Ataque a empresa de valores tem tiroteio de 2h e 1 morto em Ribeirão

Ao menos 50 criminosos participaram da ação contra a Brink’s e transformaram em área de guerra bairros da zona da zona leste

PUBLICIDADE

Foto do author José Maria Tomazela

SOROCABA - Uma quadrilha com ao menos 50 integrantes atacou uma base da empresa de valores Brink’s e transformou em cenário de guerra, na madrugada desta segunda-feira, 29, bairros da zona leste de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo. Os criminosos incendiaram quatro carros e um caminhão para bloquear as vias de acesso e usaram explosivos para arrebentar as paredes do prédio.

Frentista e funcionários de prédios foram tomados como reféns e viram a ação; explosivos causaram danos até em edifícios vizinhos, mas rápida intervenção da polícia evitou que qualquer quantia fosse levada Foto: Célio Messias

PUBLICIDADE

Moradores ouviram oito ou nove explosões. A Polícia Militar reagiu rapidamente e travou intenso tiroteio com os criminosos que durou mais de duas horas. Os bandidos não conseguiram roubar nada. Um suspeito foi morto e três foram presos, um deles ferido.

Moradores relatam momentos de tensão e terror. O frentista Wellington da Silva estava no posto vizinho ao prédio da empresa, quando se viu sob a mira dos criminosos. Dominado com o funcionário de uma garagem, ele foi obrigado a se deitar enquanto os bandidos explodiam o muro da Brink’s.

“Assim, do nada, a frente do posto ficou cheia de carros, aí dois deles perguntaram se eu era segurança e me revistaram. Eu ergui a blusa para mostrar que não estava armado e eles mandaram ficar quietinho, dizendo que o negócio deles era só pegar o dinheiro e ir embora.”

Publicidade

Caminhão foi incendiado para bloquear acessos à empresa Foto: Célio Messias

Silva disse ter ouvido ao menos cinco explosões e conta que um assaltante mandou que ele tapasse os ouvidos, por causa do barulho. “Estavam com roupa preta, de máscara ou capacete, e seguravam fuzil e pistola. Pareciam bem organizados”, disse. Algum tempo depois, ele ouviu as sirenes de polícia e os tiros. O impacto das explosões quebrou vidros na loja de conveniência e derrubou o forro do posto. A funcionária de uma transportadora, na frente da Brink’s, contou que ali também os vidros quebraram com as explosões.

Frentista de outro posto da região, Claudio Luis Lopes disse ter visto os criminosos em fuga, com as armas do lado de fora do veículo, fazendo disparos. “Parecia coisa de filme, mas a gente se protegeu para não tomar um tiro de graça.” Pelas redes sociais, moradores relataram cenas de guerra. “Tinha tiro na esquina de casa, as explosões balançavam minhas janelas, tudo muito forte”, contou a internauta Maria Rita Costa Oliveira. “O povo de Ribeirão acordou como se estivesse na Síria. É só bomba, tiro e explosões”, publicou Weberton Amorim. “Tem bandido nas ruas ainda. Aqui perto de casa foi só tiros”, descreveu Ane Monteiro. 

Pregos retorcidos espalhados pelas ruas também dificultaram a perseguição Foto: Célio Messias

Além de queimar os veículos nas ruas, os bandidos espalharam pregos retorcidos para dificultar a perseguição. Mesmo assim, a polícia chegou com rapidez ao local e obrigou os criminosos a fugirem, antes de obter acesso aos cofres da empresa. Na perseguição, na Avenida Presidente Kennedy, um suspeito foi baleado e morreu. Identificado como Fábio Donner Silva Martins, de 32 anos, ele já havia sido preso em 2015, acusado de liderar uma quadrilha que explodia caixas eletrônicos em Goiás. Outros dois suspeitos foram presos em Ribeirão Preto e um terceiro, ferido por um tiro, acabou detido em Serra Azul, cidade da região. Cinco carros, dois caminhões e dois fuzis usados pela quadrilha foram apreendidos. Em um dos veículos, abandonado com outros em um canavial, foram encontrados explosivos. 

O comandante da PM de Ribeirão, tenente-coronel Marcelo Jerônimo de Melo, considerou a ação policial bem-sucedida. “Houve uma ação pronta e a polícia conseguiu romper as interdições e fazer o cerco. Eles estouraram a Brink’s, mas fugiram sem levar o dinheiro. Temos um suspeito morto, outros presos e nenhum policial ferido”, disse.

Publicidade

Três suspeitos foram presos e um foi morto no confronto com os policiais Foto: Célio Messias

De manhã, equipes da prefeitura foram mobilizadas para desobstruir as ruas onde os veículos foram queimados. Ao menos dez linhas de ônibus deixaram de circular. Em nota, a Brink’s informou que está à disposição das autoridades para eventuais esclarecimentos. “A empresa reforça que os colaboradores já receberam a devida assistência e passam bem.” 

Reprise

O ataque foi quase uma cópia do assalto à unidade da empresa de valores Prosegur, em julho de 2016, na cidade. A diferença é que, na ação anterior, os criminosos conseguiram roubar R$ 51,2 milhões. A quadrilha queimou veículos e atirou contra transformadores, deixando parte da cidade sem energia. Houve perseguição e tiroteio. Um morador de rua, usado como escudo humano, e um policial militar rodoviário, atingido por um tiro na cabeça durante a perseguição, foram mortos. Oito suspeitos acabaram denunciados pelos crimes.

Para lembrar: crimes além da fronteira

Publicidade

PUBLICIDADE

Outros casos recentes tiveram como alvo empresas de valores. Em março de 2016, uma quadrilha usou um comboio de carros e caminhões para assaltar uma base da Protege, em Campinas. Durante mais de uma hora, os moradores do bairro São Bernardo ficaram à mercê da quadrilha, que usou explosivos e metralhadora ponto 50 para manter a polícia afastada. Os bandidos levaram cerca de R$ 50 milhões, valor não confirmado pela empresa. Policiais civis que investigavam o assalto foram presos, acusados de achacar suspeitos. 

Em abril de 2017, uma quadrilha formada por criminosos brasileiros supostamente ligados ao Primeiro Comando da Capital (PCC) protagonizou o maior assalto da história do Paraguai, explodindo a empresa de valores Prosegur, em Ciudad del Este, na fronteira com o Brasil. Um policial foi morto e quatro pessoas ficaram feridas. Parte da quadrilha acabou presa em território brasileiro. A polícia estimou o roubo em US$ 40 milhões, mas a empresa confirmou um valor bem menor. 

Já em outubro do ano passado uma quadrilha bloqueou o acesso a um quartel da Polícia Militar e usou explosivos para assaltar uma base operacional da Protege em Araçatuba. Um policial civil foi baleado e morreu. Outras duas pessoas ficaram feridas. Os criminosos fugiram, levando R$ 10 milhões.