Nascido e criado na Barra do Sahy, em São Sebastião, o morador Graciano dos Santos Filho, de 44 anos, ajudou a socorrer as vítimas do deslizamento que soterrou mais de 50 casas na Vila Sahy, na madrugada de domingo, 19. “Quando o morro todo rodou, meu filho Cauã, de 18 anos, estava em Maresias com dois amigos. Como ficamos sem energia e internet, não conseguimos contato com ele. Ele estava ilhado lá e não sabíamos se estava bem. Eu e minha mulher ficamos preocupados e fomos até a estrada para ver se conseguíamos chegar até lá”, contou.
Ao chegar à vila, o casal se deparou com uma situação de caos. “Tinha mãe desesperada atrás de filho preso nos escombros, gente ferida, gente chorando, corpo chegando. Aí mudou nosso foco. Minha esposa é auxiliar técnica de enfermagem e vimos pessoas feridas sendo levadas para o Instituto Verdescola e ela foi ajudar. Aí chamamos também minha sobrinha, Natália, que é enfermeira. Foi quando vi corpos chegando em maca improvisada.” Até a manhã desta segunda, o governo de São Paulo já havia confirmado 36 mortos e 40 desaparecidos pelas chuvas no litoral paulista.
Graciano diz que contou ao menos cinco crianças já sem vida, cobertas de lama. “Os corpos eram trazidos para a beira da pista (da rodovia Rio-Santos) e eram levados de ambulância até o trevo da Barra do Sahy para esperar os helicópteros da Polícia Militar. Eu cheguei a contar 23 corpos até as 10 da noite (de domingo).”
Enquanto sua esposa, Amanda da Silva Santos, ajudava o médico do Verdescola nos atendimentos, Graciano corria pelas casas em busca de medicamentos e material de primeiros socorros. “Consegui até cilindros de oxigênio. Como tenho um carrinho de praia, peguei todo o estoque de refrigerante e água e levei para o Verdescola que, naquela altura, já tinha sido transformado em um mini-hospital. Minha esposa fez várias suturas em pessoas machucadas.”
Graciano só conseguiu contato com o filho à noite. Ele e os amigos estavam bem, mas até a manhã desta segunda-feira, 20, continuavam em Maresias, pois o acesso para Barra do Sahy ainda estava interditado. “Agora (9h30 de segunda-feira) estou voltando para o front. Tem muitas pessoas abrigadas na Escola Henrique Tavares de Jesus e estão precisando de colchões, água, comida, enfim, de tudo. Vamos continuar ajudando no que for possível”, disse.
Corrente humana
Em uma rede social, o prefeito de São Sebastião, Felipe Augusto, compartilhou um vídeo em que cidadãos fazem uma corrente humana, em meio à lama provocada pela chuva, para transportar crianças resgatadas.
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