O secretário da Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, criou nesta segunda-feira, 11 uma força-tarefa para apurar a execução do empresário Antonio Vinicius Lopes Gritzbach três dias antes no Aeroporto de Guarulhos. Ele havia firmado delação para denunciar esquemas de lavagem de dinheiro do Primeiro Comando da Capital (PCC) e também falou sobre casos de corrupção policial.
O chefe do grupo será o número dois da Secretaria de Segurança Pública, o delegado Osvaldo Nico Gonçalves, secretário-executivo da pasta. A Polícia Federal também abriu inquérito para investigar o caso.
Segundo Derrite, os criminosos tinham a intenção de colocar fogo no veículo usado no assassinato de Gritzbach, mas não o fizeram. O Volkswagen Gol preto foi apreendido em Guarulhos, a poucos quilômetros do local do crime. “Criminosos estavam com luvas, esconderam rostos, mas foi colhido material genético no veiculo”, disse o secretário. Também foram apreendidos três fuzis e uma pistola.
Derrite confirmou que a conduta de quatro policiais militares que faziam a segurança de Gritzbach será investigada. “Celulares de PMs foram apreendidos e terão de explicar o que faziam. O simples fato de fazer serviço extracorporaçao não é permitido. E estavam fazendo isso para um criminoso. Não há que se falar só de transgressão disciplinar, mas de eventual conduta criminal dos policiais”, disse.
PMs de São Paulo na ativa são proibidos de fazer escolta, segurança particular ou qualquer outra atividade externa à corporação. O descumprimento é infração ao regimento interno da instituição e pode ser punido até com a expulsão.
Segundo Ivelson Salotto, advogado que teve Gritzbach como cliente, os quatro agentes são de “extrema confiança”. Ele agora faz a defesa desses policiais.
De acordo com Derrite, alguns fatos chamam a atenção, como três dos quatro policiais terem se atrasado para ir ao aeroporto. Eles alegaram uma pane elétrica em um dos carros, ficando em um posto de gasolina perto do aeroporto. “Fazia um mês que a Corregedoria da PM investigava a escolta do Gritzbach”, disse.
O inquérito policial-militar teve origem quando o PM da assessoria do Tribunal de Justiça viu a Amarok e a Trail Blazer que traziam o réu (Gritzbach) para depor no tribunal do júri e imaginou que eram policiais militares que o escoltavam.
O secretário afirmou ainda que vai investigar as denúncias de corrupção policial feitas por Gritzbach em sua delação e diz que vai afastar os policiais civis citados, sem citar quem e quantos são. O empresário havia citado em seus depoimentos agentes que recebiam propina para livrar membros do PCC da acusação de crimes.
“Nós não temos problema nenhuma em apurar e depurar desvios de conduta, seja na Polícia Militar ou na Polícia Civil. Ele (Gritzbach) fala de fatos de 2021 e 2022, antes de nossa chegada aqui (a gestão Tarcísio de Freitas começou em janeiro de 2023)”, completou o secretário.
O crime
Antonio Vinicius Lopes Gritzbach estava no centro de uma das maiores investigações já feitas sobre lavagem de dinheiro do Primeiro Comando da Capital (PCC) em São Paulo, como mostrou o Estadão. Ele era delator de uma investigação sobre lavagem de dinheiro da facção.
Uma dupla, com dois fuzis, realizou pelo menos 27 disparos, conforme a perícia. Gritzbach foi atingido por dez balas em várias partes do corpo, como cabeça, tórax e braços.
Gritzbach já havia sido alvo de um atentado na véspera do Natal de 2023, quando um tiro de fuzil foi disparado contra a janela do apartamento onde mora, no Tatuapé, na zona leste paulistana, mas o autor errou o alvo. Segundo o delator, entre os bandidos circulava a informação de que sua cabeça valia R$ 3 milhões.
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O delegado Osvaldo Nico Gonçalves explicou ao Estadão como vai atuar a força-tarefa criada para apurar a execução do empresário. “Nós vamos investigar até o fundo, doa a quem doer. Se tiver algum policial envolvido com a morte dele, também vai ser penalizado”, disse nesta segunda. O foco inicial da apuração, afirmou ele, será em descobrir quem mandou matar Gritzbach, o porquê mandou e quem executou o crime.
Vão integrar a força-tarefa, além de Gonçalves, o delegado Caetano Paulo Filho, diretor do Departamento de Inteligência da Polícia Civil (Dipol); a delegada Ivalda Aleixo, diretora do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), o coronel Pedro Luís de Sousa Lopes, chefe do setor de Inteligência da Polícia Militar; coronel Fábio Sérgio do Amaral, corregedor da Polícia Militar; e Karin Kawakami de Vicente, perita criminal da Polícia Científica.
Segundo Derrite, a força-tarefa ainda deve contar com a colaboração do Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP) e de autoridades federais, como a Polícia Federal. Representantes desses dois órgãos estiveram presentes, alguns virtualmente, em reunião realizada nesta segunda-feira para discutir a atuação da recém-criada força-tarefa.
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