‘Encontrei ele pedindo socorro, sofrendo’, diz pai de estudante de medicina morto pela PM

Policial atirou em jovem de 22 anos na Vila Mariana, em São Paulo. Família relata falta de informações da PM e cobra respostas do governo

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Por Juliana Domingos de Lima, Ítalo Lo Re e Giovanna Castro
Atualização:

Os pais de Marco Aurélio Acosta cobram explicações da polícia e do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) sobre a morte do universitário de 22 anos, ocorrida nesta quarta-feira, 20, em uma abordagem da Polícia Militar.

Julio Cesar Acosta Navarro, pai do estudante, disse que esteve com o filho no hospital, antes do jovem ser encaminhado ao centro cirúrgico. “Uma luta no hospital para poder salvar a vida dele. Encontrei ele pedindo socorro, sofrendo”, disse ao Estadão nesta quinta, 21.

Marco Aurélio Acosta era aluno do curso de Medicina da Universidade Anhembi Morumbi Foto: Reprodução/Instagram/futmedanhembi

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Cardiologista, o pai afirmou ter pedido à polícia informações sobre o disparo para tentar salvar o filho, mas diz que ninguém da corporação se pronunciou. Ele trabalha no Instituto do Coração do Hospital das Clínicas, ligado à Faculdade de Medicina da USP, onde também atua como professor colaborador.

“Todo esse bando de 16 policiais, com quatro viaturas, estavam já no hospital quando pedi informações para ver questões técnicas, que distância [do tiro], tudo importante para que o cirurgião tenha uma ideia melhor das consequências. Ninguém me falou nada.”

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Antes de ir ao hospital, Julio revela que esteve no hotel em busca do filho. Ele tentou obter mais informações sobre o ocorrido, mas foi apenas informado que Marco tinha sido socorrido. “Os caras não me deram informações, disseram que tinha ocorrido um incidente, que tinha que esperar.”

Na quarta, 20, em entrevista ao programa Cidade Alerta, da TV Record, a família já tinha cobrado respostas das forças de segurança e do governo.

“Quero ver alguém que me dê explicações para dar conforto a toda a família. Quem vai devolver o meu filho?”, questionou Julio Cesar Acosta Navarro.

À emissora, a mãe de Marco Aurélio se dirigiu diretamente a Tarcísio de Freitas: “O que o senhor está fazendo para evitar mortes como a do meu filho? O que justifica esse policial ter matado o meu filho?”. Ela cobrou que o governador tenha “a decência de pedir perdão” a ela.

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A mãe também afirmou que o jovem era solteiro e estava no hotel com uma moça, morava com os pais e mais dois irmãos e era “um menino bom”. Marco Aurélio estudava Medicina na Universidade Anhembi Morumbi.

Marco Aurélio, estudante de medicina morto pela PM, em foto ao lado do pai, Julio Cesar Acosta Navarro Foto: Divulgação/Julio Cesar Acosta Navarro

Como ocorreu o disparo

Imagens da câmera de segurança de um hotel do bairro mostram o jovem entrar no estabelecimento correndo. O rapaz é seguido por um policial militar que o puxa pelo braço, empunhando a arma. Um segundo policial aparece, dando um chute no jovem, que segura seu pé e o faz desequilibrar. Em seguida, o policial de arma em punho dispara na altura do peito da vítima.

Na versão divulgada pela Secretaria de Segurança Pública (SSP) do Estado de São Paulo, o jovem teria golpeado uma viatura e tentado fugir em seguida. Ainda segundo a SSP, ele teria investido contra os policiais ao ser abordado e foi ferido por um disparo (o momento captado pela câmera de segurança do hotel). O rapaz foi levado ao Hospital Ipiranga, mas morreu na manhã de quarta.

A arma do policial responsável pelo disparo foi apreendida e encaminhada à perícia, e as polícias Civil e Militar apuram as circunstâncias da morte. “Os policiais envolvidos na ocorrência prestaram depoimento, foram indiciados em inquérito e ficarão afastados até a conclusão das investigações”, afirma a pasta.

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De acordo com a SSP, as imagens registradas pelas câmeras corporais serão anexadas aos inquéritos conduzidos pela Corregedoria da Polícia Militar e pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).

De janeiro a setembro, a polícia de São Paulo matou 496 pessoas, o maior número para o período desde 2020, quando ocorreram 575 mortes.

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