GASTRONOMIA QUEIJO VINHO CAFÉ CACHAÇA TURISMO BATE VOLTA. Foto: Tiago Queiroz
Foto: Tiago Queiroz

Queijo, vinho, cachaça e observar as estrelas: turismo rural e astronômico pertinho de SP

Com resquícios da época cafeeira, município conta sua história por meio do turismo rural e ainda abriga o maior telescópio aberto ao público do Brasil

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Foto do author Ana Lourenço
Atualização:

A 130 km de São Paulo, Amparo, uma cidade de 68 mil moradores que ainda se destaca pela tradição. Seja em suas casas antigas do centro que carregam traços da época cafeeira ou nas fazendas centenárias que tiveram suas evoluções atreladas às histórias das famílias que ali cresceram.

A própria história da cidade começa com famílias cafeeiras de Atibaia, Bragança Paulista e Nazaré que, no século 19 se fixaram num bairro chamado Retiro do Camandocaia, atraídos pela fertilidade das terras da região. Em 1824, os moradores, devotos da Virgem Maria, a quem chamavam de Senhora do Amparo, decidiram construir uma capela dedicada à santa - que acabaria por dar nome à cidade.

Amparo é rica em histórias das antigas fazendas de café, que agora investem no turismo gastronômico, como a Fazenda Atalaia, com seu queijo premiado Tulha Foto: Tiago Queiroz/Estadão

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Na Rua 15 de Novembro, as antigas e imponentes construções do centro nos transportam para a época cafeeira e seus casarões históricos. A maioria foi adaptada e hoje virou bar, pizzaria ou restaurante, que preservam a história da cidade em sua fachada.

Outras, como a Igreja do Rosário, a Biblioteca Municipal ou a Catedral Nossa Senhora do Amparo ainda mantêm suas propostas originais, com reformas para a conservação.

Outro ponto turístico religioso, um pouquinho mais afastado do centro, é o Cristo Redentor de Amparo, com 12 metros de altura. Por estar em um ponto alto, o espaço também é ótimo mirante.

Tradição

A cidade prosperou com o café. Mas em 1929 veio a crise econômica de 1929 e o produto era o principal item de exportação do Brasil. Assim, foi recomendado aos produtores do País que queimassem seus plantios, limitando, assim, a oferta do grão.

Na Fazenda Benedetti - que surgiu, aliás, com imigrantes italianos que vieram em 1886 para trabalhar como meeiros de café - o investimento passou a ser na cana-de-açúcar. Jorge Benedetti, proprietário da fazenda, fala com orgulho sobre a história do bisavô.

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“Naquela época, a colheita era tanta que os patrões davam uma porcentagem aos colaboradores. E foi assim que meu bisavô juntou dinheiro e conseguiu comprar a fazenda”, relata. Com a crise, receberam um alambique de cobre e um engenho como pagamento de dívida e a partir daí as plantações de café passaram a dividir espaço com a cana.

“No começo, a produção de cachaça era para consumo próprio e o excedente ele vendia para os vizinhos. Mas a fama da boa cachaça se espalhou e a produção foi aumentando”, acrescenta Benedetti.

Jorge Benedetti na 'Reserva do Nonno' parte da fazenda dedicada à cachaça feita em homenagem ao patriarca da família Foto: Tiago Queiroz

A quarta geração da família continua o legado da família, sempre modernizando o espaço. “Dá orgulho trabalhar aqui. Penso nos meus avôs, no que passaram, as historias que os tios contam, e dar continuidade a esse trabalho na fazenda me traz orgulho. E quero prosperar para deixar assim para as futuras gerações”, diz.

Quem visita a fazenda pode degustar gratuitamente todos os licores e cachaças produzidos ali ou fazer o tour guiado (duração de 1h30 e R$65 por visitante) da propriedade, que também tem degustação e harmonização da cachaça com queijos.

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Como também há padaria no espaço, é possível tomar o “Café Sem Pressa”, especialmente dedicado a paulistanos que não costumam aproveitar a calmaria da fazenda. Para quem tem tempo também, outra opção é fazer um piquenique, que custa R$ 170 por caixote, e conta com espumante ou vinho ou suco e petiscos da padaria.

História viva

“O queijo é um produto vivo para quem entende isso”, declara Paulo Rezende, proprietário da Fazenda Atalaia que há quase 30 anos transforma o queijo em manifesto na Fazenda Atalaia. “Nossos produtos incentivam a valorização de espaços que traduzem a história e o valor cultural da produção do alimento. O que mais quero é que o visitante venha e tenha uma experiência”, afirma.

Assim como as outras fazendas da região, a propriedade começou com o cultivo do café, mas foi transformada em outras economias até chegar na sua função atual. O local foi comprado em 1940 pelos avós maternos de Paulo: Caram José Matta e Zakie José Matta.

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Rosana, mulher de Rezende que saiu de Minas para morar com o marido na fazenda de sua infância, teve a ideia de produzir queijo para sobrevivência.

