SÃO PAULO - O Primeiro Comando da Capital (PCC) participava de um esquema de envio de cocaína para a Europa, a África e a América Central pelo Porto de Santos, segundo investigação da Polícia Federal. É a primeira vez que há provas de ligação da facção criminosa com o tráfico intercontinental de drogas.
As Operações Hulk e Oversea, iniciadas no ano passado e deflagradas ontem na capital e na Baixada Santista, resultaram na prisão de 23 suspeitos - 13 estão foragidos. Foram expedidos também 80 mandados de busca e apreendidos dez veículos, uma embarcação, 19 pistolas, dois fuzis e 3,7 toneladas de cocaína - em todo o ano passado, foram apreendidas 4 toneladas da droga no porto.
A droga era trazida da Bolívia pela fronteira com o Paraguai, atravessava São Paulo e chegava à Baixada. Do Porto de Santos, a droga partia principalmente para a Espanha, a África e até para Cuba em navios sem o conhecimento dos responsáveis pelas embarcações.
Segundo as investigações da PF, havia a articulação de diversas células criminosas para executar o plano de transporte da cocaína. Os homens do PCC ficavam encarregados do processo final no porto. Cabia a eles encontrar os navios que atendessem às necessidades da quadrilha, como destino, e infiltrar criminosos nos barcos para fazer o carregamento da cocaína.
O relato da PF sobre a quadrilha enviado à Justiça, que resultou na expedição dos mandados de busca e apreensão e de prisão, informa que André Oliveira Macedo, ou André do Rap, de 37 anos, e seu comparsa Jefferson Moreira da Silva, o Dente, de 36, davam ordens para seus subordinados do PCC cooptarem funcionários que atuavam em Recintos Alfandegários de Exportação (Redex) para descobrir navios propícios para o transporte da droga e facilitar a entrada de traficantes.
André do Rap é apontado como líder da facção na Baixada - encarregado de tarefas de ponta, como a coleta da "rifa" (contribuições dos integrantes do PCC) e o fornecimento de armas de fogo a parceiros. Ele e Dente estão foragidos. Ambos estão com prisão temporária decretada pela Justiça Federal.
Da fronteira. O esquema começava na fronteira do Paraguai. Um dos acusados presos ontem, João dos Santos Rosa, coordenava a compra da cocaína com os países vizinhos, por intermédio de Raimundo Carlos Trindade, preso em julho do ano passado com 503 quilos de cocaína.
Eles integravam a célula que incluía o boliviano Rolin Gonzalo Parada Gutierrez, vulgo Federi, também foragido e tido como o principal fornecedor da cocaína ao esquema. Outros integrantes das células tinham contato com compradores na Espanha e em outros países.
Depois que esse grupo fez a aliança com o PCC da Baixada, a rota para o tráfico internacional foi estabelecida.
A cocaína, considerada pura, era colocada em sacolas ou mochilas, que eram inseridas em contêineres por funcionários dos Redex. Há 47 Redex registrados em Santos. Um grupo entrava nos recintos e, após inserir as mochilas nos contêineres, usava lacres falsos. Quando a droga chegava ao destino, outra quadrilha atuava para recuperá-la.
Investigação. A PF suspeita de que a célula que atuava entre o Paraguai e a capital foi responsável por um intenso tiroteio contra policiais federais, em setembro do ano passado, na Rodovia SP-255, em Bocaina, em que um agente foi morto com um tiro de fuzil. Na ocasião, a PF já investigava o grupo.
Os policiais tentavam interceptar um avião carregado de cocaína. A ação fez com que a aeronave não conseguisse pousar e acabou caindo. O piloto conseguiu fugir do local. / COLABOROU ZULEIDE DE BARROS
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.