Sequestros em São Paulo: Veja bairros com mais casos no último ano

Número de registros de extorsão mediante sequestro atingiu maior patamar em 15 anos no Estado; capital reúne dois terços dos casos

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Atualização:

Os casos de sequestro voltaram à rotina de moradores de São Paulo. Como mostrou o Estadão nesta terça-feira, 17, de janeiro a setembro do ano passado, o número de registros de extorsão mediante sequestro atingiu o maior patamar em 15 anos no Estado, com uma ocorrência a cada dois dias. Os dados da Secretaria de Segurança Pública paulista foram obtidos via Lei de Acesso à Informação.

O atendimento a crimes desse tipo cresceu 75% na comparação com o mesmo período do ano anterior e avançou principalmente nas delegacias da Grande São Paulo. Epicentro da nova alta, a capital somou quase dois terços (98) das 165 ocorrências de extorsão mediante sequestro no Estado nos três primeiros trimestres.

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Os casos dispararam sobretudo na zona norte, que teve 29 registros – praticamente o triplo do que no mesmo período do ano anterior (10) – e lidera entre as regiões com mais ocorrências. Segundo o delegado Fábio Nelson Fernandes, novo chefe da Divisão Antissequestro da Polícia Civil, os cativeiros (há preferência por ruas escuras e de pouco movimento) estão mais concentrados nas regiões de Parada de Taipas e Brasilândia, na zona norte da cidade. A polícia ainda investiga os motivos para que essas áreas sejam as mais recorrentes.

Em anos anteriores, a zona sul encabeçava essa lista. Agora, é a segunda com mais ocorrências (26, ante 18 um ano antes). Houve avanço de casos de sequestro em todas as regiões da capital. De janeiro a setembro, foram 20 registros na região oeste (ante 9 no período anterior) e 17 na zona leste (ante 12). Na área central, em que esse tipo de crime é menos frequente, os casos foram de três para seis.

Casos de sequestro crescem em São Paulo; capital paulista reúne maior parte dos casos Foto: Felipe Rau/Estadão - 2018

Os sequestros ganharam novo perfil. A alta recente é associada à maior facilidade em desviar dinheiro via Pix, sistema lançado no fim de 2020 pelo Banco Central, e ao avanço do Golpe do Amor, em que vítimas são emboscadas após marcar encontros por aplicativo de namoro. Com isso, muda a dinâmica da geografia do crime e da seleção das vítimas: a escolha dos alvos passa a ser mais aleatória, diferentemente de antes, em que havia como foco raptar pessoas sabidamente mais ricas.

“Antigamente, a extorsão mediante sequestro era um crime em que o sujeito estudava a vítima. Hoje, nós temos a utilização de aplicativo afetivo para convidar alguém”, conta o delegado Fábio Nelson Fernandes. Segundo ele, o chamado Golpe do Amor, em que vítimas caem em emboscadas após marcar um encontro por app de namoro, corresponde a 90% dos casos investigados.

As quadrilhas, continua, também avaliaram a possibilidade de fazer transferências bancárias de forma descomplicada e em poucos instantes como algo a ser explorado. “Com esse advento do Pix, as quadrilhas viram uma oportunidade”, diz o delegado, que trabalha na divisão especializada desde 2001. Fernandes afirma não enxergar relação da nova alta de casos com atuação do Primeiro Comando da Capital (PCC).

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“Diferentemente do sequestro clássico, que traz mais riscos para o criminoso, esse sequestro em que as vítimas têm de fazer transferências bancárias pelos aplicativos é muito mais seguro e lucrativo (para o bandido)”, aponta Alan Fernandes, pesquisador associado ao Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Veja bairros com maior número de casos de janeiro a setembro de 2022

  • Parada de Taipas/Jaraguá (74º DP), zona norte – 7 casos
  • Jaguaré (93º DP), zona oeste – 6 casos
  • Vila Pereira Barreto/Pirituba (87º DP), zona norte – 4 casos
  • Itaim Paulista (50º DP), zona leste – 4 casos
  • Campos Elísios (3º DP), centro – 4 casos
  • Campo Limpo (37º DP), zona sul – 3 casos
  • Capão Redondo (47º DP), zona sul – 3 casos
  • Rio Pequeno (51º DP), zona oeste – 3 casos
  • Cidade Tiradentes (54º DP), zona leste – 3 casos
  • Jardins (78º DP), zone oeste – 3 casos
  • Ceasa (91º DP), zona oeste – 3 casos

Levando em conta a série histórica, apesar de somar poucas ocorrências no último ano (1), o 96º Distrito Policial (Monções) é o que mais acumulou números absolutos nos últimos 20 anos (179 casos). Já o 11º DP (Santo Amaro) se destaca por ter registrado casos de extorsão mediante sequestro em quase todos os anos da série histórica, com exceção de 2003.

Ao todo, 17 bairros de São Paulo somaram, no acumulado dos últimos dez anos (2013-2022), mais ocorrências do que o registrado na década anterior (2003-2012). Entre eles, destacam-se Vila Pereira Barreto/Pirituba (87º DP), Parada de Taipas/Jaraguá (74º DP) e Guaianases (44º DP).

Em contrapartida, Parque São Jorge (52º DP) e Vila Prudente (29º DP) não registraram nenhum caso de sequestro na última década, segundo os dados da Secretaria de Segurança Pública. Regiões de classe média alta e dentro do chamado centro expandido da cidade, como Pinheiros (14º DP), Perdizes (23º DP) e Lapa (7º DP), também tiveram queda no acumulado.


Diante do avanço de casos, a Divisão Antissequestro promoveu treinamentos no fim do ano passado para melhorar o atendimento a esse tipo de ocorrência nas delegacias da Grande São Paulo. Fernandes informou que a capacitação mira uma abordagem mais efetiva dos casos para, com a identificação de mais sequestradores, diminuir as ocorrências nos próximos meses. Outro objetivo é “desafogar” a Divisão Antissequestro, permitindo que o setor foque na desarticulação de quadrilhas.

Em entrevista ao Estadão na última semana, o novo secretário de Segurança Pública do Estado, o capitão Guilherme Derrite, afirmou que a pasta vai “ampliar parcerias com instituições bancárias para combater os ‘sequestros do Pix’”. “Vamos monitorar, no programa Muralha Paulista, por meio do Imei (código específico de cada celular), a localização exata do aparelho. E usar tecnologia”, disse.

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Em nota, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) afirmou que as instituições bancárias atuam em parceria com forças policiais e orientam que os clientes usem as funcionalidades dos aplicativos para ajustar os limites de acordo com as necessidades. “Cada instituição financeira tem sua própria política de análise e devolução, que é baseada em análises individuais, considerando as evidências apresentadas pelos clientes e informações das transações realizadas”, afirmou.

O Banco Central disse, também em nota, que todas as operações com o Pix são 100% rastreáveis, o que permite a identificação das contas recebedoras. “Os golpistas acabam utilizando o Pix dada a notoriedade do meio de pagamento, mas a sistemática de golpe já é antiga, ocorrendo nos instrumentos de transferência mais tradicionais, como TED, e em outros meios de pagamentos, como cartões de crédito e débito.” O BC afirma orientar as instituições e os usuários do Pix para que utilizem os mecanismos de segurança para mitigar os riscos.

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