Agentes da Polícia Militar que faziam a segurança particular do empresário Antonio Vinicius Lopes Gritzbach, assassinado a tiros nesta sexta-feira, 8, no Aeroporto Internacional de Guarulhos, na Grande São Paulo, explicaram como atuaram no caso em depoimentos à Polícia Civil. As transcrições de três dessas oitivas, incluindo a do único PM que estava no local, foram obtidas pelo Estadão.
Gritzbach foi assassinado no Terminal 2 quando tinha acabado de chegar com a namorada de uma viagem. Informações preliminares indicam que ele seria recebido pelo filho, de 11 anos, e um grupo de quatro seguranças, composto por PMs que faziam a proteção do empresário.
No caminho para o aeroporto, porém, um dos carros usados por eles teria supostamente apresentado um falha mecânica enquanto estava estacionado em um posto de gasolina. Três dos seguranças, então, teriam ficado com o veículo, enquanto o quarto seguiu com o filho da vítima e outro adulto, tido como amigo do menino (ele é descrito também por um dos PMs como sobrinho de Gritzbach).
A Polícia Civil apreendeu os celulares dos quatro agentes, que ainda foram afastados preventivamente. O objetivo é averiguar um possível envolvimento no caso. O aparelho telefônico da namorada da vítima, do filho e do amigo também foram apreendidos. O caso é investigado pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa Humana (DHPP) da Polícia Civil.
Depoimento registrado às 17h22
Na delegacia do Aeroporto de Guarulhos, um primeiro PM, de 39 anos, prestou depoimento na condição de testemunha protegida e, por isso, a sua identidade não foi revelada. Ele alegou que fazia apenas a escolta do filho de Gritzbach – ele não especificou há quanto tempo realizava esse serviço. Nesta sexta, como o menino receberia o pai no aeroporto, foi com ele até o local, juntamente com outros três agentes contratados para fazer a segurança particular da família.
Ele disse que ele e outro PM embarcaram no carro que teria apresentado a falha, uma Volkswagen Amarok. Enquanto isso, outros dois policiais foram no outro veículo, uma Chevrolet Trailblazer, juntamente com o filho do empresário e o amigo do menino.
O policial disse em depoimento que, a caminho do aeroporto, o grupo parou em um posto de gasolina na Rodovia Helio Smidt, em Guarulhos, onde fez um lanche e aguardou um pouco para ir até o aeroporto. Quando foram sair, porém, a Amarok não teria ligado.
O policial disse ter ficado no posto de gasolina junto a outros dois agentes, enquanto o filho de Gritzbach, o amigo dele e um dos policiais seguiram para o aeroporto. “Alguns minutos depois, o filho de Antonio (Vinicius Gritzbach) ligou dizendo: ‘Deram tiro aqui, tio, deram tiro aqui’”, diz trecho do depoimento do policial.
Depois disso, o policial relatou que o grupo que havia ficado no posto de gasolina pediu que um segurança que trabalhava por lá levasse ao menos dois dos agentes até a área de desembarque do Terminal 2, onde o assassinato do empresário ocorreu.
Ele disse ainda que os policiais da escolta só conseguiram se reunir momentos depois, juntamente com o filho de Gritzbach, e que não suspeita quem teria cometido o crime. Acrescentou também que não sabia que o empresário era investigado por possível elo com o PCC.
Depoimento à 0h21 de sábado
Em depoimento registrado à 0h21, desta vez no DHPP, um segundo policial, este com 34 de idade, disse que prestava serviço a Gritzbach havia nove meses e que, durante esse período, teria visto, por meio de “comentários da mídia social”, que o nome dele estaria ligado a noticiários envolvendo o PCC. Ele alegou que, por essa razão, tinha parado de fazer a escolta do empresário.
