Das mais de 50 mil pessoas que confirmaram presença pela internet no "churrascão da gente diferenciada", apenas cerca de 150 estavam na frente do Shopping Pátio Higienópolis às 14 horas de ontem, segundo a Polícia Militar. Mas a manifestação contra a resistência de moradores do bairro a uma estação do Metrô foi ganhando corpo e, às 16h30, entre 700 e mil pessoas - dependendo de quem fazia estimativa (Companhia de Engenharia do Tráfego, a CET, ou da PM) - se aglomeravam já na Avenida Angélica.Tanto a Avenida Higienópolis. onde fica o shopping, quanto a Angélica chegaram a ser fechadas pela PM, mas o centro da manifestação estava na esquina da Angélica com a Rua Sergipe, onde o Metrô planejava uma parada da futura Linha 6-Laranja. A Associação Defenda Higienópolis fez um abaixo-assinado contra a obra. Na semana passada, o Metrô anunciou que a estação mudaria de lugar. A companhia informou que a decisão não era baseada na demanda dos moradores, mas sim na proximidade com outra parada, a Higienópolis-Mackenzie.A manifestação foi, em parte, motivada pela declaração de uma moradora que temia a presença de "gente diferenciada" no bairro após a chegada do metrô. Não faltaram frango, farofa e refrigerante - trazidos de casa por alguns estudantes e oferecidos aos curiosos. Os seguranças do shopping - em maior número do que em um sábado comum - acompanhavam o ato de perto, mas, segundo a Polícia Militar, não houve incidentes. "É uma manifestação pacífica. Vamos apenas acompanhar e organizar o trânsito", disse a tenente Graça. Segurando uma faixa que dizia "Pessoais diferenciados" (sic) e com chapéu de couro, o baiano Gerson Carneiro, de 35 anos, destacava-se no ato. "É um protesto contra a exclusão social, promovida pelos governos de São Paulo. É uma exclusão atrás da outra." Demandas. Metroviários também aproveitaram a manifestação para distribuir panfletos que reivindicavam aumento salarial para a categoria e outras exigências "para garantir um transporte público que atenda toda a população". Integrantes do Movimento Passe Livre e estudantes também se manifestaram. Cada um com uma reivindicação diferente.Dentro do shopping, muitos não entendiam a iniciativa. Na frente da entrada, uma senhora comentava: "Mas eles estão protestando contra o metrô? Eles também não querem a estação aqui?", ao que a outra respondeu: "Não sei, mas acho que querem. Não dá para entender, né?"Na frente do centro comercial, foi queimada uma catraca de ônibus e as chamas serviram para que os manifestantes assassem queijo coalho e asinhas de frango. "Vim para comer, beber, ouvir pagode e dançar", disse o ator Ivan Zancan, de 22 anos, que estava fantasiado de palhaço. Já a antropóloga Keyllen Nieto, de 37 anos, resolveu protestar de outra forma. Ela se fantasiou de empregada doméstica. Um outro manifestante estava vestido como camelô e vendia por R$ 30 DVDs falsificados da banda Calcinha Preta. Até as 16h, ele não tinha vendido nenhum.Por volta das 15h, uma churrasqueira portátil finalmente fazia jus ao nome do evento, grelhando linguiças, abobrinhas, pães de alho e carne. Parte da comida foi distribuída a moradores de rua. Em seguida, os manifestantes carregaram a churrasqueira até a esquina que receberia a estação.Um varal com roupas velhas foi estendido entre dois postes. No fim da tarde, a manifestação se tornou uma festa, com pessoas tocando bumbo e tamborim.
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