Depois de um silêncio de 30 anos, o som do órgão voltou a encher a nave e os nichos da bicentenária igreja de Nossa Senhora da Candelária, a matriz de Itu, no interior paulista. O instrumento fabricado pelo famoso organeiro francês Aristide Cavaillé-Coll e inaugurado em 1883, é um dos doze exemplares existentes no Brasil e faz parte do patrimônio cultural de Itu.
Desde que foi tocado pela primeira vez na igreja, em 22 de abril daquele ano, durante missa celebrada pelo doador, o padre Miguel Pacheco, de família tradicional de Itu, o órgão funcionou de forma ininterrupta. O imenso cunjunto de tubos em forma de flautas, dispostos no 'armário' de madeira com detalhes góticos, ao longo de um século encheu de sons naturais e cristalinos a tradicional igreja ituana.
O órgão deixou de ser usado em 1992, quando foi constatado um problema em alguns de seus 600 tubos de metais. Na época, além da falta de recursos para os reparos, não havia mão de obra especializada disponível. Assim, o órgão que vai completar 140 anos em 2023 ficou se uso.
O padre Francisco Carlos Caseiro Rossi, que há dez anos assumiu como pároco da matriz, decidiu fazer a restauração do instrumento, que possui dois manuais de 56 teclas e uma pedaleira programada para 30 notas musicais. O padre contou que era cobrado pelos fiéis mais antigos, saudosos do som do órgão.
A reinauguração aconteceu no último sábado, 26, durante a missa, seguida de um concerto de músicas clássicas. A igreja ficou lotada. O maestro e organista Thiago Debossan, admirador do instrumento, se surpreendeu com a qualidade do som. "É como se nunca tivesse ficado sem funcionar. Um som majestoso, afinado, vibrante. Foi uma emoção muito grande", disse.
RELÍQUIA - O órgão é mais uma relíquia da matriz ituana, construída em 1780, considerada uma joia do barroco paulista. O artista José Patrício da Silva, autor do forro e do douramento, foi auxiliado pelo padre Jesuíno do Monte Carmelo - os dois estão entre os mais relevantes artistas sacros daquele período. Jesuíno pintou também as telas e as paredes da capela-mor, consideradas obras de arte.
As telas do teto da sacristia, datadas de 1888, são da artista italiana Lavínia Cereda. Um quadro pintado por Almeida Junior faz parte do acervo. O artista plástico ituano trouxe de Paris o relógio Cartier, fabricado em 1874, para ser instalado em 1888 no frontispício da igreja.
O altar-mor, entalhado em madeira nobre, é banhado a ouro, assim como os seis altares laterais. Um deles guarda uma imagem de Nossa Senhora do Rosário doada por dona Carlota Joaquina, esposa de D. João VI, trazida de Portugal quando a família imperial fugiu do velho continente devido às hostilidades de Napoleão Bonaparte. A igreja é tombada pelo patrimônio histórico estadual e nacional.
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