Prefeitura de São Paulo fará repasse de R$ 527,8 mil mensais para manter atividades do Liceu

Instituição havia dito que fecharia por crise financeira; Prefeitura defende legalidade do acordo e diz que escola entra na rede pública

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Por Caio Possati
Atualização:

A Prefeitura de São Paulo vai realizar um repasse mensal de R$ 527,8 mil ao Colégio Liceu Coração de Jesus, em Campos Elíseos, no centro da cidade, para manter as atividades da escola. A tradicional instituição estava sob risco de fechar as portas por falta de alunos matriculados.

A informação foi antecipada pelo jornal Folha de S. Paulo. O convênio foi formalizado pela gestão Ricardo Nunes (MDB) por meio de despacho publicado no Diário Oficial da Cidade em 31 de dezembro.

Liceu Coração de Jesus abrirá 500 vagas por meio de convênio com a Prefeitura de São Paulo. Foto: HELVIO ROMERO/ESTADÃO

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Desse montante, R$ 388,5 mil serão destinados para custear 500 matrículas de alunos da rede pública no Liceu, sendo 250 para a educação infantil e outras 250 para o Ensino Fundamental I (do 1º ao 5º ano), todas em tempo integral. O restante, R$ 193,4 mil, será usado para custear o aluguel do prédio onde funciona a escola, inaugurada há mais 137 anos.

Em agosto do ano passado, o Liceu Coração de Jesus anunciou que encerraria as suas atividades escolares por problemas financeiros agravados pela queda gradual de matrículas — em cinco anos, caiu de 500 alunos para 190. Entre os motivos da baixa procura, está a insegurança provocada pelo espalhamento de usuários de drogas da Cracolândia, conforme disse ao Estadão, na época, o padre Cássio Rodrigo de Oliveira, porta-voz da Inspetoria Salesiana de São Paulo.

Após o anúncio, Nunes disse que pretendia fazer convênio com a escola para custear mensalidades de 200 alunos, menos da metade do oferecido agora. Outra ideia cogitada por ele na ocasião foi a de transformar o local numa Escola Municipal de Educação Fundamental (Emef). Conforme a Prefeitura, a unidade passa pertencer à rede municipal.

Verba pública

A medida, sem debate no Legislativo, é similar ao modelo adotado para creches conveniadas. Mas esse tipo de uso de verba pública para custear matrículas na rede privada não costuma ser celebrado para o ensino fundamental paulistano, que não tem o mesmo déficit de vagas públicas que a educação infantil.

O artigo 213 da Constituição prevê repasses para o ensino fundamental e o médio para alunos pobres, “quando houver falta de vagas e cursos regulares da rede pública na localidade da residência do educando”. Além disso, o Executivo precisa demonstrar que a aplicação da verba será feita com base em diagnóstico que mostre que haverá o preenchimento das vagas custeadas, e que a rede de ensino seja incapaz de absorver a quantidade de alunos que vivem naquela região.

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“Para aferir se essa conduta da Prefeitura é adequada, é necessário identificar se a ela fez estudo na região que demonstre que vai haver ampliação das vagas e procura por elas”, afirma Alessandra Gotti, doutora em Direito Constitucional.

“É preciso mostrar também que a rede [de ensino] não conseguirá absorver essa demanda” diz ela, também membro do Comitê de Assessoramento do Tribunal de Justiça de São Paulo para monitorar a criação de vagas na educação infantil.

Ao Estadão, em agosto, Nunes disse que o Liceu já tinha, na maioria, alunos bolsistas. “Estamos falando de um público que já faz uso do ensino gratuito, portanto não tem condições de arcar com uma escola privada”, afirmou à época. A ideia, segundo ele, era que no novo formato os alunos usem uma escola pública municipal dentro do espaço do Liceu.

Em nota, a Prefeitura afirmou que “o processo foi analisado pelos setores jurídicos e não foi identificada inconstitucionalidade no modelo”. Disse ainda que o Liceu adotará o currículo municipal e as diretrizes da secretaria. A parceria, continuou, é mais uma ação para a “garantia dos direitos dos estudantes ao ensino”.

Procurado, o Colégio Liceu disse que o serviço de educação ofertado será gratuito e, como contrapartida, vai executar o que está previsto no Plano de Trabalho, incluindo um ensino em conformidade com o Currículo da Cidade. A instituição afirmou também o período de matrículas vai começar nos próximos dias.

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