Os agentes da Polícia Militar que abordaram o estudante universitário Marco Aurélio Cardenas Acosta tinham condições de fazer o uso progressivo da força, como determinam normas internas da corporação, avalia o ouvidor das Polícias do Estado, Cláudio Aparecido da Silva, a partir de imagens preliminares do caso.
Aluno do curso de Medicina da Universidade Anhembi Morumbi, Marco Aurélio, de 22 anos, foi atingido por um disparo de arma de fogo na Vila Mariana, zona sul de São Paulo. Imagens da câmera de segurança de um hotel do bairro mostram o jovem entrar no estabelecimento correndo. O rapaz é seguido por um policial militar que o puxa pelo braço, empunhando a arma. Um segundo policial aparece, dando um chute no jovem, que segura seu pé e o faz desequilibrar. Em seguida, o policial de arma em punho dispara na altura do peito da vítima.
Na versão divulgada pela Secretaria de Segurança Pública (SSP) do Estado de São Paulo, o jovem teria golpeado uma viatura e tentado fugir em seguida. Ainda segundo a SSP, ele teria investido contra os policiais ao ser abordado e foi ferido por um disparo (o momento captado pela câmera de segurança do hotel). O rapaz foi levado ao Hospital Ipiranga, mas morreu nesta manhã.
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“Os policiais envolvidos na ocorrência prestaram depoimento, foram indiciados em inquérito e ficarão afastados até a conclusão das investigações”, afirma a pasta. A arma do policial responsável pelo disparo foi apreendida e encaminhada à perícia, e as polícias Civil e Militar apuram as circunstâncias da morte, acrescentou a secretaria.
A Ouvidoria das Polícias informou que também irá acompanhar o caso. “Vamos acompanhar a apuração dessa morte, sempre apelando para que as nossas forças policiais reduzam o nível de atuação com letalidade e garanta a vida das pessoas”, disse Silva. Segundo ele, o órgão irá solicitar acesso às câmeras corporais dos agentes envolvidos.
O ouvidor afirma que as imagens da câmera da entrada do hotel mostram que os policiais estavam em número superior ao estudante. “Essa pessoa abordada também estava sem camisa, desarmada, e os policiais não fizeram o uso progressivo da força, que está determinado por normas internas da própria Polícia Militar.”
“O uso excessivo da força foi feito e isso culminou com a morte daquele jovem abordado, porque (os agentes) teriam condições, sim, de fazer o uso gradativo da força e render aquele jovem e colocá-lo à disposição da autoridade policial”, afirmou. Segundo ele, a ouvidoria recebeu o caso com muita preocupação. “É mais um reflexo da lógica de polícia que está instalada no Estado de São Paulo”.
Presença de PM em enterro foi alvo de críticas
No começo deste mês, a Polícia Militar foi alvo de críticas durante o enterro do menino Ryan da Silva, de 4 anos, que morreu durante ação da corporação no Morro do São Bento, em Santos. Ele brincava na rua quando foi atingido por um tiro na barriga. Segundo a PM, pela dinâmica da ocorrência, o tiro foi disparado provavelmente por um policial.
A presença de policiais militares no enterro, ocorrido no último dia 7, foi vista como uma intimidação por parte de familiares e criticada pelo ouvidor das Polícias. “Mandar viaturas para porta do velório, impedir cortejo, atrapalhar cortejo é uma falta de respeito, de vergonha na cara”, disse Silva, na ocasião. O ouvidor chegou a discutir com um dos policiais que estava no local.
Em nota enviada à reportagem na época, a SSP disse que a PM iria analisar as denúncias de possíveis intimidações por parte dos policiais. “As ações de patrulhamento preventivo e ostensivo na região foram intensificadas desde a última terça-feira, 5, com unidades do policiamento de área e de outros batalhões”, afirmou a corporação.
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