O museu Catavento inaugura nesta sexta-feira, 14, a exposição “100 anos do Palácio das Indústrias”, que conta a história do prédio tombado que abriga o museu e oferece uma espécie de retrospectiva do crescimento da capital paulista.
A atração é gratuita para quem já comprou o bilhete de entrada do museu e tem exposição de fotos antigas do palácio, maquetes que mostram como o espaço foi reformulado mais de uma vez para atender às diferentes funções que exerceu ao longo da sua história, além de recursos interativos, como uma espécie de videogame em que o personagem virtual anda pelo palácio.
O Palácio das Indústrias tem 450 metros quadrados, fica no Parque Dom Pedro II, no centro de São Paulo, e é considerado um marco arquitetônico da capital. Foi inaugurado em 1924, depois de 13 anos de obras, como um centro de exposições agroindustriais, mas depois teve uma série de ocupações importantes para a cidade.
Foi sede da Prefeitura, da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) e da Polícia Civil do Estado. Antes, durante a construção, serviu de abrigo para ateliês do escultor modernista Victor Brecheret e do autor do monumento às bandeiras, Nicola Rollo.
Para a montagem da exposição, foram reunidos acervos da Alesp, Liceu de Artes e Ofícios, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, entre outras instituições. Tour por espaços antes indisponíveis para o público e uma oficina de vitrais também fazem parte da programação especial de centenário do prédio, que vai até novembro de 2025 e é patrocinada pela Toyota, com apoio institucional do Serviço Social da Indústria (SESI).
O prédio também teve papel importante na formação do centro como ele é hoje - foi construído na região de várzea do Rio Tamanduateí, no período de expansão do centro. Em 1982, foi tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat), tanto pela importância das suas utilizações, como pela sua arquitetura eclética, que mistura elementos greco-romanos, góticos e esculturas que representavam o progresso de São Paulo no início do século XX. Esses elementos também são abordados na exposição.
Mergulho na história de São Paulo e das artes
Os visitantes da exposição podem ver o crescimento e as mudanças no centro de São Paulo em uma maquete interativa e animada por projeção, assim como as alterações feitas no prédio. A simbologia por trás dos ícones arquitetônicos da fachada, como a gárgula que fica em uma das torres, a escultura quimera, que combina elementos mitológicos, e o cão guarda, que carrega uma luminária, também é explicada.
“A exposição faz um resgate histórico, explica sobre arte, esse sincretismo das esculturas, e resgata o motivo pelo qual São Paulo se tornou São Paulo“, diz Ricardo Pisanelli, curador da exposição e superintendente da área de projetos do museu Catavento. “Partindo dessa reflexão histórica, a gente pode pensar sobre o que precisamos fazer para melhorar o centro hoje e a importância de valorizar o patrimônio histórico.”
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O Catavento vai realizar também uma oficina de vitrais - em referência aos clássicos vitrais que ficam no salão azul do palácio, onde ficava o plenário da Alesp entre 1947 e 1968 - e tours por espaços normalmente restritos ao público, como o subsolo do palácio, com túneis em arcos que foram reformados na restauração do prédio, feita pela Lina Bo Bardi nos anos 1990. É necessário agendar no site ou pegar uma senha para participar das atividades (leia mais abaixo).
Um terraço com vista panorâmica do centro de São Paulo, duas torres e o mezanino do salão azul também ficam disponíveis para visitação. Um funcionário do museu acompanha o grupo, explicando a importância histórica daqueles espaços e apontando outros prédios icônicos do centro paulistano próximo ao museu.
Fotos históricas do palácio, com as da época em que era ocupado por policiais, na década de 1970, e quando recebeu visita de Jânio Quadros, nos anos 1950, foram espalhadas pelo museu Catavento no exato ponto em que foram tiradas.
“A ideia é que os visitantes vejam essas fotos históricas e sintam que, por estarem aqui hoje, no mesmo lugar, também fazem parte da história do Palácio das Indústrias e de São Paulo”, diz Pisanelli.
