GUARAREMA - Ao menos 11 suspeitos morreram e dois foram presos durante tentativa de assalto a dois bancos, na madrugada desta quinta-feira, 4, em Guararema, na região metropolitana de São Paulo, em uma ação da polícia elogiada pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL) e o governador de SP João Doria (PSDB).
Os moradores foram acordados por explosões, intenso tiroteio e o barulho de sirenes. Ruas da cidade foram interditadas e comércio fechado após ataque dos criminosos.
Por volta das 3 horas da manhã, um grupo de 25 criminosos atacou as agências do Banco do Brasil e do Santander. Os criminosos explodiram os caixas eletrônicos do Banco do Brasil e atacaram a outra agência, mas não teriam conseguido levar o dinheiro.
O grupo era monitorado há pelo menos nove meses pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público de Sorocaba, interior de São Paulo. Com o monitoramento, os promotores conseguiram informações sobre possíveis ações dos criminosos e sabiam que o grupo tencionava assaltar bancos na região do Alto Tietê, onde fica Guararema.
A informação recebida pela polícia de que uma quadrilha faria um ataque em uma cidade da Grande São Paulo nesta madrugada não era precisa, informaram nesta tarde autoridades do governo do Estado. O relato vindo do Ministério Público dava conta que um bando, já investigado por outro crime similar, se preparava para agir nas imediações de Salesópolis, Mogi das Cruzes ou Guararema.
Segundo o comandante das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), tenente-coronel Mário Alves da Silva Filho, dez viaturas, com um efetivo total de 40 agentes, iniciou patrulhamento na região por volta das 23h30.
Foi somente após as primeiras explosões em Guararema que tropas especializadas compostas por agentes da Rota e do Comando e Operações Especiais (COE), dois dos batalhões de elite da Polícia Militar, se deslocaram para o local. A primeira viatura a chegar à área era da própria cidade e já foi recebida com tiros, segundo a Secretaria da Segurança Pública.
Ao chegar à cidade, a Rota disse ter se postado em rotas de fuga que poderiam ser usadas pelo bando. O primeiro confronto com a tropa ocorreu logo depois que policiais terminaram de revistar um veículo e o liberaram. Dois outros veículos blindados, ao ver a barreira montada, tentaram fugir, mas só um deles conseguiu. Do outro, que carregava sete suspeitos, partiram tiros em direção à polícia, que reagiu, matando todos no local.
"Quando viram as viaturas, deram cavalo de pau e começaram os disparos. A troca de tiros foi intensa nesse local", disse o tenente-coronel Silva Filho. Segundo ele, o tempo entre a explosão e o momento em que agentes da Rota e bandidos se encontraram foi de sete minutos.
O outro veículo que fugiu pegou uma estrada vicinal da região e parou após colidir durante perseguição. Nele, morreu outro suspeito, segundo narra a polícia. Um dos que escaparam desse carro fez uma família refém em um condomínio próximo e acabou também sendo morto após liberar as vítimas. Dois outros suspeitos foram localizados pelo Coe numa mata e também foram mortos após suposta troca de tiros.
Silva Filho disse que os assaltantes estavam fortemente armados. "Eles estavam completamente equipados, muito mais do que nós, com coletes táticos, bornais com cinco carregadores extra, fuzis todos M4, muito bem armados e muito bem treinados, todos com armas sobressalentes, botas táticas, calças táticas, camisas de uniforme militar, todos equipados para a guerra."
Grupo tinha carros blindados durante tentativa de assalto em Guararema
O poder de fogo da quadrilha, que foi encontrada com fuzis, escopetas, pistolas e coletes balísticos, e a sua decisão de não se render foram fatores apontados pela polícia para a ocorrência terminar com 11 mortos. “Eles estavam ali preparados para a guerra e não tinham intenção de se entregar. Eles queriam o enfrentamento e estavam preparados para isso”, disse Silva Filho. Dois suspeitos foram presos.
A investigação do caso deverá ser conduzida pelo Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), da Polícia Civil. Para o delegado Adalberto Henrique Barbosa, do Deic, não há dúvida de que por trás da quadrilha havia uma estrutura maior. “Era uma quadrilha especializada com ligações com organização criminosa. Não foi uma ação preparada da noite para o dia”, disse.
Questionado sobre ligações dos suspeitos com o PCC, o delegado disse que isso ainda será objeto de apuração.O coronel da reserva Álvaro Batista Camilo, secretário executivo da Polícia Militar, disse que criminosos têm se aproveitado da estrutura frágil de seguranças em cidades do interior para executarem os crimes, mas que a ação desta quinta representa um “desestímulo” para a criminalidade. “A função da polícia é proteger. Nossa opção nunca é pelo confronto, mas estamos prontos para agir e garantir a segurança”, disse.
Em entrevista à Rádio Eldorado, o Major Emerson Massera, porta-voz da Polícia Militar do Estado de São Paulo, destacou a ação ousada dos criminosos. "Eles estavam tão preparados que foram com carros blindados para praticar essa ação. Um estimativa de 25 criminosos. Realmente um preparo que chama atenção", explicou.
A cidade ainda está sendo vasculhada. Há agentes circulando nas áreas de mata e conversando com moradores de sítios. Também há helicópteros na região.
Segundo a Secretaria de Segurança Pública (SSP), foram apreendidos três veículos, 10 fuzis, 4 pistolas, 2 espingardas calibre 12, 2 revólveres, 8 bananas de dinamite e coletes balísticos.
De acordo com a Polícia Civil, a quadrilha era compartimentada. Cada grupo tinha uma função: um grupo era responsável pela chamada contenção, outro pela explosão dos cofres etc.
Confronto ocorre quando não há rendição, diz ex-comandante
Para o coronel da reserva Benedito Roberto Meira, ex-comandante da PM, a ação se justifica pelo poder de força dos criminosos e pela decisão de não se renderem.
“Temos hoje 240 mil presos no Sistema Carcerário. E por quê? Porque levantaram a mão para a polícia e se renderam. Se isso não acontece, vai ter confronto. Eles poderiam ter se rendido, mas decidiram atirar contra os policiais”, diz Meira.
O oficial acredita que o bando tenha se mobilizado a partir de informações privilegiadas sobre o funcionamento do banco que seria atacado. “Para eles, sair com R$ 30 mil não vale a pena. Eles só atacam, só montam a logística quando sabem que tem algo diferente, melhor, uma quantia considerável.
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