PENEDO RIO DE JANEIRO FINLÂNDIA. Foto: Tiago Queiroz/Estadão
Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Já ouviu falar da ‘Finlândia Brasileira’? Fica a pouco mais de 3 horas de SP; veja vídeo

Destino se assemelha também a Gramado, no Sul do Brasil e pode ser a opção perfeita para feriados ou férias de fim de ano

Foto do author Ana Lourenço
Atualização:

Imagine juntar a hospitalidade do mineiro, o jeito festeiro do carioca e o poder de organização do paulista? Pois assim são os moradores de Penedo, na região sul do Rio de Janeiro, a 270 quilômetros da cidade de São Paulo (e perto do sul de Minas).

PUBLICIDADE

Ali fica a única colônia finlandesa do Brasil. Além de conhecer profundamente a história da vinda desse povo europeu para o Brasil, o turista aproveita para entrar no clima de Natal - independentemente da época. Afinal, foi na Lapônia, região da Finlândia, que a lenda do Papai Noel surgiu.

Segundo os moradores de Penedo, a casa de verão do bom velhinho fica na Pequena Finlândia, espécie de vila natalina cheia de quitutes e sempre com a presença da figura natalina mais ilustre.

Ao entrar na casa, uma estante cheia de cartinhas, chupetas e mamadeiras que as crianças, ao longo dos anos, entregaram para o Papai Noel. Logo ao centro, esperando de braços abertos, está o velhinho em pessoa.

Ivan Braga, de 71 anos, trabalha há seis como Papai Noel em Penedo Foto: Tiago Queiroz/Estadão

O espaço fica aberto todo dia (exceto terças-feiras) para que pais e crianças visitem a casa e conheçam o espaço de descanso do Papai Noel. Ao sair, ainda na Pequena Finlândia, não deixe de tomar um sorvete na Fuê e degustar um pão de mel na Tonttulakki Suklaat, especializados em chocolate belga.

A lenda do Papai Noel também ajuda os negócios de Celestino Teixeira, criador da Lelumuseo, que em finlandês traduz exatamente o que ele é: um museu de brinquedos. Há 3,2 mil peças expostas, a maioria da própria coleção de Teixeira, que começou há 30 anos, mas também de doações e alguns brinquedos antigos, que ainda trazem memórias. “Mantenho viva a minha infância”, resume.

Se for visitar, tire seu tempo para olhar cada prateleira e relembrar das suas próprias brincadeiras quando pequeno. São dois andares com itens dos anos 1970, 1980, 1990 e 2000. Cada sala tem sonoplastia diferente, para entrar no clima.

Publicidade

Como Penedo se tornou uma colônia Finlandesa?

Apesar de hoje viver do turismo, em 1927, quando tudo começou, a proposta de Toivo Uuskalio, líder finlandês que incentivou a vinda dos seus conterrâneos para o Rio, era bem diferente.

Uuskalio era um naturalista que sonhava em viver de terras férteis e clima tropical, algo que parecia um paraíso comparado ao inverno rigoroso e os assombros dos horrores da Primeira Guerra Mundial. Vegano, queria viver da terra, plantando o ano todo, e desfrutar os momentos de lazer na natureza.

A ideia não era reproduzir a realidade do país nórdico ou se fechar entre os finlandeses, o grupo de mais de 300 pessoas que vieram para cá. Buscavam algo totalmente novo.

Após a aquisição da Fazenda Penedo, em 1929, iniciou-se o projeto de estabelecimento da colônia. Aqui, tentaram manter duas das principais tradições finlandesas: banho de sauna - sim, foi em Penedo que surgiu a primeira sauna do Brasil - e bailes com danças típicas.

Após alguns anos no Brasil, alguns imigrantes, descontentes com o trabalho árduo e a qualidade das terras, voltaram para a Finlândia ou foram explorar outros lugares do Brasil. Já os que ficaram fizeram questão de preservar a cultura de origem aqui e investir no turismo.

“As pessoas foram deixando de ser agricultores para poder se adaptar à necessidade de receber as pessoas, abrindo suas casas mesmo. E aí se criou o turismo em volta disso”, explica Aime Virkkilä, diretora do Clube Finlândia.

Dona Eeva Hohenthal, de 87 anos, descendente de finlandeses e que tem uma loja de souvenires e geleias e doces na entrada da cidade Foto: Tiago Queiroz/Estad

Dona Eeva Hohental, hoje com 87 anos, chegou em Penedo com três meses de idade, e fala que sempre gostou do clima dos trópicos. Não por menos, seu trabalho há anos é fazer geleias, chutneys e pullas (espécie de pão finlandês) com ingredientes do seu próprio jardim.

