Capivaras do Rio Pinheiros: Prefeitura de SP tem plano para esterilizar animais

Objetivo é evitar o aumento na população desses animais, que podem ser agentes de transmissão de doenças e causar acidentes de trânsito, de acordo com os envolvidos no projeto

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Foto do author José Maria Tomazela
Atualização:

A Prefeitura de São Paulo tem plano de esterilizar as capivaras que vivem às margens do Rio Pinheiros, na capital, para evitar o aumento na população desses animais. Maior roedor do mundo, pesando até 90 quilos, a capivara pode ser agente de transmissão de doenças e causar acidentes de trânsito, segundo os envolvidos no projeto. Ao mesmo tempo, os animais são uma atração à parte para os paulistanos que utilizam as ciclovias do Rio Pinheiros e do Parque Bruno Covas. Em Belo Horizonte, um programa igual quase causou a extinção das capivaras da Lagoa da Pampulha.

O plano de castração está sendo discutido no momento em que um animal da espécie entrou no debate nacional após o Ibama, órgão federal do meio ambiente, ter multado o influencer Agenor Tupinambá e mandado entregar para um centro de animais silvestres a capivara Filó, uma fêmea que ele criava como animal de estimação, no Amazonas. A Justiça, no entanto, deu liminar para que a capivara permaneça com ele. O processo ainda terá julgamento final.

Capivaras filhotes em atendimento no Centro de Manejo e Conservação de Animais Silvestres do município de São Paulo. Foto: Prefeitura de São Paulo/Divulgação

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Em São Paulo, já são cerca de 120 capivaras vivendo ao longo dos 24 quilômetros do Rio Pinheiros, segundo o Centro de Apoio e Proteção Animal (Projeto Capa), ONG que há três anos monitora e protege os roedores.

De acordo com a Divisão da Fauna Silvestre do município, embora elas não sejam consideradas um problema, podem vir a ser, caso a população continue crescendo. A área em que vivem é altamente urbanizada e margeada por vias urbanas de tráfego intenso, como a Marginal do Pinheiros.

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Conforme a presidente da ONG, Mariana Aidar, o aumento populacional pode levar as capivaras a uma disputa territorial. “Se não estabilizarmos, essa população pode aumentar e os animais começam a brigar muito por território. Hoje não existe uma superpopulação, por isso se faz necessária uma intervenção antes que possa virar um problema”, disse. Este ano, segundo ela, houve acidentes entre veículos e capivaras na Marginal do Tietê. “Aqui (Marginal do Pinheiros) ainda não tivemos.”

A ativista explica que não existe a possibilidade de deslocar esses animais para outras áreas, pois pode ser perigoso para eles, colocando em risco os grupos e gerando desequilíbrios. “Cada grupo de capivaras tem apenas um macho alfa. Quando outro macho tenta se aproximar da área de outro grupo, eles brigam e podem se ferir gravemente, vindo inclusive a óbito.”

A esterilização, segundo a ativista, evita a procriação, mas não tira dos indivíduos sua natureza grupal.

Carrapato é risco

Outro risco potencial das capivaras é a transmissão da febre maculosa, doença grave que pode levar a óbito. O roedor é hospedeiro do carrapato estrela, transmissor dessa doença.

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A ONG faz com regularidade a coleta de carrapatos e do sangue das capivaras, que são levados para a Universidade de São Paulo (USP), onde as amostras são examinadas pelo médico veterinário Marcelo Labruna, especialista em febre maculosa. “Até agora, não encontramos a bactéria Rickettsia rickettsii, causadora da doença, em carrapatos ou capivaras, mas a orientação é para que a população não se aproxime dos animais”, disse a ativista.

Desde 2022, quando as águas do rio passaram a apresentar melhora na qualidade, devido à retirada dos esgotos pelo Projeto Novo Rio Pinheiros, do governo estadual, foi observado um aumento no número de pessoas que utilizam a ciclovia do rio Pinheiros.

