A partir da união de diversos temperos, aromas e sabores, a chef Dandara Batista apresentou uma oficina gratuita de Culinária Africana no Clube Aristocrata, em São Paulo, na última semana. Cursos como esse, diz a especialista, são importantes por resgatar a cultura preta, além de retomar o papel dos ingredientes africanos como base da cozinha brasileira.
“Vejo muitas pessoas que chegam ao meu restaurante curiosos com o que vão encontrar e muitas se surpreendem com a proximidade com a comida brasileira. Os ingredientes são basicamente os mesmos, com formas de preparo diferentes”, explicou a chef, que é dona do restaurante Afro Culinária Ancestral, localizado no Rio de Janeiro.
Depois da oficina, o clube permaneceu aberto para o almoço com pratos tradicionais da culinária africana, como o Arroz Jollof com Camarão e Banana da Terra, Mafê de frango com Cuscuz Marroquino e Ndolé com Carne e Banana. O sucesso da oficina abre a possibilidade de novos eventos semelhantes em São Paulo. “Foi um evento muito especial, um público muito interessado em conhecer a culinária africana, muito receptivo, e que interagiu bastante fazendo perguntas e observando os preparos.”
Formada pela Escola Superior de Gastronomia da Cândido Mendes, a chef conta que decidiu se aprofundar nos estudos da culinária africana e conheceu diversos países, como Angola, São Tomé e Príncipe e Cabo Verde. Ela resume essa especialização como uma “conexão imediata com a comida e com a ancestralidade”.
O evento foi realizado no Aristocrata Clube, espaço localizado na zona sul e fundado pela elite negra paulistana que era impedida de se associar aos tradicionais clubes da cidade ainda nos anos 1960.
A oficina gastronômica faz parte de uma série de eventos realizados pelo Clube Aristocrata com o nome “Ari Novos Caminhos”. Popularmente conhecido como “Ari”, o clube funciona há mais de 60 anos como um espaço de lazer e valorização para a comunidade negra em São Paulo.
Milton Nascimento, Wilson Simonal, Jair Rodrigues, Elizeth Cardoso, Ray Charles, Josephine Baker, Sarah Vaughan e Muhammad Ali passaram pelo clube. Na maioria das vezes, os visitantes ilustres foram trazidos pelo cantor e fundador Agostinho dos Santos, que tinha alcançado sucesso internacional como intérprete de canções do filme Orfeu Negro, vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes em 1959.
O nome Aristocrata foi a maneira que os fundadores encontraram para enfrentar o racismo à época. Foi um espaço que ajudou a construir o orgulho negro dentro da comunidade. Os tempos de glória duraram 25 anos.
A partir de 1986, o clube começou a perder associados e, com eles, as receitas foram diminuindo. Com poucas atividades, o Aristocrata acabou despejado de seu próprio imóvel. Novos gestores negociaram o terreno com a Prefeitura de São Paulo, sanaram as dívidas do clube e compraram uma nova sede em 2015.
O sobrado num bairro de classe média é bastante diferente dos tempos gloriosos do clube. Mas, como diz um dos poucos sócios remanescentes, uma nova “semente” foi lançada.
* Este conteúdo foi produzido em parceria com o Aristocrata Clube, espaço sociocultural que procura valorizar a cultura e a identidade negra.
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