SOROCABA – Um turista francês de 39 anos foi mordido por um tubarão quando nadava na Praia do Lamberto, em Ubatuba, litoral norte de São Paulo. O homem sofreu ferimentos profundos na perna e precisou de atendimento hospitalar. O caso aconteceu no dia 3 deste mês. O turista já retornou para a França, mas parentes relataram o episódio em redes sociais. Conforme o Instituto Argonauta, que confirmou a origem dos ferimentos, o caso é muito raro na região e não acontece há pelo menos 30 anos.
Segundo a postagem, o homem estava nadando com água pela cintura, próximo da faixa de areia da praia, que fica fora da área urbana, quando sentiu algo na perna direita. Ele não chegou a ver o tubarão, mas gritou pedindo ajuda. A vítima apresentava cortes profundos e longos, com até dez centímetros, acima do tornozelo.
O turista foi levado para Ubatuba e, em seguida, para um hospital de Caraguatatuba. Ele estava no Brasil para uma festa de casamento e aproveitou o feriado de Finados para ir para a praia.
O caso chegou ao Instituto Argonauta, que atua em conservação costeira, mas inicialmente os pesquisadores descartaram o ataque como sendo de tubarão. A hipótese aventada foi de ataque de moreia, peixe de corpo alongado, dotado de fortes dentes.
Após ouvir mais relatos da família e analisar novas imagens, o especialista Otto Bismark, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), confirmou a dentada do tubarão. Não foi possível, no entanto, identificar a espécie do animal.
Em nota, o instituto informou que, embora várias espécies de tubarão frequentem o litoral da região, o ataque a uma pessoa é um caso isolado e raro. “Não temos conhecimento de registros de acidentes envolvendo humanos nos últimos trinta anos. Trata-se, portanto, de uma situação isolada, que não deve causar preocupação na população”, informou.
Embora as chances de acontecerem aumentem devido à presença cada vez maior de pessoas no mar,os ataques de tubarões ainda são incidentes muito raros no litoral paulista, segundo o pesquisador Bismark, especialista em biologia de peixes marinhos. “Os tubarões vivem no mar e perto da costa, por isso é possível acontecer, mas é coisa rara. As chances aumentam quando há muitos banhistas no mar, como no verão”, disse.
De acordo com o especialista, várias espécies de tubarão vivem no litoral paulista e, sobretudo nesta época do ano, eles se aproximam das praias em perseguição a cardumes de peixes. “No caso de Ubatuba, momentos antes do incidente foi testemunhada a presença de peixes saltando na água”, disse. Ele contou que, há um mês, em Guarujá, surfistas filmavam peixes pulando quando um tubarão passou ao lado deles, provavelmente perseguindo o cardume. “As pessoas se assustam, mas ter tubarão no mar é normal. A menos que o ataque se repita em curto prazo, não há razão para ninguém mudar a rotina”, afirmou.
Após alargamento da faixa de areia, tubarões 'invadiram' praia de Balneário Camboriú (SC)
Uma quantidade maior de tubarões passou a frequentar, nos últimos meses, as praias do Balneário Camboriú, um dos principais destinos turísticos do verão brasileiro, no litoral norte de Santa Catarina, conforme noticiou o Estadão em outubro.
Desde agosto, pelo menos 16 espécimes de porte médio foram avistados na região. Um deles chegou a esbarrar em uma surfista. Especialistas acreditam que o aumento nas aparições desses animais pode estar relacionado com as obras de alargamento da faixa de areia da Praia Central do balneário. A prefeitura disse que a obra respeita todas as normas ambientais.
Conforme o pesquisador, o caso de Ubatuba não tem relação com o acontecido em Balneário Camboriú (SC). “Obras costeiras sempre trazem problemas para o ecossistema, mas depende de quanto elas podem impactar a praia. No Recife, sabemos que os ataques de tubarões podem ter relação com a construção de um grande porto no litoral sul. Em Ubatuba, pelo que sabemos, não havia obra.”
Bismark está analisando as imagens cedidas pelos parentes brasileiros do turista francês na tentativa de identificar a espécie do tubarão que feriu o banhista. “Pelo ângulo do ataque e as dimensões do ferimento a gente pode chegar à espécie. O que já dá para saber é que não foi um tubarão grande, mas de porte médio.” Reiterando que foi um acidente raro, ele lembrou que cada vez mais há pessoas invadindo o ambiente marinho em que vivem esses animais. “A gente pode ter acidentes esporádicos. É como alguém que entra na mata e pode ser picado por uma serpente”, comparou.
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