Moradores de distritos centrais da cidade, como Sé e República, preferem se deslocar de metrô. Quem mora na zona oeste, como Perdizes e Pinheiros, usa mais o carro. Em regiões periféricas, como Cidade Tiradentes, zona leste, e Parelheiros, na ponta da região sul, o meio de locomoção mais comum ainda é andar a pé.

A pesquisa Origem e Destino, ou Pesquisa OD, divulgada pelo Metrô de São Paulo na semana passada, permite identificar diferentes perfis de locomoção na composição das 35,6 milhões de viagens diárias na capital e região metropolitana.
O levantamento, um dos principais estudos sobre mobilidade urbana do País, ouviu 79 mil entrevistados de 39 municípios da Grande São Paulo para investigar o padrão de uso dos meios de transportes pela população. Para a pesquisa, uma viagem significa o deslocamento de um ponto a outro.
O mapa exibe as principais características de transporte de cada distrito de São Paulo. Quanto mais escuro o tom de azul, maior é o uso de determinado modal (metrô, trem, ônibus, aplicativo, bicicleta, a pé, entre outros).
Na maioria dos 96 distritos, o uso do automóvel é predominante, principalmente quando o próprio morador é o condutor do veículo. No Morumbi e na Vila Sônia, por exemplo, os índices se aproximam dos 40%.
O dado é reflexo direto de uma das principais conclusões da pesquisa. Pela primeira vez em cerca de duas décadas, moradores passaram a utilizar mais o transporte individual - como carro, moto, táxi e veículo aplicativo - do que o transporte coletivo - metrô, trem e ônibus. A diferença é de 51,2% a 48,8%. Esse cenário havia acontecido pela última vez na pesquisa de 2002.
Os automóveis que passaram a ser o modal mais utilizado, com 10,4 milhões de viagens (29,2% do total).
Falta articulação entre meios de transporte, diz especialista
Um dos principais aceleradores do transporte individual são os serviços por aplicativos, que se instalaram em São Paulo há cerca de uma década. O táxi (convencional e serviços por aplicativo, como Uber e 99) tinha 4,4% de participação no total motorizado no último levantamento, mas teve crescimento de 137,3%, impulsionado por essa modalidade. Esse segmento passou de 468 mil para 1,112 milhão de viagens em 2023.
O avanço do transporte individual é resultado da falta de articulação clara entre os vários modais na opinião do professor e arquiteto Valter Caldana.
- “Táxis e aplicativos não conversam com ônibus, que conversam menos do que deveriam com metrô e trens, e assim por diante”, diz o especialista da Universidade Presbiteriana Mackenize.
- “Essas características, somadas a uma política tarifária confusa, pouco prática e cara na percepção do cidadão, desestimula o uso do sistema como um todo e abre espaço para o transporte individual”, continua.
Algumas regiões têm sua própria dinâmica de locomoção. Moradores de Parada de Taipas realizam 238 mil viagens. A maior parte (90 mil ou 38%) é feita a pé, seguida de ônibus (22%). Os deslocamentos são feitos quase todos dentro do próprio município que pertence ao distrito do Jaraguá, zona norte da capital.
Andar a pé também é a principal forma de deslocamento em várias regiões da zona leste, como Itaim Paulista (46%), Guaianases (43%), Cidade Tirantes (48%)
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Pela primeira vez em quase seis décadas, houve redução no número de viagens diárias na capital e na região metropolitana, de acordo com a pesquisa. O número de viagens diárias caiu de 42 milhões em 2017, último levantamento, para 35,6 milhões em 2023. É uma perda de 6,3 milhões de deslocamentos, ou 15%.
Os motivos para a mudança ainda são investigados pelos pesquisadores, mas uma das principais explicações é a mudança de comportamento após a pandemia, com a adoção do trabalho remoto, híbrido e do ensino a distância.