No entanto, foi acionado para um serviço esporádico de dois dias nesta semana. Uma das ações envolvia justamente buscar Gritzbach e a namorada no Aeroporto de Guarulhos, segundo ele. O policial também afirmou que estaria na Amarok e que chegaram no posto por volta de 15h20 – o assassinato ocorreu perto das 16h.
Ele relatou basicamente a mesma história do primeiro agente, dizendo que o veículo não dava partida quando foram sair do posto de gasolina, e que por isso parte do grupo ficou por lá.
Segundo ele, um dos policiais fez contato com algum dos ocupantes da Trailblazer informando que a Amarok não dava partida e sugeriu que o carro que funcionava retornasse até o posto para que um dos ocupantes descesse e desocupasse uma vaga (uma vez que não só Gritzbach, como também a namorada chegariam ao aeroporto).
Isso foi feito, segundo ele, e posteriormente o grupo que estava na Trailblazer seguiu até o aeroporto. O policial militar disse, por fim, que “desconhece por completo quem possa ser o autor do crime”, segundo depoimento prestado à Polícia Civil.
Depoimento na madrugada deste sábado
Em um terceiro depoimento, registrado às 01h34 deste sábado, 9, no DHPP, outro policial, de 29 anos, disse que prestava o serviço de segurança para a família do empresário desde setembro e que sabia que Gritzbach era investigado por lavagem de dinheiro, mas afirmou que desconhecia maiores detalhes.
O policial disse que estava na Trailblazer juntamente com outro policial, o filho da vítima e o amigo dele. Ele corroborou a informação de que, quando já tinham saído, o outro veículo teria apresentado falha mecânica. Disse ainda que, por isso, eles teriam retornado para o posto para que o outro PM ficasse por lá e tentasse ajudar.
O policial que prestou depoimento durante a madrugada foi, portanto, o único que seguiu com o filho de Gritzbach e com o amigo para buscar o empresário até o aeroporto. Ele conta que, chegando lá, eles pararam a Trailblazer na fila de espera para pegar os passageiros de desembarque, enquanto o delator ia se comunicando com o filho.
Durante a manobra para a aproximação da entrada do portão do Terminal 2, porém, o policial disse que ouviu estampidos “semelhantes aos de uma arma de fogo”. Ele disse que “simultaneamente visualizou um tumulto de populares que corriam em sua direção”.
O policial disse que, nesse momento, orientou que o filho de Gritzbach e o amigo, já maior de idade e que o policial descreve também como sobrinho do empresário, seguissem de carro para buscar os outros seguranças no posto de gasolina.
Enquanto isso, o policial desceu e visualizou à distância uma pessoa caída no chão perto do portão do Terminal 2. Ele disse que, neste momento, reforçou o pedido para que os outros seguranças fossem até o local e permaneceu à disposição da polícia, à medida em que as viaturas fossem chegando.
Perícia
Conforme a Secretaria da Segurança Pública, os dois carros utilizados pela escolta da vítima e um terceiro, supostamente usado pelos atiradores, foram apreendidos e periciados, assim como os celulares dos integrantes da escolta e da namorada do homem.
“Os policiais militares, que pertenciam à equipe de segurança da vítima, prestaram depoimento para a Polícia Civil e também na Corregedoria da PM. Eles foram afastados de suas atividades operacionais durante as investigações”, disse a pasta. A namorada da vítima também foi ouvida pelos investigadores. Ela não teria se ferido durante o tiroteio.
Os feridos são um motorista de aplicativo, um funcionário terceirizado do aeroporto e uma passageira que desembarcava no local. Até o fim da tarde deste sábado, a informação é de que o quadro deles era estável. Pelo menos uma das vítimas estava dentro do aeroporto.
Conforme o boletim de ocorrência, ao qual o Estadão teve acesso, o motorista de aplicativo, de 41 anos, foi alvejado nas costas, enquanto o funcionário terceirizado, de 39 anos, teve ferimentos na mão e no ombro. A mulher, de 28 anos, teria tido um ferimento superficial na região do abdômen.
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