Entre os prédios corporativos da Avenida Brigadeiro Faria Lima, no Itaim Bibi, zona sul de São Paulo, três enormes ovos fritos escorrem pela praça do Teatro B32. As claras esparramadas em local de passagem de pedestres, com semiesferas amarelas em alto relevo, dão forma à intervenção artística Eggcident, produzida pelo artista holandês Henk Hofstra.
A ideia da obra, montada nesta quinta-feira, 14, como parte da 13.ª edição da Virada Sustentável, é alertar o público sobre as mudanças climáticas e o aquecimento global que a Terra vem sofrendo, como se as ruas estivessem se transformando em uma grande frigideira aquecida.
“A inspiração (para o Eggcident)”, disse o autor da obra ao Estadão, “é o aquecimento do globo, da Terra. Em alguns lugares, já faz tanto calor no verão que podemos fazer ovos fritos nas ruas”, afirmou Hofstra.
Apesar de ainda ser inverno no Brasil, São Paulo registrou a tarde mais quente do ano na última quarta-feira, 13, com 33,3°C, conforme medição do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). O recorde anterior era de 32,5°C, do dia 16 de janeiro.
“Anos atrás podíamos fritar ovos em um dia quente em nosso carro, mas agora podemos fazê-lo em quase todas as praças. Temos de parar o aquecimento global”, alertou o artista.
Não é a primeira vez que os ovos gigantes de Hofstra são instalados em São Paulo. O Eggcident já ocupou os espaços do Largo do Batata, em Pinheiros, zona oeste da capital, na Virada Sustentável de 2020. O evento, na época, funcionou de forma híbrida por causa da pandemia da covid-19.
O atual cenário climático no mundo, no entanto, insiste em manter a obra atualizada e os objetivos do autor com sua arte, necessários. Segundo relatório da Organização Meteorológica Mundial (OMM), os últimos oito anos foram os mais quentes já registrados na Terra, com recordes de aumento do nível do mar e aquecimento dos oceanos.
A instalação do Eggcident conta com a parceria da Secretaria Executiva de Mudanças Climáticas da cidade de São Paulo e com licenciamento e produção da BA1 Produções Artísticas. A obra é construída a partir de poliéster, e o tamanho das gemas varia de 120 cm a 150 cm, enquanto as claras podem ter entre 12 e 18 metros de diâmetro.
A instalação ficará disponível para todos os públicos até o término da Virada Sustentável, no dia 24. A obra de Hofstra já esteve também nas ruas de outros países (China, Rússia, Estados Unidos e Chile) e em cidades brasileiras, como Fortaleza, Salvador, Rio de Janeiro e Porto Alegre.
Virada sustentável
A agenda da 13.ª Virada Sustentável promete mais de 800 atividades gratuitas que incluem atrações culturais e intervenções artísticas espalhadas por diferentes pontos da cidade, como vias públicas, parques, estações de metrô, unidades do Sesc e prédios públicos.
Com 12 edições já realizadas, a Virada Sustentável é considerada um dos maiores festivais do País. O tema do evento deste ano, que vai focar no consumo consciente e na responsabilidade social, é “Um Olhar Para 2030″, em referência ao objetivo de desenvolvimento sustentável da Agenda 2030 das Nações Unidas (ONU).
“Nessa edição a gente traz ‘Um olhar para 2030′ como um tema que vai permear toda a programação, convidando as pessoas e participantes a olharem para esses próximos sete anos e o que é possível fazermos nos diferentes temas e metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, que encerram em 2030″, disse André Palhano, idealizador da virada.
Serão projetados em empenas de prédios na Avenida Paulista e em outros locais de grande visibilidade mensagens sobre qual é o desejo dessas instituições para o futuro do planeta. “Convidamos mais de 50 organizações de diferentes áreas a criarem uma manchete, uma notícia dos sonhos para o ano de 2030, com um resultado incrível, que será levado a vários pontos da cidade”, explicou Palhano.
O encerramento da Virada, no dia 24, acontecerá no Parque Villa-Lobos. O evento terá participação de agência das ONU e show de Orquestra Mundana Refugi com participação da cantora Adriana Calcanhoto.
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