Escondida entre as florestas de dois morros no Parque Estadual da Serra do Mar, a Cachoeira da Lagoa Azul foi oficialmente aberta ao público apenas em dezembro do ano passado, mas que tem se firmado como um destino concorrido para quem quer se refrescar nos dias de calor (e atualizar as redes sociais), recebendo mais de 26 mil visitantes desde então.
A menos de 70 quilômetros do centro de São Paulo, o cenário paradisíaco fica nos limites de Cubatão e contrasta diretamente com a fama da cidade, que tem os maiores índices de poluição atmosférica no Estado e está entre as dez piores do Brasil.
A trilha até a Cachoeira da Lagoa Azul só tem uma entrada oficial, às margens da Rodovia Anchieta, na entrada do km 50. O acesso é feito ao lado oposto do Fabril, bairro histórico e hoje periférico, onde antes ficava a antiga Vila Fabril, construída nos anos 1920. Para quem vai de carro, é possível estacioná-lo no início do caminho, mas a subida só é permitida com a companhia de guia ou monitor autônomo credenciado pela Fundação Florestal, órgão da Secretaria Estadual de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística e responsável pela administração do núcleo Itutinga-Pilões da Serra do Mar.
A exigência foi implementada no ano passado, como parte do “lançamento” da trilha, e tem como objetivo garantir a segurança do visitante e a preservação do local. Como o parque é uma unidade de conservação, o desrespeito à regra viola a Lei 9.605/98, que prevê multa de R$ 3 mil a R$ 10 mil para quem for flagrado sem autorização em áreas protegidas.
Apesar de frequentada anteriormente por moradores da região, a cachoeira não tinha acesso regulamentado pelo Estado, algo que só foi possível após um longo processo que engatou só em 2021, quando começaram as vistorias e avaliações de risco sobre a Lagoa Azul e seu entorno. José Rodrigues, guia da Fundação Florestal que acompanhou a reportagem no dia da visita, explicou ainda que os caminhos “alternativos” até lá oferecem risco de acidentes graves e também são proibidos.
Perrengues e dicas para a subida
A trilha que dá acesso à Lagoa Azul é de nível moderado a difícil, a depender do seu condicionamento físico e grau de experiência. A maior dificuldade é realmente superar o trecho de ida, que tem mais de 3 quilômetros de extensão por uma subida íngreme. Apesar do desafio para os pulmões e pernas, o caminho é bem estruturado, com corrimãos e degraus de madeira por quase todo o percurso.
Juntos, os trajetos de ida e volta somam 7,7 quilômetros de trilha. Como a trilha é feita por dentro da mata fechada, a temperatura e a umidade até chegar à cachoeira aumentam os níveis de cansaço e dificuldade do percurso. No dia que a reportagem visitou o local, por exemplo, os termômetros marcavam 32ºC ao longo do caminho, enquanto o asfalto estava em 28ºC.
Outro desafio, este comum à grande maioria das trilhas, é a variedade de insetos e animais que você pode encontrar pelo caminho. Por mais que borboletas azuis e a variedade de pássaros aumentem o charme do local, as muriçocas insistentes também estão lá, assim como uma quantidade razoável de onças-pintadas e jararacas que recentemente foram avistadas com frequência razoável nos arredores do trajeto.
Segundo Rodrigues, casos de desidratação ao longo da trilha também não são raros. Por isso, uma das principais orientações é sempre levar uma garrafa própria de água, que depois pode ser enchida em uma cachoeira menor, localizada na metade do caminho. Outras dicas preciosas para os aventureiros: usar roupas leves e tênis confortável com perneira ou bota de cano alto; usar protetor solar antes e durante o trajeto; passar repelente se tiver alergia à picada de insetos.
A recompensa
A Cachoeira da Lagoa Azul fica cravada em uma área praticamente intocada da Mata Atlântica e, para fazer mais jus ao nome, só se Brooke Shields estivesse nadando por lá. Depois de toda a subida, você chega a um ponto plano, de onde é possível avistar partes do litoral da Baixada Santista, como Santos e Praia Grande. Dali, é preciso descer mais um trecho até acessar a espécie de vale onde fica a queda d’água.
O primeiro poço de água cristalina fica escondido entre árvores e pedras, onde só é possível ouvir o barulho da correnteza e dos pássaros ao redor. Ali fica o atrativo mais famoso da Lagoa Azul, pelo menos de acordo com as redes sociais: o tronco de uma árvore tombada, com uma metade submersa e a outra sobre as pedras, o que aparentemente faz com que este seja o ponto mais “instagramável” dali.
Apesar de a correnteza ser fraca nesse primeiro poço, seu centro chega a 8 metros de profundidade, por isso é preciso ficar alerta, principalmente quem estiver com crianças. Mas os menos aventureiros também conseguem se refrescar em uma das pedras do entorno, ou entrando na água até a cintura, uma vez que o solo do fundo é firme.
Para chegar ao segundo poço da Lagoa Azul é preciso subir um pequeno trecho, localizado à esquerda do primeiro, de fácil acesso e com um corrimão para ajudar o trajeto. Lá, é possível ver logo de cara a maior queda d’água da cachoeira, com mais de 30 metros de altura. Apesar de a piscina natural ser menor, ela chega a 11 metros de profundidade, segundo a última medição feita pelos Bombeiros.
Nos últimos meses, a Cachoeira da Lagoa Azul tem atraído uma boa quantidade de turistas. Logo, quem quiser curtir o local em clima de sossego e com privacidade deve chegar cedo. De qualquer forma, a subida só é permitida até 13h e a permanência até 16h, o que pode mudar de acordo com as condições climáticas do dia.
O que levar para a Trilha da Cachoeira da Lagoa Azul:
- Água potável e lanche
- Protetor solar
- Repelente
- Boné
- Óculos escuros
- Calçado fechado (obrigatório)
- Roupas leves e confortáveis
Serviço
Os ingressos e contratação de monitores pode ser feita através do site https://itutingapiloes.ingressosparquespaulistas.com.br/
Valor: a partir de R$ 40
O local não oferece estacionamento próprio, mas quem for de carro pode deixar o veículo no bairro Fabril, do outro lado da Rodovia Anchieta.
Moradores dos bairros Água Fria, Fabril, Cota 95, Cota 100, Cota 200 e Pinheiro do Miranda, em Cubatão, têm acesso gratuito à trilha, através do programa “Nossos Parques, Nosso Quintal”
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