PUBLICIDADE

‘Tinha gente ferida, corpo chegando’, diz morador que ajudou vítimas em Barra do Sahy

Deslizamento soterrou mais de 50 casas no bairro durante madrugada de domingo, 19

PUBLICIDADE

Foto do author José Maria Tomazela
Atualização:

Nascido e criado na Barra do Sahy, em São Sebastião, o morador Graciano dos Santos Filho, de 44 anos, ajudou a socorrer as vítimas do deslizamento que soterrou mais de 50 casas na Vila Sahy, na madrugada de domingo, 19. “Quando o morro todo rodou, meu filho Cauã, de 18 anos, estava em Maresias com dois amigos. Como ficamos sem energia e internet, não conseguimos contato com ele. Ele estava ilhado lá e não sabíamos se estava bem. Eu e minha mulher ficamos preocupados e fomos até a estrada para ver se conseguíamos chegar até lá”, contou.

Ao chegar à vila, o casal se deparou com uma situação de caos. “Tinha mãe desesperada atrás de filho preso nos escombros, gente ferida, gente chorando, corpo chegando. Aí mudou nosso foco. Minha esposa é auxiliar técnica de enfermagem e vimos pessoas feridas sendo levadas para o Instituto Verdescola e ela foi ajudar. Aí chamamos também minha sobrinha, Natália, que é enfermeira. Foi quando vi corpos chegando em maca improvisada.” Até a manhã desta segunda, o governo de São Paulo já havia confirmado 36 mortos e 40 desaparecidos pelas chuvas no litoral paulista.

Rua alagada pela chuva em Maresias no final de semana de carnaval Foto: Jessica Aquino/Estadão

PUBLICIDADE

Graciano diz que contou ao menos cinco crianças já sem vida, cobertas de lama. “Os corpos eram trazidos para a beira da pista (da rodovia Rio-Santos) e eram levados de ambulância até o trevo da Barra do Sahy para esperar os helicópteros da Polícia Militar. Eu cheguei a contar 23 corpos até as 10 da noite (de domingo).”

Enquanto sua esposa, Amanda da Silva Santos, ajudava o médico do Verdescola nos atendimentos, Graciano corria pelas casas em busca de medicamentos e material de primeiros socorros. “Consegui até cilindros de oxigênio. Como tenho um carrinho de praia, peguei todo o estoque de refrigerante e água e levei para o Verdescola que, naquela altura, já tinha sido transformado em um mini-hospital. Minha esposa fez várias suturas em pessoas machucadas.”

Graciano só conseguiu contato com o filho à noite. Ele e os amigos estavam bem, mas até a manhã desta segunda-feira, 20, continuavam em Maresias, pois o acesso para Barra do Sahy ainda estava interditado. “Agora (9h30 de segunda-feira) estou voltando para o front. Tem muitas pessoas abrigadas na Escola Henrique Tavares de Jesus e estão precisando de colchões, água, comida, enfim, de tudo. Vamos continuar ajudando no que for possível”, disse.

Corrente humana

Em uma rede social, o prefeito de São Sebastião, Felipe Augusto, compartilhou um vídeo em que cidadãos fazem uma corrente humana, em meio à lama provocada pela chuva, para transportar crianças resgatadas.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.