Rosana Rezende mostra o famoso queijo Tulha da fazenda Atalaia Foto: Tiago Queiroz

São mais de 20 produtos derivados do leite produzidos na fazenda, incluindo o Tulha, que em 2016 foi o primeiro queijo artesanal brasileiro a ganhar medalha de ouro no concurso internacional World Cheese Awards. “Um queijo paulista ter ganhado um prêmio fora do Brasil deu uma luz para o queijo brasileiro”, conta Rezende. Com o sucesso, a fazenda passou a abrir as portas para a visitação.

“Há 10 anos, se fosse receber um amigo na sua casa, iria colocar um vinho e um queijo importados. Hoje, você coloca tudo nacional e ainda conta a historia de todas as coisas. E é exatamente isso que faz mudar: a pessoa gosta do produto quando gosta da história. Essa nova visão muda as coisas”, reflete o proprietário.

De fato, ao visitar o espaço, é difícil não ficar apaixonado pela história da família e pelo amor que cada um dos 70 funcionários do local mostram com o espaço. Para conhecer mais profundamente, o visitante pode fazer uma visita guiada (R$ 45), que inclui degustação de queijos ou se deliciar com as comidas da fazenda tanto no café da manhã (servido das 9h as 11h) ou do almoço (12h30 até 15h30).

A partir de junho, a fazenda pretende ter o resgate da cultura matriz e colher as primeiras plantações de café - recomeçadas há dois anos.

Vista de tirar o fôlego

O antigo profissional de TI Fabio Nascimento não tem na família a história de uma fazenda centenária, mas sempre quis voltar a Amparo para ficar perto do pai, Luiz Nascimento. Foi só depois de um período trabalhando na Tailândia que veio a ideia de aprender sobre vinhos.

“Decidi que ia produzir vinho em Amparo. Quando estava estudando sobre o terreno, vi que teve um movimento de plantação de uva na cidade na década de 1940″, conta ele.

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Assim surgiu a Vinícola Terrassos, espaço no topo da cidade, com vista para a Serra da Mantiqueira, que oferece 12 tipos de vinhos. Uma das uvas plantadas ali, aliás, a Maximo, foi desenvolvida exclusivamente para o plantio na região, que utiliza a dupla poda (assim como São Roque).

Aproveite a viagem para fazer um piquenique com um bom vinho e uma vista linda para a Serra da Mantiqueira  Foto: Tiago Queiroz

“A ideia é que seja um lugar para aproveitar o dia. Por isso mesmo, temos hospedagem (a partir de R$ 390 a diária) e diversas opções de enoturismo para visitantes: piquenique (a partir de R$270), tour guiado com degustação (R$30), além dos eventos programados: Jantar da lua cheia e o Sunset”, conta Nascimento. Antes de visitar, atente-se que algumas atividades exigem reservas antecipadas.

Para chegar na vinícola, é preciso dirigir cerca de 800 metros em uma estrada de terra, assim como para chegar em um dos pontos que mais arrancam suspiros da cidade: o Polo Astronômico.

“Temos o maior telescópio em operação no Estado e o maior do Brasil aberto ao público. Esse equipamento é um telescópio refletor com 650 milímetros de abertura, além de vários outros telescópios presentes no observatório”, conta o diretor do espaço, Carlos Mariano.

A vista dos astros fica ainda melhor devido à localização rural, pois a área com pouca iluminação faz com que o céu seja ainda mais interessante de observar e permite que as estrelas e até a lua seja tenham uma visibilidade mais focada.

As sessões ocorrem só aos sábados, sendo necessária compra prévia da entrada pelo site (R$ 56). O ingresso dá direito a visita ao planetário - que tem sistema de projeção digital onde são simulados shows estrelares imersivos -, observação do céu a olho nu e pelos telescópios. “Usamos o planetário para simular o céu e assim o visitante chegar no telescópio preparado para o que vai observar”, explica.

Serviço

  • Fazenda Benedetti

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Endereço: Rodovia SP- 360 Amparo-Serra Negra, Km 138

Horário de funcionamento: Segunda a domingo, das 9h às 17h

Mais informações: www.fazendabenedetti.com.br

  • Fazenda Atalaia

Endereço: Rodovia SP 352 - Km 137,5

Horário de funcionamento: Terça a domingo, das 9h às 17h

Visitação guiada: Não precisa de agendamento prévio, mas é feita em horário fixo: de terça a domingo, ás 10h e ás 14h30

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Mais informações: www.fazendaatalaiaamparo.com.br

  • Vinícola Terrassos

Endereço: Rodovia SP 352 - Km 137

Horário de funcionamento: Sexta, das 11h às 17h, Sábado: 11h às 19h; Domingo e Feriados: 11h às 18h

Mais informações: www.terrassos.com.br

  • Polo Astronômico de Amparo

Endereço: Estrada do Sertãozinho s/no

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Horário de funcionamento: Sábado, às 19h e às 21h15

Mais informações: www.poloastronomicoamparo.com.br

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