Ruby Fofa: motoboy e cadela resgatada entregam encomendas por SP e ajudam cães de rua

“Eu tirei elas das ruas e ela me tirou de volta”, conta Miguel que há 7 anos faz entregas como motoboy na capital levando a Ruby Fofa no banco e transformou fama em projeto social para outros animais

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Por Stéphanie Araujo
Atualização:

É só balançar as chaves da moto que ela vem correndo serelepe e pula no banco da motocicleta do seu tutor. Essa é Ruby Fofa, uma vira-lata que foi resgatada em 2012 pelo motoboy Miguel Pereira, de 51 anos, e sua ex-namorada no Capão Redondo, bairro da periferia da capital paulista. Desde então, Ruby “adotou” Miguel como tutor e anda com ele para onde quer que vá, até mesmo no trabalho.

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Ruby roda a capital paulista sobre as duas rodas da moto de Miguel diariamente. Por conta disso, ela virou um grande sucesso nas redes sociais, onde Miguel publica vídeos das entregas e as reações dos clientes. São cerca de 134 mil seguidores no Instagram e 287,3 mil no Tik Tok, com diversos patrocinadores, artistas, protetores de animais e políticos acompanhando sua rotina.

Ruby fez tanto sucesso que ganhou até música no Spotify: “Somos Todos Rubis!”.

São sete anos da cadela “trabalhando” no delivery com Miguel e o sucesso foi tanto que Ruby já foi contratada e representou grandes marcas de delivery por aplicativo. Com mochila própria e um capacete, ela aguarda pacientemente nos portões e portarias das casas paulistas pelos clientes em suas entregas.

São cerca de 134 mil seguidores no Instagram e 287,3 mil no Tik Tok, com diversos patrocinadores, artistas, protetores de animais e políticos acompanhando sua rotina. Foto: Redes Sociais

A Ruby foi resgatada das ruas com um tumor, fez sessões de quimioterapia, ganhou amor e cuidado e se recuperou, enquanto Miguel ganhou uma eterna companheira, que pelo grande sucesso, também o tirou das ruas, visto que não depende mais totalmente da renda como entregador para viver.

Com isso em mente, Miguel percebeu que assim como Ruby e ele, outros cachorros e tutores poderiam ter suas vidas transformadas. Assim surgiu o “Projeto Ruby”.

A ideia começou despretensiosamente com a distribuição de pequenas porções de ração para cachorros de rua que encontrava durante as entregas na pandemia, e se transformou em uma grande rede após Miguel incentivar as pessoas a fazerem o mesmo nas redes e começar a receber diversas doações. “Eu cheguei a ter quinhentos quilos de ração aqui na sala de casa”.

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A quantidade ficou tão grande que Miguel passou a levar os sacos de ração para ONGs, protetores de animais e famílias que por estarem sem emprego não tinham condições de comprar rações para os pets, através da “Bolsa Ração Ruby Fofa”, como intitula Miguel.

Da doação de ração, que passou a ser patrocinada por marcas do produto e doadores das redes sociais, à divulgação de feiras de adoção e ponte para que muitos cãezinhos encontrem um lar, Miguel e Ruby formaram uma comunidade de amantes dos animais que cresceu sem freios.

Hoje também contam com a loja virtual Ruby Fofa, um site que vende alguns itens como canecas, camisetas, bonés para humanos e para cachorros com ilustrações da Ruby, que é de onde Miguel também consegue recursos para manter os projetos.

O próximo passo da dupla é ter sua história contada em um livro, que de acordo com Miguel já está sendo escrito, mas sem muitos spoilers por enquanto.

Um equipamento personalizado

Apesar das críticas que recebe constantemente nos comentários de suas publicações nas redes sociais sobre a segurança da cadela na motocicleta, Miguel diz que sempre se preocupou muito com os equipamentos para Ruby. Conforme o tempo passou, melhores condições foram sendo proporcionadas para isso.

“Já teve gente que falou assim ‘ah, vou denunciar isso que você faz com a Rubi, tomara que os grandes protetores vejam o que você está fazendo com ela’, mal sabem eles que viraram nossos amigos”, argumenta Miguel.

A preocupação com cadela veio antes das críticas, por conta de ocorrências anteriores. Bem no início, antes dos capacetes com óculos de proteção, um “corpo estranho” bateu no olho da Ruby, fazendo com que ela ficasse dez dias de repouso.

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Em outro momento, durante um acidente leve, Ruby pulou da moto e se salvou sem ferimentos antes da queda. Miguel adaptou os equipamentos com ajuda de alguns parceiros. No início, mandava personalizar um capacete humano em miniatura com viseira para que ela pudesse usar.

Conforme o tempo e o reconhecimento, materiais feitos especificamente para animais foram enviados por diferentes fabricantes.

A Ruby Fofa possui hoje equipamentos personalizados para andar de motocicleta pelas ruas de São Paulo. Foto: arquivo pessoal

Hoje, Ruby tem um capacete específico para o formato de sua cabeça, mochila de entrega personalizada para o seu corpo e até mesmo uma jaquetinha de motociclista. A moto também foi adaptada com o tanque revestido de couro, para que ela não escorregasse e assim ela tem viajado por São Paulo há 9 anos.

O resgate de Ruby e a vida de motoqueira

A cachorrinha de 10 anos foi resgatada com pouco mais de 1 ano de idade e passou um tempo com a ex-companheira de Miguel. Mas eles passaram tanto tempo juntos que no fim ela já havia escolhido com quem iria ficar.

A prova final da decisão foi a fuga até a casa de Miguel ainda em 2012, onde esperou sentada em seu portão até ser recebida. E assim começou uma longa história de amor e companheirismo.

Pereira já trabalhava como motoboy, e Ruby sempre ficava elétrica quando seu tutor saía para trabalhar, chegando várias vezes a subir na moto sozinha, pedindo por um passeio. Foi assim que Miguel resolveu levá-la para uma volta no quarteirão e encararam essa aventura sobre duas rodas.

“Eu nunca obriguei e não obrigo. O dia eu não sentir essa animação ou que ela não quiser ir, eu não levo. Inclusive eu não levo ela em dias de sol muito quente. E não levo ela em dia de frio. Eu só levo ela em tempos agradáveis” explica.

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“É uma briga muito grande quando eu tenho que deixar ele em casa, porque eu falo e ela fica muito triste, não come, não bebe, fica o tempo inteiro no portão me esperando”, conta Miguel emocionado, explicando que também fica menos produtivo quando ela não está junto.

Dos 10 anos de Ruby, 9 foram ao lado do seu tutor Miguel. Foto: arquivo pessoal

“Vou fazer 52 (anos), se eu for viver até os 80 anos, eu ainda tenho quase 30 anos de vida. Rubi tem no máximo 6, 7, 8 anos. Então eu vou viver intensamente essa história porque eu sei que eu vou passar muitos anos sem ela.”

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