Polícia investiga ligação de vereador do PT com o PCC na gestão de empresa de ônibus de SP

Deic deflagrou operação nesta quinta-feira e vê Senival Moura envolvido também em um crime de homicídio cometido em 2020; parlamentar nega acusações

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A Polícia Civil deflagrou operação nesta quinta-feira, 9, para investigar o envolvimento do vereador de São Paulo Senival Moura (PT) em um crime de homicídio, além de supostas ligações com o Primeiro Comando da Capital (PCC) na gestão de uma empresa de ônibus da capital paulista. Buscas foram autorizadas pela Justiça em oito endereços ligados ao vereador e a outros suspeitos; duas prisões temporárias foram decretadas. 

De acordo com informações divulgadas pelo Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), que coordena a apuração, a investigação começou depois da morte de Adauto Soares Jorge, ex-presidente da empresa de transporte Transunião, que possui contrato com a Prefeitura de São Paulo. Adauto foi executado em 4 de março de 2020. A partir do homicídio, a polícia diz ter descoberto o envolvimento do crime organizado com a empresa.

O vereador Senival Moura (PT) Foto: José Patrício/Estadão

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Em nota, o vereador nega as acusações e disse ter sido “surpreendido” pela operação policial na casa dele. “Quero aqui reafirmar que eu não tenho nenhum envolvimento com as ações que estão sendo noticiadas. Entretanto, estou à disposição da Justiça para quaisquer esclarecimentos”, declarou. “Sobre o Adauto Jorge Soares sinto até hoje essa perda, principalmente, pela forma cruel e violenta que foi.”

Segundo a polícia, a TransUnião “era utilizada para a lavagem de dinheiro de membros do PCC”.A empresa não respondeu aos questionamentos da reportagem.

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A Prefeitura informou que a TransUnião tem frota de 564 veículos e atende 49 linhas. “No momento, não há alteração na operação do sistema. A população que depende do serviço, em média 315 mil pessoas, segue sendo plenamente atendida.”

Também destacou que a Secretaria Executiva de Mobilidade e Transportes (Setram) e a SPTrans “não foram informadas formalmente a respeito do teor das investigações”. Mas assegurou que vai “acompanhar e colaborar com a polícia em tudo que for solicitada”.

Investigação

“O Senival Moura foi um dos fundadores da TransUnião. Ele foi um dos fundadores da linha de lotação chamada de Guaianazes-São Miguel, a segunda mais antiga da capital”, disse o delegado Fábio Pinheiro Lopes, diretor do Deic, em entrevista coletiva. “E depois acabou fundando essa cooperativa que se chamava TransUnião.” A cooperativa se tornou uma empresa.

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Adauto, amigo de longa data do vereador, teria sido colocado na presidência da cooperativa, mas, segundo as investigações, seria apenas um laranja. “Quem dava as ordens era o Senival Moura”, destacou Lopes.

Com o decorrer do tempo, o PCC percebeu que Moura e Adauto estariam desviando dinheiro da cooperativa. E, por isso, havia “decretado” a morte dos dois.

Porém, diz a polícia, Moura conseguiu ser “afiançado”, com a ajuda de um membro do PCC. O “partido” tomou os ônibus que lhe pertenciam e expulsaram o vereador da empresa. “Em contrapartida eles exigiram o ‘sangue’. Foi a hora que o Adauto foi executado”, declarou Lopes. “Ele (Senival) deu um jeito que o ‘sangue’ fosse o do outro, não o dele.”

A polícia diz que Devanil Souza Nascimento, o “Sapo”, suposto motorista do vereador Senival, levou Adauto para uma padaria, onde ocorreu a execução ainda no estacionamento. Quem teria cometido o homicídio foi Jair Ramos de Freitas, o “Cachorrão”, que virou diretor da empresa de transporte após o crime. Sapo e Cachorrão tiveram a prisão temporária decretada.

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No entanto, Lopes reforçou que ainda busca mais provas para sustentar a associação. “Isso a gente ainda vai provar”. A Justiça não concedeu mandado de prisão do vereador. “No momento da morte do Adauto, nem eu e nem ele tínhamos mais qualquer vínculo com a empresa”, afirma Senival Moura.

Entre 30% e 40% da frota é do PCC

De acordo com a polícia, junto à vítima foi apreendida uma relação de 521 ônibus da empresa. Ao lado do veículo, vinha o nome do “laranja” e também do verdadeiro dono. “Mais ou menos, 30% ou 40% dos ônibus são pertencentes a membros do PCC”, contou Lopes.

“Foi aí que descobrimos que o Senival tinha 13 ônibus”, destacou. Segundo o delegado, na declaração de imposto de renda para campanha das eleições de 2020, o vereador teria declarado apenas um.

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Buscas

A Justiça autorizou buscas ainda em endereços ligados ao atual presidente da empresa, Lourival de França Monario. Dezoito coletivos pertencentes aos investigados foram apreendidos. Nas buscas, foram encontradas “rifas do PCC” e armas. No escritório do vereador, de acordo com a polícia, “farta” documentação sobre a TransUnião foi encontrada.

Histórico

 Senival é líder do PT na Câmara dos Vereadores e presidente da Comissão de Trânsito e Transporte da Casa. Em 2020, após a morte de Adauto, o Estadão noticiou que ele havia solicitado escolta da Polícia Militar. “Houve uma preocupação da presidência (da Câmara) quanto à minha integridade física”, disse na oportunidade. 

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Em 2020, o Estadão detalhou que Senival e Adauto eram perueiros nos anos 1980, antes de o transporte clandestino ser regularizado na gestão Marta Suplicy (2000-2004). Em 2012, o Ministério Público do Trabalho acusou Moura de contratar perueiros como “laranjas”, declarando à Prefeitura serem donos de lotações que, na verdade, pertenceriam ao vereador. As ações trabalhistas terminaram em acordo e o parlamentar negou irregularidades.

Senival é irmão do ex-deputado estadual Luiz Moura, expulso do PT em 2014 após ter sido flagrado pela Polícia Civil em uma reunião em que, segundo a investigação da época, havia membros da facção Primeiro Comando da Capital (PCC). O deputado negou qualquer ligação com a facção criminosa. Diversas investigações do Ministério Público de São Paulo apontaram ligações entre a organização criminosa e as lotações da cidade.