‘Tiraram nosso bebê do colo para fuzilar’: moradores do Guarujá relatam execuções em operação da PM

Governador afirma que conduta de policiais está sendo investigada e que responsáveis por possíveis excessos serão punidos

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Foto do author José Maria Tomazela
Atualização:

Entre os relatos de supostas torturas e execuções por parte dos agentes de segurança durante a Operação Escudo, desencadeada pelo governo de São Paulo após a morte de um soldado das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), na última quinta-feira, 27, no Guarujá, está o da esposa de Cleiton Barbosa Moura, de 24 anos, uma das 14 pessoas mortas pela Polícia Militar. Ela disse que o marido estava com o bebê do casal no colo quando foi executado pelos policiais, no Sítio Conceiçãozinha, onde a família mora.

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“Eles tiraram nosso bebê do colo para fuzilar ele. Outro policial segurou a criança, que tem dez meses, e depois entregou para nosso outro filho, de 13 anos”, relatou a mulher, que pediu para não ser identificada.

Segundo ela, Cleiton foi arrastado para um mangue e recebeu um tiro de fuzil. O ajudante de pedreiro já tinha sido preso por tráfico de drogas em 2020. Segundo ela, na época, o flagrante foi forjado. “Colocaram drogas dentro da mochila e, no registro, constou que ele estava com uma pistola.”

Movimentação de policiais militares no distrito de Vicente de Carvalho, no Guarujá; PM faz operação na cidade Foto: TABA BENEDICTO/ESTADÃO

A mulher morava com Cleiton e outros cinco filhos, sendo que apenas o bebê de 10 meses era filho dele. No domingo, 30, quando o marido foi morto, ela tinha saído para trabalhar e o deixou cuidando da criança.

Outro relato de suposto abuso da polícia foi dado pelo comerciante Douglas Brito, dono de uma barraca de praia no Guarujá. Segundo ele, o seu empregado Filipe do Nascimento, de 22 anos, foi morto na segunda-feira, 31. Ao Estadão, ele disse que o rapaz trabalhava com ele há quase três anos. “Paguei ele domingo e ontem mataram”, disse, nesta terça-feira, 1.º.

Segundo Brito, a mulher com quem Filipe vivia há mais de um ano, Regilane Pereira, contou que ele estava em casa e, por volta das 20h, a esposa pediu que ele fosse comprar macarrão em um supermercado próximo da casa. “Assim que ele saiu de casa, não deu dois minutos, ela ouviu barulho de tiro. Ela saiu e ainda visualizou a polícia pegando a bicicleta dele e jogando no mangue. Ela perguntou para a polícia sobre o rapaz da bicicleta, mostrou as fotos dele e eles falaram que as duas pessoas que estavam mortas ali não eram o Filipe, mas não deixaram ela ver.”

Outra dificuldade, segundo ele, foi conseguir a liberação do corpo, pois o rapaz morto só tem parentes em Alagoas e Pernambuco, seu Estado natal. “Eles alegam que, pelo fato de ele não ser casado no papel com a Regilane, não podem liberar o corpo. Então, se não viesse um parente de Alagoas, ele seria enterrado como indigente.” Na tarde desta terça-feira, foi assinado o termo de liberação do corpo de Filipe para o sepultamento.

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Procurada pelo Estadão sobre as mortes de Filipe do Nascimento e de Cleiton Barbosa de Moura durante a Operação Escudo, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) encaminhou áudio de uma entrevista coletiva dada nesta terça-feira, 1º, pelo secretário Guilherme Derrite na Baixada Santista na qual ele afirma que os abusos estão acontecendo por parte dos criminosos. “Não foi confirmado o mínimo abuso por parte dos policiais”, disse.

O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) afirmou nesta terça-feira, 1º, que a conduta dos policiais que atuam na Operação Escudo, na Baixada Santista, está sendo investigada e que os responsáveis por possíveis excessos serão punidos.

“Tudo está sendo investigado. Todas as condutas serão investigadas. Se houver excesso, se houver falhas, nós vamos punir os responsáveis”, disse o governador.

Para Tarcísio, a operação está sendo conduzida com “muita responsabilidade”. A ação da polícia na Baixada Santista deve continuar até o fim do mês.

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“O comandante-geral da Polícia entrou na comunidade junto com os policiais justamente para coibir excessos, para fazer com que a lei seja cumprida, para conduzir a operação. Estamos fazendo isso com muita responsabilidade”, disse. “Não existe combate ao crime sem efeito colateral.”

Ainda de acordo com o governador, as imagens das câmeras das fardas dos policiais serão anexadas ao processo de investigação que vem sendo feito pelo Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) e pela PM para entender se houve abuso por parte de policiais.

O Ministério Público do Estado de São Paulo anunciou na segunda-feira, 31, que vai investigar a atuação da Polícia Militar durante a Operação Escudo. O procurador-geral de Justiça, Mario Sarrubbo, designou três promotores da Baixada Santista para, ao lado do Grupo de Atuação Especial de Segurança Pública (Gaesp), instaurar procedimentos para analisar as ações da Polícia Militar no episódio.

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