Santos vê tensão crescer após morte de PMs e suspeitos: ‘Não queria me mudar, mas estou assustado’

Nos bairros dos confrontos, como Jardim São Manoel e Bom Retiro, apreensão surge nas respostas curtas e esquivas; risco ao turismo também preocupa

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Foto do author Gonçalo Junior
Atualização:

Depois de 35 anos morando no bairro Jardim São Manoel, na periferia de Santos, o aposentado Aluízio Barbosa, de 69 anos, está pensando em se mudar. Na verdade, é a mulher, Maria do Socorro, que não tira a ideia da cabeça.

O motivo foi a morte do cabo da PM José Silveira dos Santos, quarta-feira, 7, na esquina da casa onde moram. O caso que fez o idoso cogitar a mudança foi o episódio mais recente de escalada de confrontos entre policiais e criminosos na Baixada Santista – três policiais e sete suspeitos mortos na região até terça-feira. A violência fez o governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) transferir o gabinete da Secretaria da Segurança Pública para a cidade do litoral.

Após cortejo em um caminhão do Corpo de Bombeiros, enterro do cabo Silveira no Mausoléu da PM no Cemitério Areia Branca causou grande comoção Foto: WERTHER SANTANA/ESTADÃO

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Nos bairros das ocorrências, como Jardim São Manoel e Bom Retiro, o medo e a apreensão dos moradores estão nas respostas curtas e nas esquivas. Tem gente que só acena a mão em sinal negativo no primeiro contato da reportagem. Outros, quando falam, pedem anonimato. É o caso de um morador que vive na região há oito anos. “A gente vive com medo”, diz o comerciante.

A onda de violência preocupa também quem depende do turismo na alta temporada e no auge do verão. Segundo dados da Secretaria de Segurança Pública, os roubos saltaram de 11.106 casos para 12.911 entre 2022 e o ano passado na Baixada Santista.

Especificamente em Santos, a insegurança tem prejudicado moradores, turistas e comerciantes. Foram 6.112 episódios de furtos reportados em 2023, ante 5.281 no período anterior, alta de 16%. “Algumas pessoas podem ficar com receio de vir para Santos e procurar outras cidades”, diz o comerciante Carlos Bezerra Nunes, que possui um quiosque de porções e bebidas no bairro do Gonzaga.

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A Operação Verão, a cargo da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, também tem apoio da prefeitura. A operação segue até 14 de fevereiro com várias ações de patrulhamento e monitoramento das vias e espaços públicos. Além disso, a região da orla tem o efetivo de 230 guardas municipais (em revezamento) – o maior da história da cidade, quase 30% superior aos anos anteriores.

Conjunto habitacional do bairro Jardim São Manoel, onde PM foi executado Foto: WERTHER SANTANA/ESTADÃO

O aposentado Aluízio relata que chegou a ouvir disparos na quarta-feira, mas demorou a entender que eram tiros. Foi a mulher que percebeu e o casal correu para a cozinha, nos fundos da casa.

Do lado de fora, o barulho era do confronto que ocorreu, segundo a polícia, em um conjunto residencial, na Rua João Carlos Azevedo. Os PMs, conforme o relato da polícia, receberam a denúncia da presença de homens armados no condomínio. Ainda segundo investigadores, o cabo morreu após ser baleado no patrulhamento.

Conforme a Polícia Civil, durante a ação, um suspeito pulou do 4º andar de um edifício e morreu. Outro policial e mais um suspeito também foram baleados e estão internados.

O destino do casal de idosos, nem que seja por um tempo, é o apartamento da filha, na Praia Grande, também litoral paulista. “Não queria me mudar, velho cria raiz, como dizem, mas estou assustado”, diz o aposentado.

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Nesta quinta-feira, 8, o enterro do cabo Silveira causou grande comoção em Santos. Após cortejo em um caminhão do Corpo de Bombeiros, o policial foi enterrado no Mausoléu da PM no Cemitério Areia Branca, com a presença de dezenas de colegas.

Cabo da PM José Silveira dos Santos morreu após ser atingido por um tiro no abdômen; ele deixou esposa e dois filhos Foto: WERTHER SANTANA/ESTADÃO

O gabinete da pasta estadual da Segurança foi levado para a sede do Comando de Policiamento do Interior Seis (CPI-6).

Os planos foram anunciados pelo secretário da pasta, Guilherme Derrite, como uma tentativa de interromper a escalada de confrontos entre policiais militares e criminosos, mas não se trata de nova fase da chamada Operação Escudo.

Derrite anunciou ainda uma recompensa de R$ 50 mil por informações sobre o responsável pela morte do policial das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) Samuel Wesley Cosmo no dia 2. Ele morreu durante patrulhamento de rotina na Praça José Lamacchia, no bairro Bom Retiro. Uma gravação de câmera corporal mostra o momento em que o soldado da Rota foi baleado no rosto.

O secretário também prevê o aumento do efetivo no litoral de São Paulo como reforço na Operação Verão. Sem precisar números, afirmou que a região será atendida por homens do 6.º Batalhão de Ações Especiais de Polícia (Baep) do ABC, e do 15.º Baep de Guarulhos.

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