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Roubos em Perdizes: polícia monitora 2 endereços de atenção; veja quais

Alta de ocorrências em área da zona oeste paulistana preocupa autoridades, que monitoram risco de migração de crimes do centro para a região

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Foto do author Ítalo Lo Re

A migração da criminalidade do centro para outras regiões de São Paulo pode ser uma das razões para a alta de roubos em bairros da zona oeste, como Perdizes, avalia a Secretaria da Segurança Pública do Estado (SSP). A região central, nos últimos anos, vinha sofrendo com a sensação de insegurança e o espalhamento da Cracolândia.

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Conforme a secretaria, a melhora de indicadores do centro resulta de uma série de medidas, como operações focadas em roubos de celular e gangues de bicicleta. Especialistas dizem que migrações são comuns, mas ponderam que Pinheiros já apresentava aumento nos roubos desde 2023.

O Estadão lançou nesta quinta-feira, 27, o Radar da Criminalidade, ferramenta que ajuda a entender as dinâmicas de crimes como roubos e furtos de celulares e de veículos na cidade.

Consulte a ferramenta aqui.

Perdizes está entre os distritos onde roubos mais cresceram em São Paulo Foto: GOOGLE MAPS

Perdizes é a 7ª área com a maior elevação de roubos nos cinco primeiros meses do ano, mas é a única com mais de mil casos entre os 20 distritos com maiores altas. Os furtos também cresceram na região: 4.561 casos de janeiro a maio, ante 3.847 no mesmo recorte do ano passado, alta de 18,56%.

Entre os pontos de atenção por lá, autoridades policiais ouvidas pelo Estadão destacam:

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  1. Os arredores da Estação Barra Funda, onde há grande circulação de pessoas;
  2. O encontro da região com a Lapa, onde a presença de viadutos facilita as fugas.

Comandante da 3ª Companhia do 4° Batalhão da Polícia Militar, o capitão Daniel Di Luca afirma que a PM também acompanha de perto outros locais de grande movimentação, a exemplo do Parque da Água Branca e do Allianz Parque, mas não vê os casos atrelados a esses locais.

“São mais relacionados a uma característica geográfica da região, que facilita a fuga dos indivíduos”, afirma. Segundo ele, diante da ocorrência de roubos e furtos na região de Perdizes, a corporação aumentou, nos últimos meses, os patrulhamentos feitos por equipes de moto.

“Geralmente eles (criminosos) agem em dois ou três indivíduos de bicicleta, fazem isso para confundir tanto a polícia quanto as vítimas no momento da abordagem. E rapidamente um passa o celular para o outro”, disse o capitão. Atualmente, são oito veículos à disposição para auxiliar nesse tipo de crime.

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A publicitária Maria (nome fictício) estava esperando por um carro de aplicativo em frente a um bar na Rua Cayowaá, em Perdizes, quando um “falso motoboy” apareceu repentinamente, já com arma de fogo em punho, e anunciou o assalto. Era por volta da meia-noite.

Sob ameaça, ela e mais quatro amigas entregaram os aparelhos. “Por sorte, ele não pediu o desbloqueio dos celulares, talvez por estarmos num pequeno grupo”, disse ela, de 40 anos. A publicitária conta que se mudou de Santa Cecília para lá justamente atrás de mais segurança, mas diz que ficou traumatizada com a situação. “Não me sinto mais segura como antes.”

Em dezembro, um adolescente de 15 anos foi baleado na barriga ao reagir a um assalto no fim da noite em Perdizes. De acordo com a polícia, o jovem chegou a ficar internado, mas recebeu alta. Ele foi abordado por um motociclista enquanto aguardava a liberação da portaria de um prédio na Rua Diana. Ao menos um suspeito foi preso.

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‘É um gato e rato’, diz major

“É um ‘gato e rato’. A polícia identifica esse modus operandi, começa a bloquear e paulatinamente eles migram”, afirma o major Rodrigo Vilardi, da Coordenadoria de Análise e Planejamento (CAP) da SSP. “O que traria preocupação seria uma migração substancial, de o crime simplesmente sair do centro.”

A pasta afirma que, de janeiro a maio, o trabalho integrado das polícias paulistas, baseado em inteligência policial e com uso de novas ferramentas de tecnologia, “conseguiu reduzir em cerca de 27% o número de furtos e roubos de celulares na capital”.

