Há 40 anos, em 14 de setembro de 1974, o Metrô começou a operar comercialmente em São Paulo. Era um trecho pequeno, de apenas 6,4 km – ligando as estações Jabaquara, considerada o marco zero, e Vila Mariana. Por dia, o sistema transportava 2.858 passageiros – ante os cerca de 4,5 milhões de hoje.
Contratado como auxiliar técnico especializado, o hoje especialista de operação Carlos Acir Chassot, de 62 anos, conta que no dia da inauguração foi um dos incumbidos de controlar, na mão, o tráfego dos trens. “Isso ainda não era informatizado como hoje. Então, utilizávamos um painel magnético para controlar os intervalos dos trens, com o objetivo de manter uma distância segura entre eles”, explica. “Os operadores me informavam por rádio a posição de cada um deles e eu fazia o controle visual pelo painel. Os deslocamentos tinham de ser rápidos, porém seguros.”
Em 1927, na São Paulo orgulhosa da riqueza do café e dos casarões da Avenida Paulista, ventilou-se pela primeira vez a necessidade de transporte subterrâneo sobre trilhos – coisa que já existia em Londres, desde 1863, e em Nova York, desde 1904. “Como único meio de eliminar o congestionamento do Triângulo (região central da cidade), recomendamos que se dê início a um sistema subterrâneo e de linha em planos diferentes para ser propriedade da cidade e pago por um pequeno incremento nas passagens, devendo a própria seção ser uma estação subterrânea no Largo da Sé e uma linha em direção leste”, escreveu o Estado em 2 de setembro daquele ano.
Como empresa, o Metrô foi fundado em 1968 – em 24 de abril foi formada oficialmente a Companhia do Metropolitano de São Paulo. “Inicia-se hoje uma empresa destinada a ombrear-se, dentro de pouco tempo, com as maiores da América Latina”, discursou, na ocasião, o prefeito José Vicente de Faria Lima.
Apesar de o primeiro teste dos trens ter ocorrido em 1972 – em evento que contou com a presença de diversas autoridades, mas cujo trajeto durou apenas 2 minutos – e de um programa que fez com que alguns trens funcionassem, em caráter experimental, nos fins de semana ao longo de 1974, nos meses que antecederam a abertura, os próprios funcionários da companhia tinham dúvidas de como o novo meio de transporte iria operar.
“No primeiro dia, eu fiquei incumbido de fazer um trabalho de observação. Tínhamos de entender como o público reagiria à novidade, mas também como nós mesmos, funcionários, iríamos nos comportar em relação à tecnologia”, conta Laurindo Martins Junqueira Filho, de 69 anos, que trabalha na companhia desde 1973. Físico de formação, ele havia sido contratado como analista de métodos operacionais – hoje integra um núcleo de cooperação técnica com outros metrôs.
“Antes de trabalhar no Metrô, eu era professor da USP (Universidade de São Paulo)”, conta Junqueira Filho. “Mas aí, com a ditadura militar, acabei me tornando preso político. E olha como o Metrô acabou entrando antes na minha vida, ainda que de maneira indireta: eu estava no (Presídio) Tiradentes, em 1972, e, numa certa madrugada, a gente começou a ouvir ruídos estranhos. Descobrimos que vinham de um túnel, um tal de Metrô que ia passar por ali. Nem fazíamos ideia direito do que era isso. Mas nem preciso dizer como qualquer ideia de túnel mexe com o imaginário de quem está preso, não é?” Solto pouco tempo depois, seria nos subterrâneos do Metrô que ele passaria, trabalhando, as décadas seguintes. / EDISON VEIGA
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