‘PCC já matou juiz e 70 policiais. Isso é mais grave do que o crime no aeroporto’, diz procurador

Para Marcio Sérgio Christino, morte de empresário em Guarulhos não representa aumento da ousadia de facção criminosa

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Para o procurador de Justiça do Ministério Público de São Paulo (MP-SP) Marcio Sérgio Christino, o assassinato do empresário Antonio Vinicius Lopes Gritzbach na sexta-feira, 8, no Aeroporto de Guarulhos, se confirmado que tenha sido praticado pelo Primeiro Comando da Capital (PCC), não representa mudança de patamar ou aumento expressivo da violência da facção. Christino é autor do livro Laços de Sangue, sobre a história do PCC.

“A facção matou o juiz Machado (Antonio José Machado Dias), em Presidente Prudente, em 2003, em frente ao fórum; matou o Ismael Pedrosa (diretor da Casa de Detenção em 1992, quando 111 presos foram mortos por policiais militares) em 2005; matou 70 policiais durante os atentados de 2006, e o que aconteceu agora é que espanta? Tudo isso é mais grave do que o crime desta sexta-feira”, avalia Christino. “Parece que o pessoal esqueceu (dos crimes anteriores).”

Peritos examinam corpo de empresário baleado no Aeroporto de Guarulhos. Foto: Polícia Civil/Divulgação

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Para o procurador, inclusive, a ação no Aeroporto de Guarulhos não foi sofisticada. Uma dupla, com dois fuzis, realizou pelo menos 27 disparos, conforme a perícia. Gritzbach foi atingido em várias partes do corpo, como cabeça, tórax e braços.

“O aeroporto é um lugar importante, mas não é uma agência bancária, que tem segurança reforçada. É um lugar aberto, não tem um policiamento especial”, avalia Christino. “O PCC apenas cumpriu o que sempre fez, inclusive de forma bem parecida com crimes anteriores: matou alguém que havia traído a facção.”

Marcio Sérgio Christino é autor do livro 'Laços de Sangue', sobre a história do PCC. Foto: FELIPE RAU/ESTADÃO

O empresário Antonio Vinicius Lopes Gritzbach era delator de uma investigação sobre lavagem de dinheiro do PCC. Entre os bandidos, dizia-se que havia um prêmio de R$ 3 milhões pela cabeça do delator.

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Gritzbach fechou acordo de delação premiada, homologado pela Justiça em abril. As negociações com o Ministério Público Estadual duravam dois anos e ele já havia prestado seis depoimentos. Na delação, falou sobre o envolvimento do PCC, a maior organização criminosa do País, com o futebol e o mercado imobiliário. O empresário também deu informações sobre os assassinatos de líderes da facção.

Tráfico de drogas

Gritzbach já havia sido alvo de um atentado na véspera do Natal de 2023, quando um tiro de fuzil foi disparado contra a janela do apartamento onde morava, no Tatuapé, na zona leste, mas o autor errou o alvo.

Para o procurador Marcio Sérgio Christino, é descabida a comparação entre o Brasil e o México quanto à criminalidade. “Lá existe um domínio territorial, é diferente daqui. O Rio de Janeiro vive uma situação específica, mas nos outros lugares (do Brasil) essa comparação não tem cabimento”, afirma.

“O que o PCC quer é o monopólio do tráfico de drogas no País, expandir seus domínios. Mas não podemos comparar com o que ocorre em outros países, o México, a máfia italiana. A máfia nasceu junto com o Estado, na Itália. Aqui o PCC não existe desde a proclamação da República, é bem recente. Não dá pra comparar”, avalia.

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