A queda principal é no centro, mas foram cerca de 16,6 mil roubos e furtos a menos de celular na capital em toda a cidade, segundo balanço oficial.

Entre as ações adotadas, a secretaria deflagrou no ano passado a Operação Mobile, que resultou na apreensão de 2.509 aparelhos, sendo 1.025 devolvidos às vítimas até maio deste ano. Ao todo, 232 criminosos foram presos durante as ações.

Em paralelo, a recorrência de roubos de celular no centro fez a Prefeitura incrementar a Operação Delegada, convênio firmado com o governo do Estado para contratar agentes de segurança em horário de folga para reforçar a segurança, sobretudo no centro.

A gestão municipal afirma que aumentou significativamente os investimentos na operação delegada, ampliando a oferta de vagas diárias para 2,4 mil em toda a cidade de São Paulo. “Somente na região central, a média de policiais militares atuando é de aproximadamente 1,4 mil″, diz.

‘Falsos motoboys’ e gangues de bicicleta marcam roubos de celular

O perfil principal dos criminosos que praticam o roubo de celular em São Paulo é o de jovens com mais de 16 anos, segundo autoridades policiais. Destacam-se, além disso, “falsos motoboys” (criminosos vestidos de entregadores de aplicativo) e as gangues de bicicleta, que normalmente agem em grupo.

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A atuação de bandidos deste último grupo causou medo em regiões mais centrais, como Campos Elíseos e República. Com as ações adotadas pelas autoridades, a atuação não deixou de ocorrer por lá, mas agora parece estar mais dividida, na avaliação da Polícia Militar.

“Com esse foco nas atuações no centro, porque a gente estava com uma situação no começo do ano passado muito preocupante, no centro, no ‘fluxo’ (da Cracolândia), acaba sendo até previsível algumas migrações”, afirma o major Rodrigo Vilardi, da Secretaria da Segurança Pública.

Segundo ele, isso ocorreu primeiramente em Perdizes, que registrou 161 casos de roubo ou furto de celular a mais em em abril (ante o mesmo período do ano passado) e, mais recentemente, em Pinheiros, que teve 45 casos a mais em maio.

“Em Perdizes, essa pequena migração em abril já demandou ações policiais ostensivas e, em maio, esse aumento já foi menor, de 19 casos”, afirma Vilardi. “Houve maior aumento em Pinheiros em maio, o que pode ser até um reflexo, agora mais regionalizado, das ações em Perdizes.”

Na avaliação de Alan Fernandes, membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, movimentações desse tipo, de fato, costumam ocorrer. “O crime é um grande mercado, então uma atuação em bairros ou mais pontual da polícia pode fazer com que esse mercado se rearranje buscando novas fontes”, diz.

Ao mesmo tempo, ele reforça que mudanças observadas por estatísticas criminais costumam ser multifatoriais. “Pinheiros vem em um processo de subida (de roubos) anterior às quedas no centro”, destaca Fernandes. “Ou seja, aparentemente há outro fator que se coliga às operações no centro.”

Pinheiros é o 24º distrito com a maior alta de roubos (3,72%), mas os números absolutos chamam a atenção, sobretudo quando se comparados à série histórica do bairro e ao fato de que os roubos por lá já vinham em alta no primeiro semestre do ano passado. Foram 1.478 de janeiro a maio deste ano, ante 1.425 na comparação com o mesmo mês do ano passado.

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No fim de maio, um restaurante na Rua Cônego Eugênio Leite foi alvo de arrastão. O crime foi por volta das 21h, quando o comércio já estava, na maioria, fechado. Ao menos nove celulares foram levados pelo assaltante, que fugiu em seguida.

Entre os pontos de atenção, moradores ouvidos pelo Estadão destacam a Travessa Tim Maia, nas proximidades da Vila Madalena, e vias que cortam a Rua dos Pinheiros. “Ultimamente, o que tem sido mais frequente é a abordagem por motociclistas na região”, afirma o engenheiro Roberto Blatt, de 63 anos. Ele é tutor da Rua Mateus Grou no Programa Vigilância Solidária e participa com frequência das reuniões do Conseg Pinheiros.

Boa parte dos roubos na região é cometida por “falsos entregadores”, mas há também outras dinâmicas. Para facilitar os relatos das vítimas, Blatt conta que os moradores do bairro desenvolveram um formulário bem direto para as vítimas preencherem (o documento não substitui o BO). Assim, os tutores das ruas do bairro conseguem informar de forma mais precisa a PM.

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