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Seca e calor levam cidades de SP a racionar água; veja quais

Incêndios no interior do Estado agravam a situação, elevando o consumo no combate às chamas

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Foto do author José Maria Tomazela

A seca e o calor já levam municípios a adotar ou prever racionamento de água no interior de São Paulo. Cidades importantes como Bauru e São José do Rio Preto enfrentam escassez de água para abastecimento. Em Bauru e outras cidades o rodízio já está em vigor. Os incêndios agravam a situação, elevando o consumo de água, usada para a limpeza da fuligem nas casas e no combate às chamas.

Ao menos 53 municípios do Estado estão em emergência devido à seca e aos incêndios, segundo a Defesa Civil estadual. No final de julho, eram dez cidades nessa condição.

Com a previsão de atraso na temporada de chuvas este ano, as prefeituras realizam campanhas e impõem multas a quem desperdiça água.

O Rio Piracicaba, que abastece cidades como Americana e Piracicaba, está com vazão em apenas um terço da média de setembro. A cachoeira virou fios de água entre as pedras. Foto: CCS/Prefeitura de Piracicaba

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Nesta quarta-feira, 11, o município de Atibaia decretou estado de emergência hídrica e adotou o rodízio devido ao risco de desabastecimento. A cidade foi dividida em três setores que recebem água em dias alternados.

O decreto municipal permite aplicar multas a quem lava carros, calçadas ou rega jardins. Os moradores foram convocados a denunciar o desperdício. “A medida pretende mitigar os efeitos das secas de forma a manter o sistema de abastecimento de água com o menor prejuízo possível à população”, diz o decreto.

Em Rio Preto, os 501 mil habitantes estão com risco de racionamento. De janeiro até esta quinta choveu 47% menos do que no mesmo período do ano passado. O município está há 153 dias sem chuva expressiva. Em agosto, sob a influência dos incêndios florestais, o consumo aumentou 3,09% em relação a julho. Na Represa Municipal, onde é feita a captação, o Lago 1 está com 2 cm acima do vertedouro e o lago 2, com 4 cm.

O sistema opera no limite. “Devido à gravidade da situação, o Semae – Serviço Municipal Autônomo de Água e Esgoto – precisou reduzir a captação de água na Represa Municipal. O volume médio de captação na represa é de 450 l/s (litros por segundo). Neste momento, a ETA está captando menos da metade, 220 l/s. Esse é o limite da captação”, informou a prefeitura.

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Para compensar, foi aumentada a captação dos poços de 16 para 22 horas, também no limite de operação. Segundo o Semae, caso não chova nos próximos dias ou diminua o consumo, o racionamento será inevitável. Na próxima terça-feira, 17, o comitê se reunirá para decidir sobre o racionamento. Conforme o superintendente do Semae, Nicanor Batista Jr., a autarquia realiza campanhas de conscientização e pedindo à população que economize água.

A falta de chuvas reduziu o nível da Represa Municipal e já coloca Rio Preto sob risco de racionamento. Foto: Semae/Rio Preto

O departamento de água de Bauru, cidade de 380 mil habitantes, iniciou, na segunda-feira, 9, uma série de manobras na rede para se adequar à queda drástica no nível do reservatório de captação das águas do rio Batalha. Nesta quarta-feira, o nível do rio atingiu 1 metro, mais de três vezes abaixo do ideal, que é de 3,20 m. Vários bairros passaram a receber água de poços profundos para equilibrar a distribuição do líquido. O racionamento teve início no dia 9 de maio e atualmente os bairros ficam 24 horas com água e 48 sem.

Em Vinhedo, o rodízio também perdura desde maio e o município passou a usar água de poços artesianos particulares. A multa para quem desperdiça água é de R$ 663, valor que dobra em caso de reincidência. Moradores reclamam que recebem água suja na retomada do fornecimento, durante o rodízio. A Sanebavi, empresa de saneamento do município, disse que a água retorna com muita velocidade e leva resíduos que estavam presos na tubulação.

Lavar fuligem

O maior uso de água para limpeza da fuligem das queimadas também prejudica o abastecimento, segundo a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp). No final de agosto, a companhia chegou a emitir um alerta sobre o risco de falta de água nas cidades de Franca e Restinga devido ao alto uso de água para limpar a sujeira da fuligem.

Polícia usa aeronave para combater incêndio no Estado. Foto: Semil/Divulgação

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Em Sorocaba, o prefeito Rodrigo Manga (Republicanos) assinou decreto declarando emergência climática no município. A norma prevê multa de até R$ 150 mil para quem for flagrado colocando fogo em mato. Devido ao grande número de focos, o uso de água para abastecer caminhões-pipa do Corpo de Bombeiros e da Defesa Civil para combater os incêndios tem causado risco para o abastecimento urbano.

Os incêndios que se espalham pelo interior, além de elevar o consumo de água para a limpeza da fuligem e o combate às chamas, chegam a ter impacto direto no abastecimento. Em Marília, no domingo, 8, o fogo atingiu transformadores e equipamentos do sistema de captação do Rio do Peixe, que abastece 50% da cidade. A suspeita é de que uma queimada no terreno vizinho atingiu a estação. Até a manhã desta quinta havia falta pontual de água.