Com isso, o risco de acidentes envolvendo ciclistas, visitantes e capivaras também aumentou. “É muito importante que as pessoas não se aproximem e, muito menos, tentem tocar as capivaras. São animais dóceis, mas silvestres e nunca se sabe a reação”, disse Mariana.

Extinção em BH

Desde janeiro deste ano, o Projeto Capa vem se reunindo com a Divisão de Fauna Silvestre da Prefeitura de São Paulo para discutir o plano de esterilização. A ONG conta com equipe de veterinários, biólogos e agentes de campo e obteve autorização do Departamento de Fauna (Defau), órgão da pasta estadual do meio ambiente, para fazer o manejo desses animais in sito (no local em que vivem). As discussões envolvem também o custo do projeto, que pode chegar a R$ 2,5 mil por animal a ser esterilizado.

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A ativista Mariana Aidar acompanha as capivaras do Rio Pinheiros há três anos. Plano prevê a esterilização dos animais para evitar aumento da população. Foto: Projeto Capa/Divulgação

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Em Belo Horizonte, um plano de controle das capivaras que habitam o entorno da Lagoa da Pampulha, um dos cartões postais da capital mineira, quase levou à extinção delas. Em 2017, os animais foram esterilizados, microchipados e passaram por um censo que contabilizou 56 animais na bacia.

Em 2022, esse censo foi atualizado e contabilizou apenas 12 capivaras. “Tendo em vista o trabalho de manejo e castração realizado, é natural que esta população diminua com o passar do tempo. Algumas capivaras morrem por idade, em disputas por territórios ou outras dinâmicas comuns da sua interação com a fauna existente no local”, informou, em nota, a prefeitura.

No entorno do Pinheiros, na capital paulista, a extinção não deve acontecer, segundo a presidente da ONG Capa, porque outras capivaras podem ter acesso à região. “Dificilmente estaremos provocando a extinção dos grupos, uma vez que represas e parques desembocam tanto no Rio Tietê como no Rio Pinheiros, podendo chegar novos indivíduos a qualquer momento”, disse.

A Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística (Semil) do governo estadual informou, através do Defau, que há necessidade de solicitar autorização e apresentar plano de trabalho para manejar animais silvestres, como a capivara. “O documento é exigido tanto para o órgão público quanto para empreendimento privado”, disse a pasta, citando as resoluções que regem o tema.

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O Defau informou ainda que, até o momento, não recebeu documento solicitando a esterilização dos grupos de capivaras que ocupam as margens dos rios Tietê e Pinheiros. Acrescentou que, independentemente da esterilização, já foi feito levantamento dos pontos principais por onde as capivaras saem dos espaços às margens dos rios para entrar na pista. O estudo, segundo a pasta, integra o plano de monitoramento permanente que está sendo elaborado de forma conjunta, com a participação de todos os setores envolvidos.

Já a Prefeitura de São Paulo informou, por meio da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente, que as tratativas com o Projeto Capa para esterilizar as capivaras estão em estágio inicial. O objetivo seria o de controlar a população ao longo dos anos.

“Os detalhes de como o trabalho pode ser feito serão discutidos em planejamento entre as instituições e os órgãos de fiscalização, devendo seguir todas as resoluções e normativas. A partir daí será apresentado um plano de trabalho. Caso avance, a iniciativa dependerá de autorização de outros órgãos ambientais”, disse.

Ainda segundo a pasta, em 2022, o Centro de Manejo e Conservação de Animais Silvestres (CeMaCas) do município recebeu 17 capivaras vindas da Marginal Pinheiros para atendimento. Este ano, até o final de abril, foram recebidas 20, a maioria oriunda da mesma área.

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A Guarda Civil Metropolitana (GCM) orienta os munícipes a não se aproximarem dos animais por conta do risco de ataques (mordedura). Em caso de animais na via, pede que seja acionada a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) pela central 156, ou a Central de Monitoramento da GCM, pelo 153.

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