Da orla de todas as praias, é possível avistar as ilhas de São Sebastião. A silhueta, entornada pelo sol, chama a atenção dos banhistas que visitam a região pela primeira vez e também aqueles que desejam explorar novas paisagens.
Por serem afastadas, suas águas são extremamente translúcidas - frequentemente exploradas por mergulhadores e entusiastas do snorkel por conta da rica fauna marinha -, e as areias costumam ser menos frequentadas pelos turistas.
Os passeios até elas costumam ocorrer todo dia, exceto quando o mar está turbulento. Mais abaixo, você encontra algumas das empresas que fazem pacotes de grupos e individuais.

As Ilhas
Um dos pontos mais concorridos em alto-mar é a “Ilha das Ilhas”. Vista de longe, ela parece três ilhas unidas, mas na verdade é uma só que conta com duas praias.
Em ambas, justamente pela grande presença de turistas, a sensação é de estar em uma praia normal. Até porque os quiosques dali têm essa estrutura: guarda-sol, cadeirinha, porções e bebidas. Mas atenção: os preços são bem salgados. Assim, os visitantes costumam trazer um cooler cheio para aproveitar o passeio.
O lado esquerdo, que também constitui a maior parte da ilha, costuma ficar mais lotado. Por ali, é possível ficar na barraca da Maria ou escolher uma sombra nas árvores da ilha, próximo a uma espécie de rio que se forma no meio da praia.
Para chegar ao lado direito, é possível nadar ou fazer a trilha no caminho entre as pedras, com muito cuidado. Lá, o Isaac das Ilhas tem um espaço incrível sob uma grande árvore com redes, cadeiras de madeira e aluguel de caiaque e stand up paddle.
Essa é a única parada do nosso roteiro na qual há a opção de sair diretamente na areia da praia. O resto, pelo fato de as praias serem curtas e terem muitas pedras, a saída da embarcação exige que a pessoa se prepare para entrar no mar e enfrentar as ondas e rochas.
Ilha dos Gatos
Apesar do nome, a ilha nunca teve gatos. A origem vem de uma pedra, na ponta esquerda do local, que se assemelha a um gato deitado. Mas essa é a menor das “histórias” da ilha.
Dizem que a região abrigaria uma casa do ex-vice-presidente americano, Nelson Rockefeller.
Mas, segundo a imprensa da época a ilha foi arrendada em nome de um de seus primos, da família Aldrich. O arquiteto que trabalhava para os Rockfeller, Julian Penrose, construiu duas casas de pedra na ilha: uma na parte baixa, para um caseiro, e outra maior, no topo.
Segundo os caiçaras, a casa grande teria sido visitada, então, por Rockfeller, mas não há registros do ocorrido. Da mansão, só restam só ruínas. Mas o imóvel próximo à praia continua em pé e com um morador que vive ali há 42 anos: Caio Rodrigues Rego, de 72 anos.

“Vim pra cá em 1982, junto com minha mulher e três filhos. Fui chamado como caseiro e adorei. Só que cheguei em janeiro, no verão, e levava minha filha para Barra do Una, de barco, para estudar, mas não sabia que no inverno não dava para navegar. Como ela repetiu por faltas, no outro ano as crianças e minha mulher foram para terra”, conta.
O “guardião da ilha” continuou longe do continente, se separou, mas logo encontrou um novo amor que divide os 75 mil metros quadrados de terra com ele. Ficaram juntos por 15 anos até ele ficar viúvo seis anos atrás. Desde então, vive sozinho, apenas com a companhia do cachorro Pancho.
“Planto coco, faço a manutenção da casa, pesco meu peixe. Sempre tem coisa pra fazer”, relata. “O que é viável é você parar o barco, o turista dar um mergulho e pronto. Não descer aqui, entrar na minha casa, fazer questionário comigo, sabe”, afirma Rego. “Virei ponto turístico; é um absurdo.”
A faixa de areia tem pouco mais de 50 metros de extensão - o resto é pedra. E, pela curiosidade, as várias pessoas que visitam a ilha querem saber quem mora ali. “Costumamos fazer uma parada de uns 20 minutos, sempre orientando que não é para ir até a casa do Caio, nem incomodá-lo”, conta Isadora Dias, responsável pela empresa Ilha do Gato Trips.
A Ilha pertence à Secretaria de Patrimônio da União, mas Rego conta com o Registro Imobiliário de Propriedade (RIP), que garante a posse e o direito de uso. Ele se sustenta com o Benefício de Prestação Continuada (BPC) A família, incluindo seus sete netos, também o visitam com frequência.
Ilha do Montão de Trigo
O grande charme do Montão de Trigo são suas piscinas naturais formada entre as várias pedras que contornam os 1,3km² de ilha. A água, transparente, conta com rica fauna marinha que pode ser visitada por quem chega até lá.
Há quem prefira somente ver a atração turística e ir embora ou talvez pedir um dos “deliverys” dos dois quiosques da ponta da ilha. Mas quem se arrisca a escalar a escada ou as pedras do local se surpreende com uma comunidade que vive ali há mais de 170 anos.
Geração após geração, os “monteiros” (como chamam os que nascem e vivem ali) zelam pela ilha e têm autorização de uso sustentável do terreno - no papel, ela pertence à União.
Há quem diga que os primeiros moradores do Montão foram piratas. Mas, hoje, para morar ali é preciso ter nascido naquelas terras ou ter casado com alguém que nasceu. E esses moradores não podem vender suas casas. Apenas usá-las com a garantia de que ninguém poderá tirá-los de lá.
“Não troco isso daqui por nada”, diz o pescador Wanderley Olegario, de 53 anos. Ao andar com a nossa equipe pela ilha, ele aponta a casa de tios, primas, irmãs. Lá, o casamento consanguíneo é bastante comum.