Publicidade

Mahtava” - que em tradução livre seria “magnífico”, “maravilha” - é como ela traduz sua vida por aqui. Qualquer turista pode visitar sua loja, das 9h às 18h e possivelmente vai encontrá-la, feliz, fazendo quitutes. “A vida cansa de qualquer jeito. Se é para ficar cansada, melhor trabalhar, pois aí tenho orgulho”, diz ela.

Cultura finlandesa

É possível também ter gostinho da vivência finlandesa com os bailes ao som de polcas, jenkkas e mazurcas, que são realizados desde 1943 no Clube Finlândia (todo primeiro sábado do mês) ou ler e ver detalhes da cultura do país no Museu Finlandês Eva Hilden.

Segundo Aime, os descendentes e os voluntários do Clube buscam manter os princípios e os valores dos primeiros finlandeses. “Nessa onda de turismo, a essência foi se perdendo um pouco”, diz. Por isso, eles têm apostado em alternativas que valorizem as raízes.

E a cidade ainda atrai novos moradores. Durante a visita da reportagem, por acaso, encontramos Eija Hanninen, de 71 anos, que há nove meses se mudou para Penedo. “Tem muita gente boa. É um lugar calmo e amo o clima”, resume.

O português ainda é difícil pra ela, mas como é aposentada, gosta de passar horas conversando em finlandês com os descendentes ou com a filha, que mora em Pindamonhangaba (SP), e sempre a visita.

Não deixe de provar as comidas típicas da Finlândia (e de outros países nórdicos) no restaurante Korvapuusti ou no Jazz Village, dentro do hotel Pequena Suécia - um dos primeiros hotéis a se instalarem na região e que até hoje mantêm a tradição de oferecer música boa para os visitantes.

Para seguir a linha naturalista que originou a cidade, ambos têm boas opções vegetarianas. Há ainda o tradicional fondue com frutas da Joulupukin Suklaa, os vários chocolates da Casa do Chocolate (a fábrica mais antiga de Penedo) e sorvetes diferentes como mascarpone com amarena no Sorvete Finlândes.

Publicidade

Nos arredores de Penedo

Para amantes da natureza, a região oferece uma porção de atividades ao ar livre. Uma das mais procuradas é o Parque Nacional de Itatiaia, um dos primeiros parques do Brasil, criado em junho de 1937.

A área protegida conta com a parte baixa, onde ficam trilhas de nível fácil e médio que levam a cachoeiras, e a parte alta, que são trilhas mais intensas e extensas e terminam com vistas de tirar o fôlego, no meio da Mata Atlântica.

O Pico do Penedinho é um passeio gratuito, mas precisa de autorização, que pode ser adquirida na Casa do Chocolate, pois fica em propriedade particular. Após 20 minutos de caminhada, dá para ver Itatiaia, Resende e, é claro, Penedo de cima.

Falando em passeios gratuitos, há também as cachoeiras Poço das Esmeraldas, Três Cachoeiras, Três Bacias, Cachoeiras de Deus. Só programe bem sua visita: no fim da tarde a temperatura cai rápido.

Gastronomia típica do país nórdico é outro diferencial de Penedo Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Serviço

  • Casa do Papai Noel

Horário de funcionamento: Domingo e segunda, das 11h às 13h e das 14h às 18h; Quarta e quinta, das 15h às 20h; Sexta, das 13h às 21h15; Sábado das 11h às 13h e das 14h às 21h15. Fechado às terças.

Valor: R$ 30 (criança até três anos não paga)

Publicidade

Mais informações: www.instagram.com/casadopapainoelpenedo.oficial/

  • Lelumuseo

Endereço: Av. Michelângelo, 216

Horário de funcionamento: sexta, sábado e domingo, das 10h às 18h; segunda, das 10h às 16h.

Valor: R$ 30 (inteira)

  • Museu Finlandês Eva Hilden

Endereço: Av. das Mangueiras, 2601

Publicidade

Horário de funcionamento: quarta, quinta e sexta, das 11h às 17h; sábado das 10h às 17h, domingo das 10h às 15h; fechado às segundas e terças

Valor: R$ 10

  • Jazz Village

Endereço: Hotel Pequena Suécia - R. Toivo Suni, 33

Horário de funcionamento: segunda a quarta, das 17h às 22h; quinta a sábado das 13h às 23h e domingo das 13h às 17h. Clube de Jazz: sexta e sábado, das 18h às 23h

Mais informações: www.jazzvillagepenedo.com/

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.