e-mail, mas não houve retorno.

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A reportagem também acionou a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) que informou que “acidentes e incidentes aeronáuticos” são de responsabilidade do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), da Força Aérea Brasileira (FAB). A FAB não retornou o contato da reportagem

“A prática de saltos de paraquedas é realizada dentro de áreas permanentes ou temporárias destinadas a esse fim mediante autorização do Departamento de Controle do espaço Aéreo (DECEA) ou do órgão de controle de tráfego aéreo (ATC) local. Antes do início de cada operação, é indispensável que os praticantes verifiquem a página eletrônica do DECEA se a área pretendida para o salto está autorizada”, informou a Anac.

Acidentes em Boituva levaram à suspensão de centro de paraquedismo

Em julho do ano passado, o aluno da modalidade Andrius Jamaico Pantaleão, de 38 anos, morreu em Boituva depois de cair sobre o telhado de uma casa também em um salto de paraquedas. Era a quarta vítima na cidade, relacionada ao paraquedismo, em quatro meses.

Em abril, a sargento paraquedista do Exército Bruna Ploner morreu durante um salto com paraquedas de alta performance. E em maio, dois paraquedistas morreram e outros dez ficaram feridos após o pouso forçado de uma aeronave que decolou do Centro Nacional de Paraquedismo com 15 atletas a bordo.

A morte de Pantaleão levou a Justiça a acatar uma representação judicial feita pelo Polícia Civil e determinar, em julho do ano passado, a suspensão temporária do Centro Nacional de Paraquedismo, sob a alegação de que os voos, como acontecem sobre trechos de rodovias e áreas urbanas, não garantem a segurança da população.

O Centro Nacional de Paraquedismo foi reaberto no mês seguinte por meio de uma liminar expedida pelo Tribunal de Justiça de São Paulo.

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