“O que mais gosto daqui é o silêncio. Em outros lugares, você só vê tragédias, só vê roubo. Aqui você sai, deixa a casa aberta e está tudo bem”, diz Olegario. Já para Ana Heloisa Silva, de cinco anos, o continente é bem melhor. “Tem muito mais coisa pra fazer.”
Ela é uma das seis crianças que frequentam a escola pública do local, onde todos dividem a mesma professora, que vem do continente na segunda e volta só na sexta. A educação vai até o fim ensino fundamental.
Segundo os moradores, 22 famílias vivem ali. As casas, em sua maioria, são feitas de material reciclado ao invés de madeira, para evitar a infestação de cupim. Toda a energia da ilha vem de placas solares, incluindo a escola e a igreja.
Para quem quer dormir na ilha, a Pousada da Nathy oferece quartos, com diárias em torno de R$ 150 por pessoa, incluindo café da manhã. O maior luxo é ir dormir com o céu completamente estrelado e acordar com o barulho do mar.
Para quem apenas quer visitar, vale a pena pagar a taxa de R$20 por pessoa para subir no ponto mais alto da ilha, cerca de 300 metros acima do nível do mar. O nome da ilha, aliás, é pelo seu formato cônico, que lembra um monte de trigo. Para chegar lá, é preciso caminhar cerca de 40 minutos e, se preferir, contratar um guia por R$ 50.
Calhetas
Apesar de não ser ilha, seu acesso é limitado a barcos ou por meio de uma trilha leve de 15 minutos, que começa na rodovia (no km 144 da BR-101), entre as praias de Toque-Toque Pequeno e Toque-Toque Grande. Mas, pelo fato de o caminho ter início dentro de uma propriedade particular, só pedestres são autorizados.
Assim, o jeito é ou ir de ônibus e seguir à pé. Muitos estacionam o carro em recuos da rodovia, mas isso é proibido e pode resultar em multa (o que acontece muito). Na dúvida, estacione mais longe e siga a pé até a praia.
Se for de barco, a preocupação é menor: na reta final, serão só alguns metros para chegar nesse paraíso de areia branca e água cristalina. Durante nossa visita, vimos uma família de tartarugas bem perto da praia e é comum avistar golfinhos pelo caminho até lá.
Não deixe também de conhecer o mirante. Basta seguir um caminho de terra de poucos minutos para chegar ao ponto mais alto da praia. De lá, é possível fazer uma ótima foto com os coqueiros e a praia de Calhetas de fundo e também ver a praia de Toque-Toque Grande, logo ao lado.
Empresas
- Ilha do Gato Trips
Saída da praia de Boiçucanga
Preços a partir de R$ 160 por pessoa (para três ilhas: Das Couves, As Ilhas e Dos Gatos).
Duas saídas diárias, às 9h e às 14h. Mínimo de saída 4 pessoas ou pagamento equivalente.
Diferencial: guias locais que conhecem a região, todas as histórias, fauna e cultura local. Máscara e snorkel disponível.
Mais informações: www.instagram.com/ilhadogatotrips/
- Montão do Trigo Tour
Saída da praia de Barra do Una
Preços a partir de R$ 200 por pessoa (para três ilhas).
Duas saídas diárias, às 9h e às 14h. Mínimo de saída 4 pessoas ou pagamento equivalente.
Diferencial: Família de monteiros, que conhecem muito a região. Oferece passeios exclusivos e também opções de somente uma ilha.
Mais informações: www.instagram.com/montaodotrigotour/
- René Garopa
Saída de Boiçucanga e Camburi
Passeios exclusivos e compartilhados.
Preços a partir de R$ 180 por pessoa (para três ilhas). Mínimo duas pessoas.
Diferencial: caiçara, nascido em Camburi, conhece vários segredos da região e gosta de aproveitar junto com os visitantes, porisso os passeios duram quase todo o dia.
Mais informações: www.instagram.com/rene_dive/
- Quiosque das Ilhas - Isaac das Ilhas