Cantareira em atenção

O Sistema Cantareira, que abastece grande parte da Região Metropolitana de São Paulo, está com 55% do volume útil total e opera na faixa de atenção, segundo o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden). A faixa de alerta começa quando o sistema opera abaixo de 40%.

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Com a falta de chuvas, os reservatórios vêm perdendo a reserva de água. No final de agosto, o volume útil total era de 57%, enquanto no fechamento de julho estava com 62%. No início de setembro de 2023, o Cantareira operava com 73% do volume útil.

Desde maio deste ano, o Sistema Cantareira é alimentado com a água proveniente da bacia do rio Paraíba do Sul, captada na Represa do Jaguari. Atualmente, são captados 7,5 metros cúbicos por segundo. Conforme o Cemaden, atualmente o sistema está classificado em situação de seca hidrológica variando de moderada a severa.

Além do Cantareira, a RMSP conta com outros seis sistemas de abastecimento, mas alguns estão em situação mais crítica. O Rio Claro tinha 26,9% do volume útil nesta quinta, enquanto a Represa de Guarapiranga estava com 40%. Na média, o volume armazenado total dos sistemas era de 52,8%, mas com operação negativa, ou seja, maior saída do que entrada de água.

O cenário afeta também bacias hidrográficas importantes para o abastecimento público. Nesta quinta, o rio Piracicaba, que abastece Piracicaba e Americana, estava com vazão 60% abaixo da média para o mês de setembro, segundo o Consórcio das Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ). Na área urbana de Piracicaba a situação é mais crítica, com vazão de apenas 18,3 mil litros por segundo, um terço da média histórica, de 55,3 mil litros.

O Serviço Municipal de Água e Esgoto (Semae) capta de 300 a 400 litros por segundo, mas a má qualidade da água causa queda na oxigenação e dificulta o tratamento. Isso ocorre, segundo a prefeitura, porque alguns municípios à montante de Piracicaba não tratam seus esgotos. O nível baixo tem causado mortandade de peixes. A cachoeira, atração turística da cidade, se transformou em fios de água entre as pedras.

Em Porto Ferreira, o rio Mogi Guaçu, no ponto de captação, está com 0,73 metro, quando o mínimo necessário para a captação é de 0,50 m. “Diante do cenário de atenção por conta do nível do manancial e, especialmente, com as altas temperaturas que têm gerado aumento no consumo de água, a concessionária destaca que o uso racional do recurso por parte da população é um importante aliado para atravessarmos o momento mais crítico da estiagem este ano”, disse a concessionária BKR, responsável pelo abastecimento.

Sem racionamento

A Sabesp informou que o Sistema Integrado Metropolitano opera nesta quinta-feira com 52,8% do volume total e se mantém na média dos últimos cinco anos, que ficou em 52%. “O sistema é composto por 7 mananciais, o que possibilita abastecer áreas diferentes da metrópole com mais de um sistema, conforme a necessidade”, disse.

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A companhia destacou os investimentos realizados desde a crise hídrica de 2014/15 para tornar o sistema mais robusto. “Não há racionamento neste momento nos 375 municípios operados pela Sabesp, mas, como mostram a severa estiagem e as altas temperaturas que afetam todo o país, a Companhia ressalta que o uso consciente da água é essencial em qualquer época”, afirmou, em nota.

Chuvas podem atrasar

Conforme o Cemaden, a previsão meteorológica indica um provável atraso no início da próxima estação chuvosa, o que resultará na prolongação do período de estiagem nos rios de todas as regiões do país, com exceção da região Sul.

O provável atraso é devido ao maior aquecimento do Oceano Atlântico na região da América Central, favorecendo chuvas mais intensas que o normal nessa região, o que acarreta diminuição das chuvas sobre a maior parte da América do Sul, incluindo o Brasil. Como resultado, a situação de seca deve persistir ou até se agravar na maioria das bacias hidrográficas do país.

Ainda segundo o Cemaden, as causas da seca na região Sudeste, que inclui São Paulo, resultam de uma combinação de fatores como o déficit de chuvas na estação passada devido a uma atuação mais intensa do fenômeno El Niño. Em consequência, não houve a recarga dos aquíferos, mantendo os rios abaixo dos níveis esperados.

Também houve antecipação da estação seca no estado, com chuvas escassas desde o mês de maio. Essa situação deixou o solo e a vegetação extremamente secos, criando um ambiente favorável para a propagação de grandes incêndios.

O órgão vinculado ao Ministério da Ciência Tecnologia e Inovações destaca situações que atuam no longo prazo, como as mudanças climáticas, que geram um aquecimento progressivo da atmosfera, produzindo sequências mais longas de dias sem chuva, e as mudanças no uso do solo, com a substituição de áreas de floresta por campos dedicados à agricultura e pecuária, o que deriva na redução da umidade ambiente e, consequentemente, das precipitações.

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