Confira os módulos da exposição:
- Região: conta com maquetes da região central de São Paulo e remonta as origens da cidade, mostrando o início da urbanização e a influência de projetos europeus nesta transformação, a exemplo do Palácio das Indústrias;
- Arquitetura: são expostas reproduções, feitas por impressoras 3D, das esculturas e detalhes arquitetônicos do palácio, explicando sua simbologia, o contexto da época e os desafios enfrentados durante a construção;
- Usos: documenta a diversidade de funções do prédio, desde as exposições agroindustriais, até a passagem da sede da assembleia legislativa, da polícia civil e, agora, o museu Catavento;
- Renovações: aborda as restaurações que adaptaram o palácio para abrigar a Prefeitura e, atualmente, o museu Catavento, recuperando sua função original de espaço expositivo.
Alesp, Prefeitura, casa dos bombeiros e da 1º DP: a cronologia do Palácio das Indústrias
O Palácio das Indústrias foi construído no início do século XX, período de expansão econômica em São Paulo, com patrocínio de grandes agricultores de café, donos de ferrovias e indústrias. Na época, serviu como um centro de exposição dos produtos e máquinas paulistanas, sendo palco para negócios.
O edifício foi projetado pelo arquiteto italiano Domiziano Rossi, do escritório de arquitetura Ramos de Azevedo, o principal da época, responsável também pelo Teatro Municipal, o Mercado Municipal e a Pinacoteca do Estado de São Paulo (antigo Liceu de Artes e Ofícios). Sua construção começou em 1911 e a inauguração foi feita em 29 de abril de 1924.
Durante a fase de execução das obras, o palácio abrigou ateliês de escultores importantes do período, como Nicola Rollo e Victor Brecheret - naquele momento, o modernismo brasileiro começava a nascer. Entre 1917, antes da inauguração, e 1947, funcionou para as exposições agroindustriais. Depois, foi a sede da Alesp até 1986 e, em seguida, casa do Corpo de Bombeiros e do 1º Distrito Policial. Em 1982, foi tombado como patrimônio histórico.
Em 1989, o palácio foi sugerido como nova sede para a Prefeitura de São Paulo, na época sob gestão de Luiza Erundina. Neste período, foi feito o restauro do edifício, comandado pela arquiteta Lina Bo Bardi, responsável também pelo Museu de Arte de São Paulo (MASP). O palácio havia perdido algumas das suas características originais quando se tornou sede da polícia e, neste momento, esses elementos originais foram resgatados.
Em 2004, a Prefeitura saiu do Palácio das Indústrias para ocupar o Edifício Matarazzo, no Vale do Anhangabaú, onde permanece até hoje. O palácio ficou desocupado por alguns anos, até que, em 2007, o governo de São Paulo o dedicou ao museu Catavento, administrado por uma organização social (OS) e ligado à Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado. Um novo restauro foi feito para as instalações do museu, que abriu oficialmente em 2009.
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Como visitar a exposição?
Nenhuma das atrações de centenário do Palácio das Indústrias é cobrada. O visitante precisa comprar apenas a entrada para o museu Catavento, que normalmente já oferece exposições sobre ciência a R$ 18 a inteira e R$ 9 a meia entrada. Às terças-feiras, o acesso ao museu é gratuito para todos. E, durante a exposição de centenário, a Toyota, patrocinadora da atração, garantirá gratuidade às segundas quartas-feiras de cada mês.
Para fazer o tour pelos locais que não ficam abertos ao público normalmente, como o subsolo do palácio, ou participar da oficina de montagem de vitrais em dias de semana, é preciso agendar horário no site do Catavento. Já aos fins de semana, é preciso pegar uma senha, no site ou presencialmente.
O museu funciona de terça a domingo, das 9h às 17h, com fechamento da bilheteria às 16h. O endereço é Avenida Mercúrio, s/n, Parque Dom Pedro II, centro de São Paulo.
Serviço:
Museu Catavento
Endereço: Avenida Mercúrio, s/n, Parque Dom Pedro II, centro de São Paulo
Valor: R$ 18 a inteira e R$ 9 a meia entrada. Gratuidade às terças-feiras. Exposição faz parte do acervo do Museu e não tem custo extra
Quando: de 14 de novembro de 2024 até novembro de 2025
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