Tarifa zero em SP: passageiros elogiam, mas cobram melhoria na rede de ônibus e metrô gratuito

Capital experimenta modelo da gratuidade pela 1ª vez, mas falta de adesão no transporte sobre trilhos motiva críticas; formato será adotado aos domingos e também nos próximos feriados

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Foto do author Renata Okumura
Atualização:

A cidade de São Paulo realiza neste domingo, 17, a primeira experiência de adoção da tarifa zero nos ônibus municipais. Os passageiros elogiaram a medida (boa parte ainda não sabia da estreia da gratuidade), mas cobraram melhorias na rede de transporte e também a extensão do passe livre para o metrô e os trens. Bandeira do prefeito Ricardo Nunes (MDB), que pretende se candidatar à reeleição em 2024, a iniciativa foi rechaçada pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).

Na estreia do programa, muitos passageiros não sabiam da gratuidade. Foto: Marcelo Chello/Estadão

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Para a aposentada Marilda Araújo, de 71 anos, que tem filhos e netos, a iniciativa permite que as famílias possam passear mais aos domingos. “Ótimo ter ônibus de graça aos domingos, mas acredito que não vai permanecer por muito tempo. Seria bom também ter metrô de graça”, diz. Além dos domingos, a gratuidade será novamente adotada nos próximos feriados: Natal, no Ano-Novo e no aniversário da cidade (25 de janeiro).

A assistente administrativa Thaís Machado, de 29 anos, saiu da zona leste nesta manhã em direção à região da 25 de Março, no centro. “Pode beneficiar não só quem sai para lazer, mas muitas pessoas que trabalham aos domingos”, afirma.

Ela teme, no entanto, que a tarifa dos ônibus seja reajustada em breve. Nesta semana, o governo do Estado anunciou que as passagens do Metrô e da CPTM serão reajustadas de R$ 4,40 para R$ 5. Nunes, por sua vez, afirmou que vai manter congelada a tarifa dos ônibus.

“Já é um absurdo você pagar R$ 4,40 para andar em pé e amassado. O valor já está alto e deveriam ser oferecidas melhores condições de transporte”, reclamou Thaís.

A comerciante Ângela do Vale não sabia da gratuidade e também cobrou melhorias durante a semana. “Tinha de ser acessível também durante a semana porque não tem horário, sempre chegamos atrasados”, relata.

A auxiliar de escritório Simone Oliveira, de 50 anos, elogiou a nova medida, mas também fez cobrança na mesma linha. “O transporte público precisa melhorar. Em horário de pico, entram mais pessoas dentro dos ônibus do que a sua capacidade”, reclama.

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O professor de Geografia Leilso Antônio, de 26 anos, mora na região de Sapopemba, zona leste, e já sabia da gratuidade. Veio de ônibus até o Terminal Parque Dom Pedro, no centro. De vai pegar uma linha que sobe a Avenida Brigadeiro Luís Antônio para chegar à Avenida Paulista, onde quer passear com seu primo Sebastião Fagner, de 29, que chegou de viagem.

“A ideia (da tarifa zero aos domingos) é boa, pois vai ajudar a população que precisa sair para passear ou trabalhar. Um dia que a pessoa quer passear com a família e pode economizar. Deveria ter integração gratuita também para Metrô e CPTM”, avalia Antônio.

A reportagem iniciou sua viagem no Terminal AE Carvalho, na zona leste, por volta das 8 horas da manhã. Durante o percurso, poucas pessoas embarcaram no coletivo, que tinha como destino o Terminal Parque Dom Pedro, na região central. Nos pontos de ônibus, a movimentação também estava tranquila em praticamente todo o trajeto.

Só na região do Brás, o veículo encheu mais, embora não ao ponto de todos os lugares serem ocupados. Muitas pessoas estavam retornando para casa, depois de fazer compras na região. Com exatamente uma hora, o ônibus chegou até o Terminal Parque Dom Pedro.

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No início da tarde, na Avenida Celso Garcia, na região do Brás, os pontos de ônibus se encontravam bastante cheios. Muitas pessoas aproveitaram o domingo para fazer compras.

Procurada para comentar sobre os pedidos de melhorias na rede de transporte, a SPTrans disse fiscalizar “o cumprimento das viagens 24 horas por dia e, quando constatado que a programação não está sendo cumprida, a concessionária responsável pela linha é autuada”.

Além disso, a SPTrans afirmou estar “em contato com as concessionárias para que a programação seja realizada conforme o programado”. Prometeu ainda uma fiscalização nas linhas cujos passageiros ouvidos pela reportagem apontaram problemas.

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Ao Estadão, a Secretaria de Transportes Metropolitanos do Estado informou que vai manter o posicionamento sobre não aderir à tarifa zero.

Na virada de sábado para domingo, Nunes fez o trajeto entre Santo Amaro e Moema, na zona sul, para marcar o início do programa e também ouviu cobrança dos passageiros, ele disse que a iniciativa será monitorada e eventuais ajustes serão implementados, caso necessário.

Prefeito Ricardo Nunes fez o trajeto entre Santo Amaro e Moema Foto: Taba Benedicto/Estadão

Passe livre divide especialistas

Parte dos especialistas ouvidos pelo Estadão afirma que a tarifa zero promove o direito à mobilidade e de mais inclusão social. Outra corrente vê na medida um uso ineficiente de dinheiro público, uma vez que gasta montante expressivo em uma política que não beneficia só os que mais precisam. Mesmo entre os favoráveis à medida, há ressalvas sobre o modelo adotado na capital paulista.

No mês passado, o município de São Caetano do Sul, no ABC Paulista, instituiu a gratuidade nas linhas de ônibus municipais. A isenção da tarifa é válida para as oito linhas geridas pela Viação Padre Eustáquio (Vipe), concessionária de transportes do município. Foi a terceira cidade da Grande São Paulo a instituir a tarifa zero nos ônibus municipais. A primeira foi Vargem Grande Paulista, em 2019. Um ano depois, foi a vez de Pirapora do Bom Jesus.

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