A Polícia Civil de São Paulo prendeu nesta terça-feira, 8, um homem apontado como o maior receptador de celulares do Brasil. Foram encontrados 312 aparelhos em um endereço ligado ao suspeito, no centro da capital paulista. A hipótese é que o local funcionava como uma espécie de central do golpe.
Até aqui, ao menos 64 dos celulares foram reconhecidos como objeto de roubo ou furto, mas a investigação prossegue. O homem foi identificado como Amadou Diallo, de 50 anos. Imigrante de Guiné-Bissau, ele foi preso em flagrante e deve passar nesta quarta-feira, 9, por uma audiência de custódia.
“É o maior receptador de celulares do País”, disse, em coletiva realizada nesta quarta, o delegado-geral da Polícia Civil, Artur Dian. A prisão foi efetuada por policiais do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) a poucas quadras de onde hoje está a Cracolândia, na região de Santa Ifigênia.
Em dois apartamentos ligados a Diallo, localizados em um mesmo prédio na Rua dos Guaianases, apontada como um dos epicentros de receptação de celulares na cidade, também foram encontrados ao menos quatro computadores. A polícia afirma que os equipamentos eram usados para desbloqueio dos celulares.
“Ele extraía os dados, cometia os golpes nesses aparelhos celulares e, em seguida, enviava esses aparelhos para outros países, para que eles pudessem ser comercializados”, disse Dian. Segundo a polícia, quando todas as possibilidades de golpe eram esgotadas, os celulares eram enviados para países da África.
“Lá (em alguns países da África) não tem esse bloqueio que nós temos aqui no Brasil”, disse o diretor do Deic, Fabio Pinheiro. Quando a polícia vistoriou o apartamento no centro, mais de dois terços dos 312 aparelhos estavam embalados para envio e guardados em malas com cadeado. A maioria eram Iphones.
Segundo Deic, o nome de Diallo já havia aparecido em outras investigações do departamento, que acarretaram na prisão de outros três imigrantes suspeitos de fazer receptação em imóveis no mesmo prédio. Desta vez, foi encontrada a maior quantidade de aparelhos com uma só pessoa no período recente.
“Foi um golpe duríssimo nesse receptador, que também fomenta o tráfico no centro”, disse Arthur Dian. “O próprio indivíduo que é um usuário muitas vezes comete o furto para comprar droga.” A reportagem não conseguiu localizar o responsável por representar o suspeito perante a polícia e a Justiça.
Também na terça, a Polícia Civil também efetuou oito prisões por tráfico de drogas na região da Cracolândia. Entre elas, a de um homem que usava peruca para se disfarçar no meio do fluxo. Ao todo, cem quilos de cocaína também foram apreendidos durante a operação, além de porções menores de maconha e crack.
Atuação de ‘gangues quebra-vidro’ preocupa moradores de São Paulo
Como mostrou o Estadão, a atuação das chamadas “gangues quebra-vidro”, que miram celulares de motoristas e passageiros, tem preocupado moradores de São Paulo. No Viaduto Júlio de Mesquita Filho, na região da Bela Vista, no centro da capital, criminosos até se apelidaram de “Bonde do Elevado”. No alvo, estão sobretudo os aparelhos desbloqueados.
“O celular fechado vale de R$ 300 a R$ 500. E o aberto vale de R$ 2 mil a R$ 3 mil, dependendo de quanto o cara (receptador) conseguir pegar da vítima”, disse, no último mês, o delegado Marco Antônio Bernardino Santos, do Deic. Os valores pagos aos criminosos que roubam, portanto, funcionam como uma espécie de “comissão” em cima do valor que se consegue desviar pelo Pix.
Normalmente, os ladrões passam os aparelhos a intermediários, que rapidamente os levam para onde as transferências bancárias tentarão ser feitas. “Com eles mesmos (os quebra-vidros), normalmente não se encontra nada. Eles não ficam com os celulares”, afirmou Santos. Segundo ele, os locais de receptação costumam ficar em regiões como Santa Ifigênia e Campos Elísios.
Em abril do ano passado, o Estadão mostrou que os altos lucros obtidos com roubos por meio do Pix atraíram a atenção do Primeiro Comando da Capital (PCC), também conforme investigação do Deic. Na época, o departamento desarticulou uma célula da organização que atuava em uma pensão na Bela Vista. O local era considerado estratégico por conta da proximidade com a Avenida Paulista.
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