Quando tem mais roubo em SP: dia, noite ou madrugada? Quando é mais perigoso na sua rua?

Radar da Criminalidade do ‘Estadão’ revela faixa de horários com mais delitos em todos os endereços da cidade; governo diz monitorar dados e usar estratégias como o Abrigo Amigo, que usa a tecnologia para aumentar segurança em pontos de ônibus

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Foto do author Gonçalo Junior
Atualização:

Em que período do dia você toma mais cuidados com sua segurança, conferindo onde guardou o celular ou estacionou o carro? Se costuma sair à noite, vale redobrar as checagens. O intervalo das 18h às 23h59 registrou a maior proporção de roubos e furtos na cidade de São Paulo ao longo do 1º semestre do ano, segundo dados compilados por meio do Radar da Criminalidade do Estadão.

  • Foram 19.707 registros neste horário (ou 28% do total), ante 7.119 (10%) na madrugada.
  • Outros 11.543 registros foram à tarde (16%), além de 10 mil pela manhã (14%).
  • Cerca de 30% dos BOs não determinam o horário dos crimes, que abrangem roubos e furtos de veículos e celulares, latrocínios e sequestros.
  • No levantamento, a madrugada é o intervalo entre 0h e 5h59; a manhã começa às 6h e vai até 11h59; a tarde vai das 12h às 17h59; e a noite vai de 18h às 23h59.

A Secretaria da Segurança Pública do Estado diz monitorar os indicadores e ressalta a queda geral de roubos e furtos na cidade. Destaca ainda estratégias como o Abrigo Amigo, que usa a tecnologia para reduzir a violência em pontos de ônibus à noite (leia mais abaixo).

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Dentre 94 DPs, o período noturno registrou mais ocorrências em 87 deles no período. Em Pinheiros, onde o 14º DP fez 2.242 registros criminais, maior número da cidade, 25% foram à noite; outros 11% foram verificados à tarde; 11% se efetivaram na madrugada, enquanto 8% foram pela manhã (45% das ocorrências dessa região não têm registro de horário).

Região de classe média alta e com ampla oferta de opções de escritórios, comércio e entretenimento, Pinheiros tem visto alta de crimes patrimoniais ao longo do ano. Já o centro paulistano, que nos últimos anos vinha sofrendo com a atuação de ladrões e a dispersão da Cracolândia, tem visto queda de roubos neste ano.

A ferramenta calcula o número de ocorrências em via pública, como roubos e furtos, em um raio de 500 metros de uma localização. A ferramenta ganha neste mês nova funcionalidade: apresenta o turno em que ocorreu cada crime.

Dados do mês de julho reforçam tendência

As estatísticas de julho, divulgadas na sexta-feira, 30, reafirmam a tendência do semestre. Em Pinheiros, área com o mais ocorrências (435), 52% foram registradas à noite, ante 24% na madrugada, 13% à tarde e 10% pela manhã dentre os crimes com registros de horário.

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Nos outros distritos policiais recordistas de ocorrências, os períodos mais perigosos são tarde e noite. Na Sé, região com 400 ocorrências, 37% foram registradas à noite, ante 38% à tarde. Em Perdizes, onde houve 370 registros - foram 34% à noite, 30% à tarde e 26% pela manhã.

Ladrões buscam horários com menor luminosidade e áreas com algum movimento para cometer crimes; a Secretaria da Segurança Pública informa que realiza o 'acompanhamento contínuo dos indicadores criminais'. Na imagem, entrega de viaturas da PM em abril deste ano Foto: Felipe Rau/Estadão

Por que há mais crime à noite em relação à madrugada?

Vários fatores ajudam a explicar porque a noite registra mais ocorrências que a madrugada. “Tanto roubos como a maioria dos furtos só podem ocorrer quando há pessoas circulando. De madrugada, na prática, ocorrem roubos de residências”, diz o analista criminal Guaracy Mingardi, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. A baixa luminosidade também contribui para o comportamento dos ladrões.

Mingardi usa como exemplo o caso de furto de celulares, delito mais frequente nas delegacias dos Jardins (1.323 ocorrências), Consolação (1.225) e Perdizes (1.184). “A maioria ocorre em locais movimentados. O ladrão pega o celular da mão do usuário ou de dentro do carro. São modalidades distintas, mas normalmente feitas pelos mesmos criminosos. É necessário que tenha gente circulando, senão ele fica muito exposto”, diz.

