Soldado da Rota morto no Guarujá tinha filho de 3 anos: ‘Não queria que ele fosse para PM’, diz avó

Patrick Bastos Reis, de 30 anos, foi morto na semana passada em patrulhamento na cidade do litoral paulista. Natural de Santa Maria, policial deixou cidade natal para perseguir sonho em SP

PUBLICIDADE

Foto do author José Maria Tomazela
Atualização:

O soldado das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) Patrick Bastos Reis, de 30 anos, assassinado durante patrulhamento no Guarujá, litoral de São Paulo, era considerado pela família “sobrevivente” da Boate Kiss, em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, onde nasceu. A avó dele disse que na noite do incêndio que matou 242 pessoas, Patrick desistiu de ir à Kiss com a namorada para ficar com ela.

PUBLICIDADE

Filho único, ele tinha 20 anos na época. “Depois que fiquei viúva, o Patrick passou a ficar muito em minha casa e, naquela noite, ele apareceu para ficar comigo”, contou ela, ainda abalada pela perda do neto.

Ela conta que tentou convencer o jovem, que já havia optado pela carreira policial, a não se mudar para São Paulo. “Eu não queria que ele fosse pois sabia que era uma cidade violenta, mas ele queria ir para combater os bandidos. Era o sonho dele, o que eu podia fazer?”, disse.

Foto: O policial Patrick Bastos Reis, da Rota, foi baleado e morreu durante patrulhamento no Guarujá. A PM fez publicação manifestando luto. Foto: Divulgação/Polícia Militar de São Paulo

Patrick nasceu e foi criado em Santa Maria. Depois, seus pais se mudaram para Porto Alegre e, quando voltaram para o interior gaúcho, mas ele estava sempre na casa dos avós. “Estava sempre aqui e, quando não vinha, o avô ia buscar o neto para ficar com a gente”, disse.

Quando tinha entre 6 e 7 anos, Patrick viu o avô morrer quando jogava uma partida de futebol. Segundo a avó, ele sempre acompanhava o avô nas peladas e ficava assistindo o jogo na beira do gramado. Naquele dia, o avô passou mal e acabou morrendo. O neto viu tudo e ficou muito abalado. “Ele precisou de acompanhamento médico”, lembra.

Quando Patrick completou 17 anos, ele deixou a casa dos familiares e seguiu para Quaraí, na fronteira com o Uruguai, para integrar o Núcleo de Preparação de Oficiais da Reserva (NPOR) do Exército. O jovem fez o curso durante um ano e voltou para Santa Maria.

Policiais realizam patrulhamento no Guarujá durante operação na cidade Foto: Taba Benedicto/Estadão

Nesse período, Patrick chegou a ingressar na Universidade Federal de Santa Maria para cursar educação física. No entanto, depois que passou no concurso da Escola de Sargento das Armas (Esa) decidiu se mudar para a capital paulista. “O sonho dele era ser policial da Rota. Ele passou no concurso e foi embora para São Paulo”, disse a avó.

Publicidade

Na capital, o jovem construiu uma nova vida. O filho de 3 anos é fruto de seu relacionamento com uma policial militar, mas os dois se separaram. Em dezembro de 2022, Patrick se casou com outra policial da PM. Desde o ano passado, os pais dele se mudaram para São Paulo para ficarem perto do filho.

Em vídeo que enviou para seus familiares e amigos em Santa Maria, a mãe de Patrick agradece as mensagens de apoio e carinho que tem recebido.

“Ainda não conseguimos responder. Realmente está muito difícil”, disse. A mãe lamentou não ter podido levar o corpo do filho para sepultar na terra natal. Ela mandou celebrar uma missa em memória de Patrick, nesta quarta-feira, 2.

No vídeo, ela conta que o marido tem passado mal e recebe apoio da Polícia Militar, e que o corpo do filho foi sepultado no cemitério da Rota, como seria o desejo dele. “Quero que vocês lembrem do Patrick sempre com muito carinho. Não é porque ele morreu, porque é meu filho, mas todo mundo sabe a pessoa que ele era, com suas qualidades, suas bravuras e seus defeitos, como todos nós, seres humanos.”

PUBLICIDADE

Ela lembrou que, quando via na televisão notícias envolvendo a morte de policiais, o filho pedia que ela mudasse de canal. “Ele dizia ‘mãe, não fique vendo isso’. Só que eu nunca nem imaginei esse outro lado da situação”, disse. A mãe contou que o filho fez o concurso para a PM sem os pais saberem. Quando veio para São Paulo, ele chegou a dormir na rodoviária, pois não tinha dinheiro para o hotel. Ele pedia aos guardas do local para olharem seus pertences.

Morte repercute em Santa Maria

Na cidade gaúcha, a morte de Patrick ainda repercute. O amigo Carlos Boaventura Barbosa, que estudou com ele no Colégio Manoel Ribas, conta que eles se encontravam nas baladas e que Patrick fazia sucesso com as garotas.

“Ele sempre cuidou bem da aparência, fazia ginástica e era um cara divertido, gente boa.” Ele perdeu contato com Patrick depois que ele se mudou para Quaraí. “Quando vi a notícia (da morte), nem acreditei que era ele. Jovem, esforçado, lutador. Dizem que só os bons morrem assim”, disse.

Publicidade

Em São Paulo, além da carreira na PM, o jovem se dedicava à outra paixão: o jiu jitsu. O soldado era o atual campeão do circuito paulista na categoria master peso médio e, um dia antes de ser assassinado, tinha recebido o terceiro grau da faixa azul. Até o final do ano, ele seria graduado para a faixa roxa. Seu sonho era ser campeão mundial na categoria.

Colegas da academia contam que Patrick era muito dedicado ao esporte e, algumas vezes, levava o filho para brincar com ele no tatame. A dona da academia, Fabiana Camargo, usou as redes sociais para homenagear o aluno.

“A dor nesse momento é gigante, um sentimento de revolta, de impotência. Obrigada por todos os momentos de parceria, por todas as risadas, por todas as conversas e brincadeiras dentro e fora do tatame, será difícil sem você aqui”, postou.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.