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Quem era a policial morta por empresário nos Jardins: mãe e especialista em resolver latrocínios

De acordo com a Secretaria da Segurança de São Paulo, investigadores buscavam pistas de furto quando foram recebidos a tiros pelo dono do imóvel

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Foto do author Gonçalo Junior
Atualização:

A policial civil Milene Bagalho Estevam, de 39 anos, morta no sábado, 16, por um empresário nos Jardins, região central, era especialista em resolver casos de latrocínios, homicídios e se diferenciava pelo acolhimento às famílias das vítimas, segundo os colegas da corporação.

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A investigadora do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) e Felipe Wilson da Costa, seu colega, foram atacados a tiros pelo proprietário da residência, o empresário Rogério Saladino após tocarem a campainha, segundo a Secretaria da Segurança Pública.

Eles estavam em busca de imagens de câmeras de segurança para investigar um furto ocorrido na mesma rua, no dia anterior, ainda conforme a pasta. O colega da investigadora interveio, baleando o empresário.

A investigadora Milene Bagalho Estevam, de 39 anos, foi morta a tiros por um empresário ao ser confundida com uma assaltante, de acordo com a Secretaria de Segurança Pública. REPRODUÇÃO REDES SOCIAIS Foto: REPRODUÇÃO REDES SOCIAIS / undefined

O velório de Milene ocorreu na tarde deste domingo, 17, em São Paulo, e foi marcado por homenagens da corporação à investigadora e por momentos de consternação, segundo relatos de alguns presentes. A filha de Milene, de 5 anos, participou do velório. Colegas de trabalho se emocionaram tanto com o choro da criança a ponto de deixar a sala várias vezes.

Policiais que trabalharam com Milene afirmaram ao Estadão que ela era “uma profissional extremamente dedicada às investigações” nos sete anos atuando na Polícia Civil. Ela atuava na 1ª Deic, especializada em roubos e latrocínios.

A investigadora e seu parceiro, Felipe Wilson da Costa, se destacavam na resolução dos crimes, alguns de grande repercussão. Um deles foi a prisão do falso entregador suspeito de matar Renan Silva Loureiro, 20, em roubo no Jabaquara, zona sul. Renan se ajoelhou após ser abordado por Acxel Gabriel Peres, que confessou os disparos.

“No Deic, tenho 650 policiais e a Milene era a que mais se destacava. De cada 10 latrocínios que a gente atendia, ela e o parceiro esclareciam oito. Uma perda irreparável”, disse Fabio Pinheiro Lopes, diretor do Deic, ao portal Metrópoles.

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Outro caso foi a prisão de uma dupla suspeita de cometer dez assaltos em São Paulo, um deles o latrocínio contra o policial militar Luis Soares da Silva, em março. Na ocasião, a vítima também chegou a implorar pela vida.

A descoberta de uma quadrilha que alugava salas comerciais na zona sul para roubar as empresas também está na lista casos resolvidos pela investigadora. Em agosto de 2022, um grupo transferiu R$ 10,7 milhões para 87 contas bancárias diferentes após invadir a sede de uma empresa. Ao todo, 38 suspeitos foram presos.

Milene também apresentava uma forma particular de acolher os familiares das vítimas, contam os colegas.

Milene também era criativa para se aproximar dos bandidos. Em agosto do ano passado, a investigadora marcou um falso encontro em um cinema para atrair um suspeito de latrocínio até um shopping, na zona norte, onde ele foi preso. Henrique Gutemberg era acusado de assassinar o jovem Gabriel dos Reis em um assalto em abril de 2022.

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No sábado à noite, ela estava em uma operação quando foi auxiliar outra delegacia numa investigação de furto. Saladino havia acabado de receber convidados em um almoço na mansão na Rua Guadelupe, onde também estavam sua mulher e seu filho.

Ele desconfiou que a abordagem seria um “golpe” e, segundo o boletim de ocorrência, abriu o portão da garagem automático e disparou imediatamente contra Milene, que caiu ao ser atingida no braço e na axila.

Felipe Costa acertou Saladino. Quando o patrão caiu, um funcionário do empresário - Alex James Gomes Mury, de 49 anos - pegou a arma do chão para atirar contra os policiais e também foi baleado por Costa, que escapou vivo do tiroteio.

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O empresário foi atingido na região torácica. Ele era sócio do Grupo Biofast, da área de medicina diagnóstica que está no mercado desde 2002. Saladino também era conhecido em Trancoso, na Bahia, onde tinha uma casa de veraneio e gostava de fazer festas, segundo notas de colunas sociais.

Perícia foi realizada no imóvel, onde os policiais encontraram duas pistolas de calibres .45 e .380, usadas por Saladino e Cury na reação à abordagem policial. “As quatro armas envolvidas na ocorrência, sendo duas dos dois policiais civis e duas do empresário, foram apreendidas”, acrescentou a SSP.

No imóvel do empresário, os policiais afirmam ter encontrado 20 envelopes com porções de maconha, haxixe e drogas sintéticas. Ele ainda tinha, segundo a SSP, passagem por homicídio e lesão corporal, em 1989; e por crime ambiental, registrado em 2008.

Por meio de nota, a família de Rogério Saladino afirmou. “Agradecemos as manifestações que temos recebido nas últimas horas e pedimos que a intimidade da família seja preservada diante da tragédia ocorrida ontem. Rogério Saladino era um empresário de sucesso, empreendedor que confiava no Brasil. A tragédia ocorrida ontem ceifou a vida de uma competente policial civil, de um profissional que trabalhava na residência e do próprio Rogério Saladino”. / COLABORARAM JOÃO KER e RENATA OKUMURA.