Atualizado às 7h15 SÃO PAULO - Inaugurado incompleto há dois meses, o Trecho Leste do Rodoanel tem atraído 35% da demanda de caminhões prevista. A média é de 13 mil veículos pesados por dia, ante estimativa de 37 mil. No mês seguinte à entrega, houve piora de 10% no trânsito da capital no horário de pico da manhã e de 7% à tarde, conforme contagem da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET). A justificativa do Rodoanel é melhorar o trânsito na Grande São Paulo.
O governo do Estado argumenta que a piora no trânsito seria ainda maior sem a construção das pistas e diz que 260 mil caminhões deixaram de circular na cidade graças ao anel viário (que tem os Trechos Oeste e Sul em plena operação). É preciso lembrar ainda que os caminhões são proibidos de circular na capital nos horários de pico e há outros fatores que influenciam, como a retirada de faixas de circulação para carros e caminhões - por causa de faixas exclusivas de ônibus e, mais recentemente, das ciclovias.
Para o consultor em Engenharia Urbana Luiz Célio Bottura, o Trecho Leste já deveria ter efeito no trânsito paulistano. “Mas 13 mil veículos não é impacto nenhum. São Paulo é uma cidade sem muitas alternativas.”
Já o consultor em Transportes e professor da Fundação Educacional Inaciana (FEI) Creso de Franco Peixoto diz que obras rodoviárias em locais como a Grande São Paulo tendem a impactar pouco o tráfego, porque a taxa de ocupação é baixa, de 1,5 passageiro por veículo, em média, e a frota não para de crescer. Neste ano, a capital ganhou 127 mil carros. “Temos de focar não em veículos por hora, mas em passageiros por hora”, diz. Ele defende mais investimentos em transporte de massa, como ônibus e trens.
Promessa. Quando liberou a primeira fase da obra, o Estado prometeu a abertura integral do Trecho Leste para o começo de setembro, o que não se concretizou. Agora, a promessa é para daqui a dois meses.
Só que quem passa pelo canteiro de obras ainda vê muita terra - e procedimentos de terraplenagem. Na tarde de sexta-feira, a reportagem passou pelo Rodoanel. No Trecho Leste, o asfalto ainda trepidava muito e em alguns momentos a sensação era de circular sozinho, dado o pequeno fluxo de veículos, mesmo caminhões.
O presidente do Sindicato das Empresas de Transportes de Carga de São Paulo e Região (Setcesp), Manoel Sousa Lima Junior, explica que os caminhoneiros ainda preferem utilizar a Jacu-Pêssego, para seguir diretamente para a Dutra. “Quem está transportando produtos perigosos, como combustíveis e cloro, por exemplo, tem restrições na Ayrton Senna.”Falta de segurança. A sensação de insegurança e a falta de serviços como postos de combustível e restaurantes são as justificativas usadas pelos motoristas para não usar o novo trecho. Para o taxista Sebastião Severino da Silva, de 42 anos, que trabalha no Aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, apesar de viagens entre a cidade e o litoral sul serem mais rápidas pelo anel viário, o clima de "isolamento" o afasta do local. "Não tem nada lá. Se eu tiver de parar no meio da estrada para uma emergência corro risco de ser assaltado." Já o motorista Cesar Siqueira, de 48 anos, que mora em Itaquaquecetuba e faz fretes na capital e no interior, diz que usar o Rodoanel está fora dos planos. "Depois que inauguraram o trecho, eu tentei sair da Castelo Branco para chegar em casa e rodei 80 quilômetros a mais. Gastei mais tempo, combustível e dinheiro." Quando estiver completo, o ramal leste do anel viário se conectará à Rodovia Presidente Dutra, atingindo 43,5 quilômetros. A obra custará R$ 3,2 bilhões à concessionária SPMar, que já gerencia o Trecho Sul, aberto em 2011.