Etarismo na universidade: Alunas que debocharam de colega com mais de 40 anos desistem de graduação

Unisagrado diz que desistência ocorreu durante o processo disciplinar instaurado após vídeo

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Foto do author Renata Okumura
Atualização:

Após a divulgação de vídeo em que três estudantes da Universidade Unisagrado, em Bauru, no interior de São Paulo, debocharam e ofenderam a caloura Patrícia Linares, de 44 anos, por ter mais de 40 anos, a instituição de ensino instaurou um processo disciplinar para apurar o caso. No entanto, segundo a própria entidade, em meio ao andamento da ação que avaliava a conduta das três universitárias, elas decidiram solicitar a desistência do curso de Biomedicina.

“Comunico que foi instaurado processo disciplinar e, durante, as três estudantes solicitaram a desistência do curso de Biomedicina. Dessa forma, o processo perdeu o objeto e, por isso, foi finalizado”, disse a instituição em nota.

Entenda o caso

Na última sexta-feira, 10, viralizou o vídeo em que as três calouras de Biomedicina da Universidade Unisagrado debocharam da colega, que também começou a estudar neste ano, por ela ser mais velha. Na ocasião, a universidade disse que o caso estava sendo tratado em âmbito institucional. O etarismo ou velhofobia corresponde à discriminação por idade contra indivíduos ou grupos etários com base em estereótipos.

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Na publicação, uma das jovens pergunta como fazer para “desmatricular” uma colega de classe. A segunda estudante que aparece no vídeo responde: “Ela tem 40 anos já”, disse. “Era para estar aposentada”, continua uma terceira aluna no vídeo. “Gente, 40 anos não pode mais fazer faculdade”, afirmou, com ironia, uma delas.

Após a repercussão do vídeo, a Universidade Unisagrado disse, em uma publicação nas redes sociais, que não compactua com qualquer tipo de discriminação. “Defendemos uma causa: A educação. Na verdade, somos a causa. Acreditamos que todos devem ter acesso à educação de qualidade, desde pequenos até quando cada um quiser, porque educação é isso: autonomia. Isso tudo faz sentido para nós”, afirmou.

Homenagem

Estudantes do quarto ano de Biomedicina se solidarizam com Patrícia. “Nós, do último ano de Biomedicina da USC, fomos até ela e a presenteamos com uma flor e chocolate! A Pati é um amor e só merece coisas boas dessa vida”, disse o grupo em publicação nas redes sociais.

Alunos do quarto ano de Biomedicina se solidarizam com a caloura Patrícia, vítima de etarismo. Foto: Reprodução/Twitter @bellaaamartins

Entenda o que é o etarismo

O etarismo é a discriminação por idade contra indivíduos ou grupos etários com base em estereótipos. A ofensa também é conhecida como idadismo ou ageísmo, ou seja, é o preconceito com relação à idade, definido pela Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) como aquele que “surge quando a idade é usada para categorizar e dividir as pessoas por atributos que causam danos, desvantagens ou injustiças, e minam a solidariedade intergeracional”, afirma Leonardo Pantaleão, especialista em Direito e Processo Penal, mestre em Direito das Relações Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

“Por se tratar de conduta que ofende a honra subjetiva, em especial sua autoestima, ou seja, a visão que ela tem sobre si mesma, pode-se cogitar o delito de injúria, que corresponde a uma das espécies de crime contra a honra tipificados no Código Penal brasileiro”, afirma o especialista em Direito e Processo Penal.

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Já a universidade não sofre consequências criminais, mas é passível, diz ele, a análise sobre aspectos indenizatórios, como por dano moral, por exemplo.

“Sabemos que não existe idade para que a vida aconteça. Mas, infelizmente, muitas pessoas de mais idade, acima dos 40 anos, desistem de realizar seus sonhos porque acreditam não terem mais tanto valor quanto um jovem. E, infelizmente, as poucas pessoas acima dos 40 anos que tentam realizar seus sonhos correm riscos de enfrentar discriminação, preconceito e injúrias, como no caso da estudante de uma universidade de Bauru”, disse Luana Ganzert, psicóloga especialista em emoções.

Como mostrou o Estadão, o número de calouros com 40 anos ou mais em universidades brasileiras quase triplicou nos últimos dez anos, entre 2012 e 2021, segundo dados do Censo da Educação Superior, do Ministério da Educação (MEC). A alta, de 171,1%, foi bem maior do que a variação do total de ingressantes: de 43,1%. Entre as causas, especialistas apontam, principalmente, a expansão dos cursos de ensino a distância (EAD) e a crise econômica, que obrigou muitos a tentarem recalcular a rota no mercado de trabalho.

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