“Já os roubos de celular ocorrem muitas vezes quando as pessoas já estão voltando para casa, do trabalho ou escola, o que implica ocorrerem mais tarde”, acrescenta. Nesse recorte, a delegacia de Capão Redondo registrou mais ocorrências (1.012).

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Há um número significativo de registros criminais, cerca de 20 mil, que não trazem informações sobre o horário dos delitos. “É provável que boa parte desses dados se refira aos furtos. Nesse tipo criminal, a pessoa não consegue precisar quando foi furtada. Por isso, o boletim de ocorrência não costuma trazer essa informação”, diz Jacqueline Valadares, presidente do Sindicato dos Delegados de Polícia de São Paulo.

Mudança de hábitos ajuda a entender dados criminais

Jorge Lordello, especialista em segurança pública e privada, vê ainda uma mudança nos hábitos da população nos últimos anos. “As famílias evitam sair de casa de madrugada por causa do medo de serem assaltadas e por novos hábitos. As pessoas se acostumaram a ficar em casa após a pandemia. Quando os criminosos percebem a mudança, vão adaptando seus horários.”

A pandemia exigiu diversas medidas para conter o avanço da covid-19 a partir de março de 2020, entre elas, o isolamento social. Com isso, houve crescimento significativo dos serviços delivery e a adoção do trabalho remoto (home office) – muitas empresas adotam o sistema híbrido. “O criminoso se adapta às tecnologias de pagamento e às mudanças sociais. As pessoas se acostumaram a ficar mais tempo dentro da casa”, diz Lordello.

Quais são as regiões com mais registros de crimes?

As delegacias nos distritos de Pinheiros e Perdizes lideram as ocorrências criminais. Essas regiões contabilizaram, respectivamente, 2.242 e 2.195 registros desse tipo de crime em vias públicas, de janeiro a junho. A delegacia da Consolação vem a seguir (1.958).

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No recorte específico de julho, a região de Pinheiros apresenta salto expressivo do total de ocorrências, passando de 358 em julho do ano passado para 435 registros no mesmo mês de 2024. O principal tipo de crime cometido na região foi o roubo de celular, passando de 138 para 198 registros no mesmo período.

A Secretaria de Segurança Pública afirma que os roubos em geral recuaram 12,6% e os furtos, 3,4% no 1º semestre de 2024, ante o mesmo período de 2023. Ainda segundo o órgão, nesse intervalo, foram presos ou apreendidos 22.012 infratores, o que representa alta de 4,7% em relação ao ano anterior.

“Dentre esses, 6.636 foram detidos nas regiões central e oeste, correspondentes à 1ª e 3ª Delegacias Seccionais, responsáveis pelos distritos policiais citados pela reportagem”, diz a secretaria.

No caso do roubo de veículos, os locais com mais ocorrências são Capão Redondo (166), São Mateus (139), Jardim Herculano (152). Na modalidade furto, a zona leste possui as localidades mais visadas, como Tatuapé (723), Dr. Aldo Galiano (514) e Vila Prudente (442). Em todos esses recortes, prevalecem as ocorrências no período noturno.

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Abrigo Amigo recebeu quase 1,6 mil chamadas no primeiro ano

A Secretaria da Segurança Pública informa que realiza o “acompanhamento contínuo dos indicadores criminais para o desenvolvimento de ferramentas de monitoramento da dinâmica criminal e de gestão para nortear o policiamento e as ações investigativas visando ao combate à criminalidade e a ampliação da sensação de segurança da população”.

“Entre outras iniciativas da atual gestão baseadas na análise dos índices criminais está o projeto Abrigo Amigo, parceria do governo de SP com a empresa de mídia digital Eletromidia, que se concentra no centro e cujo mapeamento se deu a partir das regiões classificadas como mais sensíveis no período noturno, especialmente para o público feminino”, afirma o órgão.

Em seu primeiro ano de funcionamento, o projeto recebeu 1.587 chamadas solicitando companhia. Só em 2024, foram 939 acionamentos, conforme dados da SSP.

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